Martim Costa a ser o melhor no início do jogo, André Sousa a fazer a diferença de primeira linha quando a equipa mais precisava, Ricardo Brandão a conseguir golos fantásticos como pivô no meio dos gigantes da defesa, Diogo Rêma com uma exibição de sonho a segurar a Seleção com intervenções fantásticas na baliza, Pedro Oliveira a assumir o risco, Francisco Costa a terminar um dos jogos mais apagados com o decisivo livre de sete metros a quatro segundos do final. A meia-final do Campeonato da Europa Sub-20 frente à Suécia foi um dos encontros mais emocionantes da competição, com Portugal a carimbar a sua segunda presença de sempre no jogo decisivo 12 anos depois. Mas houve mais “heróis” nessa partida.

Metade da história está feita: Portugal vence Suécia com golo nos últimos segundos e chega pela segunda vez à final do Europeu Sub-20

Se os voluntários no Centro de Desportos e Congressos de Matosinhos tiveram trabalho extra na noite de sexta-feira (por si só complicada pelo calor que se fazia sentir no pavilhão), parte dele esteve ligado a todo o trabalho defensivo de Gabriel Cavalcanti ou Nilton Melo, autênticos esteios na defesa nacional. Cavalcanti, que faz parte de uma nova geração de desportistas que tem o irmão Alexandre no andebol, a irmã Amanda no voleibol e o primo Rafael no voleibol (o pai Marcelo e o tio Maurício chegaram do Brasil nos anos 90, foram tricampeões nacionais de voleibol pelo Sporting, ficando depois em Portugal), foi mais uma vez um guerreiro a tentar travar as torres nórdicas, ficando como melhor exemplo de todo o trabalho muitas vezes não visível que é feito numa equipa e que seria determinante na final com a Espanha.

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“Vai ser um jogo de alta intensidade, com muito coração, muito querer e não tenho dúvidas que nós vamos apresentar esses argumentos, assim como a Espanha, até porque essas são características do jogo espanhol: a intensidade que colocam e o coração com que jogam. Nós, com a ajuda do público, vamos dificultar ao máximo a tarefa do adversário e vencer”, destacara Carlos Martingo antes de uma decisão que recolocava em campo um duelo ibérico que já se tinha registado ainda na primeira fase da competição, com Portugal a vencer então por um golo a cinco segundos do final uma partida sempre equilibrada (36-35).

Costa e Costa, associação ilimitada: Portugal vence Espanha a cinco segundos do final e fica em vantagem no Europeu Sub-20

Em todo o seu currículo, Portugal conseguira apenas um só título e há 30 anos, quando a Seleção Sub-18 com nomes como Eduardo Filipe, Sérgio Morgado, Miguel Fernandes ou Miguel Póvoas ganhou o Europeu da categoria, alcançando ainda a medalha de prata em 1994 também no Europeu e a de bronze no Mundial Sub-21 de 1995. Em relação aos Sub-20, e além da final perdida com a Dinamarca em 2010 com nomes como Rui Silva ou Gilberto Duarte, havia ainda um quarto lugar na última edição, em 2018. Agora, a meta passava por fazer mais história na categoria à procura também de prolongar todo o sucesso que a equipa A tem conseguido nos últimos anos, com as melhores classificações de sempre no Europeu (sexto lugar) e no Mundial (décima posição) além de uma inédita qualificação para os Jogos Olímpicos de Tóquio. No entanto, a Espanha acabou por servir uma vingança fria, ganhando o título em Matosinhos.

Portugal começou da melhor forma o jogo, convertendo os dois primeiros ataques que teve, mas a Espanha não demorou a reagir com um parcial de 4-0 que deixou a Seleção alguns minutos sem golos marcados e a correr o risco de ver a distância subir para outros números. Com Jan Gurri Aregay em plano de destaque, e perante as dificuldades ofensivas que iam sendo reveladas pela equipa de Carlos Martingo, os espanhóis foram mantendo a vantagem no marcador (que nunca passou dos dois golos) mas sem nunca conseguirem descolar como podiam ter feito numa fase de maior desacerto do ataque nacional e foi aí, mais uma vez, que Portugal mostrou a força do coletivo e o coração da equipa perante a defesa subida do adversário.

Com Gabriel Cavalcanti a ter um papel importante também no ataque, Ricardo Brandão a ser determinante a defender e a ganhar espaços nas ações ofensivas e Tiago Ferreira a ter uma defesa importante pelo meio na fase em que a equipa mais precisava, Portugal conseguiu voltar a passar para a frente do marcador a menos de quatro minutos do intervalo e foi mesmo para o descanso a ganhar por 16-15 (o resultado do jogo da primeira fase mas então com vantagem para Espanha) com Francisco Costa a liderar de novo a lista dos melhores marcadores com cinco golos seguido do organizador de jogo André Sousa (quatro).

Estava tudo em aberto apesar de, em várias ocasiões, Portugal não ter conseguido travar os ataques rápidos dos espanhóis (que falharam também alguns lances de 1×0). E essas dificuldades continuaram mas com uma nuance que fez toda a diferença nos minutos iniciais: a eficácia ofensiva dos jogadores nacionais, que subiu a pique e fez mossa perante alguns erros contrários, permitindo uma vantagem inédita na partida de quatro golos com que se chegou aos 18 minutos finais (26-22), tendo os irmãos Costa já em mais alto nível e Francisco a abrir de vez o livro com mais cinco golos marcados apenas nos 12 minutos iniciais.

Com alguns ataques falhados, a Espanha ainda reentrou no jogo ficando a um golo de distância a dez minutos do final (32-31), empatando mesmo pouco depois e passando para a frente nos últimos cinco minutos, tendo posse de bola para fazer o 34-32 após nova defesa de Domenech Calatayud. Foi esse o pior período de Portugal no jogo, foi esse o período que quebrou de vez a Seleção, apesar de uma posse de bola no final que poderia dar o empate a 36 em que Francisco Costa sofreu falta não assinalada antes do remate defendido e a Espanha marcou depois em contra-ataque, ganhando a final por 37-35. Francisco Costa (11) e André Sousa (dez) foram os melhores marcadores, seguidos de Jan Gurri Aregay (oito).