Quando não chega propriamente com grandes marcas, faz sempre excelentes resultados. Quando existem essas mesmas marcas de qualificação ao nível das melhores, consegue superar-se ainda mais – e foi isso que aconteceu nos Jogos Olímpicos de Tóquio, há quase um ano, quando passou à final do triplo salto na primeira tentativa com 14,54, iniciou a prova decisiva com 14,91 e ainda estabeleceu um novo recorde nacional uns minutos depois ao saltar pela primeira vez acima dos 15 metros (15,01). Agora, o contexto com que chegava aos Mundiais ao ar Livre era diferente mas nem por isso a ambição dos resultados mudava.

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“Não tenho essa pressão comigo, ser vice-campeã numa prova [Jogos Olímpicos] não implica que deva ser vice na outra. Cada prova é diferente e eu estou aqui nestes Campeonatos do Mundo imbuída no espírito competitivo, com a motivação de fazer mais e melhor. A minha melhor classificação em Mundiais foi em 2019, com um sexto lugar, e fazer melhor é sempre a minha ambição”, começou por explicar a saltadora de 33 anos em Eugene, nos EUA (país onde esteve a estudar), em declarações à agência Lusa.

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“A competição este ano será muito forte, há muitas competidoras que já conseguiram grandes resultados e, por isso, a qualificação será o mais importante e também o mais difícil. Não é uma marca de qualificação difícil, por isso dá esperança a muitas atletas. Só temos três saltos e espero entrar logo com essa marca para poder depois estar a focar-me apenas na final. A concorrência torna tudo mais difícil e ao mesmo tempo mais competitivo e motivador. Já aqui estive e foi aqui que pela primeira vez passei os 14 metros. Esta é uma cidade que respira atletismo, daí o cognome de ‘track town‘ [cidade do atletismo]. É magnífico. O ambiente universitário e o resto da população percebem e conhecem a modalidade. Incentiva imenso os atletas. Estive no estádio antigo, este foi todo renovado, mas ainda puxa mais por nós. Dá vontade de ali competir e fazer o nosso melhor”, acrescentou a atleta portuguesa antes da qualificação.

Além das dezenas de títulos individuais e coletivos pelo Sporting (nacionais e europeus), Patrícia Mamona foi também escrevendo história pela Seleção nas principais competições entre uma prata nos Jogos, um ouro e uma prata em Europeus ao Ar Livre e mais um ouro e uma prata nos Europeus em Pista Coberta. Faltavam apenas os Mundiais, depois de várias provas onde foi sondando os lugares de pódio sem sucesso. Agora, está novamente nas decisões pela medalha que lhe falta mas sem conseguir “o” salto.

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Na primeira tentativa, o grupo B teve apenas uma qualificada direta (a cubana Yulimar Rojas, campeã olímpica e recordista mundial que sem grande esforço fez 14,73) mas no grupo A, de Patrícia Mamona, conseguiram logo o apuramento a ucraniana Maryna Bekh-Romanchuk (14,54), a finlandesa Kristiina Mäkelä (14,49, recorde pessoal) e a jamaicana Shanieka Ricketts (14,46). A portuguesa, nesta edição a única representante nacional na prova, começou o concurso com um modesto 14,05 antes de fazer uma segunda tentativa nula que a colocava sob pressão por ocupar a 14.ª posição da geral fora dos lugares de acesso à final. O terceiro salto acabou com as dúvidas com 14,32, conseguindo um lugar entre as 12 melhores mas sem o aguardado apuramento direto apesar de chegar apenas com o 14.º registo do ano.

“Nas condições em que estava no aquecimento, pensei que ia ser pior. Ter conseguido passar para a final deu-me mais força, porque se assim consigo saltar e chegar à final, é mais um exemplo que consigo superar o que me apareça à frente. O segundo salto foi uma reviravolta mental. Não me estava a sentir muito bem e fui eu a tentar lutar contra mim e dizer que era capaz. Embora tendo sido nulo, foi um bom salto, e fiquei a saber que só tinha de acertar na tábua e conseguir a marca de qualificação. Não consegui mas passei à final e isso é que interessa”, comentou no final em declarações à agência Lusa.