A Associação Portuguesa de Energias Renováveis (APREN) lamentou esta quinta-feira a posição do Parlamento Europeu de classificar o nuclear e o gás como fontes de energia economicamente sustentáveis do ponto de vista ambiental, alertando que se trata de um “retrocesso climático”.

Organizações ambientalistas prometem ações contra inclusão de nuclear e gás nas ‘energias verdes’

Em comunicado, a associação “lamenta que o Parlamento Europeu tenha avançado com a aprovação da classificação da energia nuclear e do gás natural como sustentáveis, aceitando a proposta de taxonomia verde proposta pela Comissão Europeia”.

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“Esta tomada de posição representa um retrocesso climático que põe em causa os compromissos já assumidos para travar as alterações climáticas, nomeadamente as metas do Acordo de Paris, com vista a limitar o aquecimento global a um aumento de 1,5 graus centígrados acima dos valores pré-industriais“, sublinha o presidente da direção da APREN, Pedro Amaral Jorge, citado na mesma nota.

Na semana passada, o Parlamento Europeu validou a classificação de alguns projetos de gás natural e energia nuclear como “verdes”, ao rejeitar uma moção de objeção à polémica proposta da Comissão Europeia.

Dos 21 eurodeputados portugueses, 18 manifestaram-se contra a opção de integrar projetos de gás natural e energia nuclear na taxonomia europeia (sistema de classificação para investimentos ‘verdes’).

A APREN sublinha que, apesar de não produzir emissões de dióxido de carbono, a energia nuclear “gera resíduos radioativos que Portugal tem recusado historicamente“, causando um problema de gestão de resíduos, “além das óbvias questões de segurança operacional face a eventuais desastres que as alterações climáticas poderão potenciar”.

Já relativamente ao gás natural, a APREN defende que se trata de um “branqueamento” das emissões de carbono.

“O gás natural deve ser encarado como um combustível de transição, mas considerá-lo sustentável só contribuirá para o protelamento da urgente transição energética”, vincou a associação, acrescentando que se trata ainda de uma fonte de energia que torna a eletricidade mais cara, uma vez que não há pagamento de emissões, aumentando os custos ao consumidor.

Para a APREN, a invasão russa da Ucrânia veio mostrar a necessidade de se aprender a viver sem gás natural, apostando noutros gases renováveis, como o hidrogénio “verde” ou o metano sintético.

“Com este novo enquadramento será muito fácil que os países cumpram metas de energia verde, dando a ilusão de que estão no caminho da descarbonização, quando, na realidade, estão a afastar-se desse objetivo de uma forma que pode ser irreversível, como os cientistas têm alertado”, sublinha Pedro Amaral Jorge.

A associação considera ainda que a posição do Parlamento Europeu, contrariamente ao caminho que tinha sido definido para a União Europeia, contribui para que se perpetue “a dependência energética de combustíveis fósseis importados, ao invés de privilegiar a aposta em recursos endógenos explorados ‘in loco‘”, o que “terá impactos perniciosos em termos de financiamento comunitário”.

Caso não haja oposição, as novas regras da taxonomia “verde” entram em vigor em 2023.