Na primeira grande prova internacional depois do sucesso nos Jogos Olímpicos, onde conquistou a prata no triplo salto, Patrícia Mamona conseguiu em março estabelecer um novo máximo de época em Belgrado, nos Mundiais de Pista Coberta, mas não foi além da sexta posição, falhando assim uma das poucas coisas que tem ainda por conquistar na sua carreira: uma medalha num Campeonato do Mundo. No entanto, nem por isso a atleta de 33 anos deixou de pensar mais alto após o segundo melhor registo a nível de posições na classificação em Mundiais, apenas atrás do quarto lugar também em Pista Coberta em 2014. E fez questão de partilhar isso mesmo, neste caso num seminário na Faculdade de Motricidade Humana.

A melhor marca do ano não chegou: Patrícia Mamona acaba final do triplo salto no sexto lugar nos Mundiais de Pista Coberta

“Desde muito nova percebi que os desafios servem para nos superarmos. Nós atletas vivemos isso todos os dias. Temos de nos focar no objetivo, sempre a tentar alcançar uma meta. Sucesso em 2021? Eu e o meu treinador percebemos que sozinhos não podíamos fazer mais do que já tínhamos conseguido e por isso constituímos a nossa equipa multidisciplinar. O máximo não é o limite. Vou fazer mais do que 15,01 metros. O caminho continua, à procura de um novo máximo. Vou continuar a trabalhar”, destacou em abril a atleta nacional num seminário que tinha o nome “Patrícia Mamona: a base científica das medalhas”.

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Essa tal segunda passagem da fasquia dos 15 metros até podia não surgir nestes Mundiais de Eugene mas o objetivo estava lá: chegar a uma medalha. No entanto, e de forma real, Patrícia sabia que a missão seria no caso mais complicada do que muitas outras que teve, também pelos problemas que teve na preparação e que motivaram uma diferença grande entre o ranking mundial na especialidade (terceira) e a melhor marca com que chegava à prova nos EUA (14.ª). E essas mesmas dificuldades ficaram patentes logo na qualificação, onde falhou o apuramento direto e passou pelos 14,32 metros alcançados no último salto.

Um salto fraco, um nulo e a tentativa que cumpriu serviços mínimos: Patrícia Mamona na final do triplo dos Mundiais

“Nas condições em que estava no aquecimento, pensei que ia ser pior. Ter conseguido passar para a final deu-me mais força porque se assim consigo saltar e chegar à final, é mais um exemplo que consigo superar o que me apareça à frente. O segundo salto [nulo] foi uma reviravolta mental. Não me estava a sentir muito bem e fui eu a tentar lutar contra mim e a dizer que era capaz. Embora tendo sido nulo, foi um bom salto e fiquei a saber que só tinha de acertar na tábua e conseguir a marca de qualificação. Não consegui mas passei à final e isso é que interessa”, referiu após o apuramento, desvalorizando as dores nas costas que foi sentindo ao longo do período dos três lançamentos no sábado de manhã (hora nos EUA).

O ano de 2021 foi um exemplo paradigmático do que essa vontade que sempre revelou poderia trazer: após ter sido campeã e vice-campeã europeia ao Ar Livre e vice-campeã europeia em Pista Coberta, esteve em risco de não participar nos Europeus de Pista Coberta de Torun após ter contraído Covid-19 mas saiu da cidade polaca com a medalha de ouro e bateu depois o recorde pessoal e nacional nos Jogos Olímpicos de Tóquio por 35 centímetros num salto que lhe valeu o estatuto de vice-campeã olímpica apenas atrás da grande dominadora da especialidade, a venezuelana Yulimar Rojas. Todavia, havia algo que saltava à vista em todas essas conquistas – a qualificação deixava sinais de que era possível chegar às medalhas. Algo que, neste caso, não tinha acontecido. Era contra isso que Patrícia Mamona lutava para pelo menos conseguir ainda melhorar o oitavo lugar em Doha, naquele que era o melhor registo em Mundiais ao Ar Livre.

A Covid-19, o ouro nos Europeus em risco e a barreira dos 15 metros: o ano que fez da maior Patrícia uma gigante na história nacional

A primeira ronda de saltos confirmou todas essas dificuldades que a atleta portuguesa iria sentir: depois de Yulimar Rojas ter feito 14,60 numa tentativa que foi quase falhada, a jamaicana Shanieka Ricketts assumiu a liderança com a marca de 14,89 e a norte-americana Tori Franklin marcou 14,53. Ou seja, mesmo perante tentativas nulas de Maryna Beck-Romanchuk e Thea Lafond, Patrícia Mamona, que conseguiu 14,25 na primeira tentativa, teria de ultrapassar e por alguma margem o melhor registo pessoal da época. Aí, a portuguesa ocupava a quinta posição, tendo ainda Leyanis Pérez Henández na sua frente com 14,70. Até meio do concurso, que já tinha Rojas isolada na frente com uma grande marca (15,47), Pérez Hernández bateu o recorde pessoal com 14,70 e a portuguesa desceu à oitava posição com um nulo e um 14,19.

O “corte” acabou por promover uma grande surpresa, com a ucraniana Maryna Beck-Romanchuk a não ir além de um salto a 13,91 (antes fizera uma tentativa nula e 12,70) e a ficar de fora da luta pelas medalhas a par da finlandesa Kristina Mäkelä (14,18). Mesmo longe do que é capaz de fazer, Patrícia Mamona já tinha igualado o seu melhor registo em Mundiais ao Ar Livre, depois do 27.º lugar em 2011, do 16.º em 2015, do nono em 2017 e do oitavo em 2019. Por isso, e sem nada a perder, era altura de arriscar, fazendo mais um nulo na quarta tentativa e 14,29 no quinto salto, a seis centímetros do melhor registo pessoal da época ao Ar Livre. No sexto, não passou dos 14,00. Na luta pelas medalhas, e com Rojas a confirmar o estatuto de crónica vencedora, Shanieka Ricketts confirmou a prata com 14,89 mas a norte-americana Tori Franklin foi ainda a tempo de chegar ao bronze, ultrapassando Pérez Hernández com um salto a 14,72.