Naquela que foi a primeira entrevista enquanto novo líder do PSD, Luís Montenegro não poupou críticas a António Costa e ao rumo escolhido pelo PS. Para o social-democrata, o “primeiro-ministro anda a brincar com a governação” e denota uma grande dificuldade em dar resposta aos problemas do país. “Não sei se anda demasiado distraído com estes epifenómenos de descoordenação no Governo, se com as viagens ao estrangeiro para fazer o seu lóbi internacional, sabe-se lá para quê”, provocou.

Na CNN Portugal, antecipando-se ao debate do Estado da Nação que acontece esta quarta-feira, Montenegro aproveitou para tentar marcar terreno e responsabilizar diretamente o Executivo socialista pelo que está a acontecer em matéria de incêndios, recusando qualquer tipo de desculpabilização e sugerindo que António Costa deveria ter preparado muito melhor o país sobretudo depois das tragédias de 2017. “O primeiro-ministro está constantemente a culpar os outros por aquilo que são responsabilidades que ele tem de assumir.”

De resto, o presidente do PSD não deixou de se referir à mais recente crise interna do Governo (o episódio do novo aeroporto e a confusão entre Costa e Pedro Nuno Santos) como mais um sintoma do clima de desorientação e de desresponsabilização que se vive Governo. “O primeiro-ministro desautoriza o ministro e não acontece nada!?”, atirou o social-democrata.

No entanto, Montenegro resistiu mais uma vez a concretizar a posição do partido em relação ao futuro aeroporto, confirmando apenas que deverá encontrar-se com António Costa até sexta-feira. A estratégia, por isso, mantém-se: a batata quente está nas mãos do primeiro-ministro e o líder do PSD nada fará para dar uma abébia ao socialista. “Uma coisa é dialogar com o maior partido da oposição; outra coisa é deixar de decidir. Quem tem de decidir é o Governo. Não vamos inverter os papéis.”

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O líder do PSD acusou ainda o Executivo socialista de nada fazer para conter os efeitos da crise inflacionista que se abateu sobre a Europa e o país. “O Governo denota uma grande insensibilidade social. Está a ganhar muito dinheiro com esta crise. Há uma grande imoralidade“, denunciou o social-democrata, já depois de ter dito que este Governo será lembrado como sendo o responsável pelo “maior empobrecimento de que há memória”.

A esse propósito, o líder do PSD desafiou o Governo a ir mais além no apoio de 60 euros para compensar o aumento dos preços dos bens alimentares. Por exemplo, estendendo-o até ao final do ano, duplicando o valor ou alargando o apoio a mais famílias.

Montenegro explicou que, mesmo se o Governo duplicasse o apoio para 120 euros, a medida teria um custo de 500 milhões de euros até ao final do ano – longe da perspetiva de encaixe fiscal com a subida de inflação — pelo menos 3500 milhões de euros. “Não estamos a pedir um esforço especialmente robusto ao Estado.”

Quanto ao Chega, mesmo resistindo em concretizar se a frase que disse no Congresso (“nunca nos associaremos a qualquer política xenófoba ou racista”) era ou não uma referência ao partido de André Ventura, Luís Montenegro não deixou de acusar António Costa e o PS de serem os maiores interessados na promoção daquele partido como meio para atingir um fim — a fragilização do PSD.

Sobre o seu futuro, e desafiado a dizer se este é ou não o caminho mais fácil para chegar a primeiro-ministro (uma maioria absoluta, partido na oposição durante quatro anos, líder sem assento parlamentar), Montenegro limitou-se a reforçar a mensagem: “Não faço esse tipo de programação. Não me assusta rigorosamente nada. Zero.”