Quando, em 8 de janeiro de 1996, os jornais internacionais noticiaram a morte do antigo Presidente francês François Mitterrand, que ocupara o Eliseu durante quase década e meia, já não era novidade que o estadista sofria de cancro da próstata. Nos últimos anos da sua presidência, tinha sido operado duas vezes e a sua saúde encontrava-se fragilizada.

Porém, depois da morte de Mitterrand, o seu médico pessoal, Claude Gubler, lançou o livro O Grande Segredo, no qual revelou que, afinal, o Presidente francês tinha sido diagnosticado com cancro em 1981, ano em que foi eleito. Durante mais de uma década, Mitterrand ocultou a doença do público francês, com a colaboração do médico, que falsificou relatórios clínicos durante vários anos.

Agora, segundo o jornal britânico The Guardian, descobriu-se que as autoridades do Reino Unido desconfiavam do real estado de saúde de François Mitterrand pelo menos desde dezembro de 1981. A informação surge em documentos diplomáticos recentemente divulgados pelo arquivo nacional britânico depois de deixarem de estar sob sigilo.

Em dezembro de 1981, o então embaixador britânico em Paris, Reginald Hibbert, transmitiu às autoridades britânicas as suas suspeitas relativas à saúde de Mitterrand.

Numa nota enviada para Londres, Hibbert afirmava que, embora o relatório clínico mais recente fizesse um retrato positivo da saúde do Presidente francês, deixava em aberto a ideia de haver “algumas áreas em que a sua saúde era insatisfatória“. O diplomata britânico dizia ter informações credíveis sobre a saúde de Mitterrand, nomeadamente que o francês sofria de “uma forma de leucemia que podia ser controlada dentro dos limites através de tratamento médico e cujos efeitos se devolveriam lentamente”.

De acordo com o que o diplomata britânico escreveu nos documentos agora tornados públicos, Mitterrand já tinha problemas de saúde antes de ser eleito Presidente de França, mas não os considerara um obstáculo à candidatura, uma vez que não pensava que seria capaz de derrotar o incumbente, Valéry Giscard d’Estaing, nas eleições presidenciais de 1981. “Quando, de repente, a eleição se virou a seu favor, foi apanhado de surpresa e teve de pôr a sua melhor face no que toca ao seu estado de saúde“, escreveu o diplomata.

François Mitterrand manteve-se na Presidência francesa até 1995, ano em que lhe sucedeu Jacques Chirac.

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