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Scorpions: uma lição de rock e um apelo à paz no último concerto da digressão europeia, em Lisboa

Este artigo tem mais de 1 ano

Os Scorpions terminaram a digressão europeia em Lisboa. O concerto, focado no novo álbum, incluiu os maiores êxitos e uma nova versão de "Wind of Change" dedicada à Ucrânia. Mas soube a pouco.

Klaus Meine, vocalista e membro da banda desde o início dos anos 70, com a sua mítica boina
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Klaus Meine, vocalista e membro da banda desde o início dos anos 70, com a sua mítica boina

ANDRÉ DIAS NOBRE / OBSERVADOR

Klaus Meine, vocalista e membro da banda desde o início dos anos 70, com a sua mítica boina

ANDRÉ DIAS NOBRE / OBSERVADOR

O público estava impaciente. O concerto dos Scorpions na Altice Arena estava marcado para as 21h, mas eram 21h10 e a música continuava a tocar no interior do recinto, praticamente cheio. Os fãs reagiam a cada movimento em cima do palco, tapado por um enorme pano preto com o nome da banda alemã. Mas de pouco valia — foi preciso esperar até cerca das 21h15 para que a música se calasse, o pano caísse e um outro pedaço de tecido aparecesse, com a mensagem: “Estão prontos para rockar?”.

Tudo no concerto desta quinta-feira foi construído para fazer lembrar o estatuto dos Scorpions enquanto lendas do rock mundial. Formada em 1965, na cidade de Hanôver, a banda teve o seu período de maior sucesso nas décadas de 1980 e 1990, quando lançou álbuns como Animal Magnetism, Blackout ou Crazy World. Passados quase 60 anos, os Scorpions continuam na estrada para mostrar que a há muito anunciada “morte do rock” é um mito e que, apesar da ascensão de outros géneros musicais, ainda existem muitos rock believers, nome do mais recente álbum, que os levou de novo percorrer a Europa e a aterrarem em Lisboa. O concerto desta segunda-feira à noite na Altice Arena foi o último da digressão europeia, antes do grupo se aventurar em terras norte-americanas. O cansaço era particularmente evidente em Klaus Meine, vocalista e um dos membros mais antigos dos Scorpions. Aos 74 anos, Meine já não tem a energia e agilidade de outros tempos. No final da atuação, mexia-se com alguma dificuldade, ao contrário da restante banda, em grande forma apesar dos espetáculos acumulados.

ANDRÉ DIAS NOBRE / OBSERVADOR

Integrado na digressão de promoção de Rock Believer, lançado este ano, o concerto desta segunda-feira incluiu naturalmente vários temas do 19.º álbum do grupo. Foi, aliás, por aí que os Scorpions começaram, com “Gas in the Tank”, antes de fazerem a primeira de várias viagens no tempo, a Animal Magnetism e a temas como “Make it Real” e “The Zoo”. “Boa noite, Lisboa! Como estão?”, perguntou o vocalista num português bem treinado. “Desculpem não termos vindo em maio”, disse, desta vez em inglês, referindo-se ao adiamento do concerto, originalmente marcado para 10 de maio, apenas dois dias antes por causa de uma lesão sofrida pelo guitarrista Matthias Jabs. Depois de “The Zoo”, a banda tocou “Coast to Coast”, naquele que foi o primeiro de três momentos puramente instrumentais da noite. Neste, ao contrário dos outros dois, Meine deu uma ajuda — largou os óculos e o blazer preto de pele de crocodilo (mas não a boina) e agarrou-se à guitarra. Juntamente com os dois guitarristas, Rudolf Schenker (fundador da banda) e Jabs, e o baixista, Paweł Mąciwoda, chegou-se à frente e tocou junto à plateia, num verdadeiro momento rock n’ roll.

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Sem perderem tempo, os Scorpions voltaram ao novo álbum, com “Seventh Sun” e “Peacemaker”, temas que, apesar de estarem muito longe do melhor que a banda já fez, funcionam muito bem ao vivo. Meine explicou que, quando escreveu esta última música, “estava a pensar na Covid e em todos os problemas do mundo”. Não seria a única vez que a banda faria referência ao estado atual das coisas. Antes disso, houve mais uma viagem até aos anos 80, com “Bad Boys Running Wild”, a primeira canção a testar as capacidades vocais do público na Altice Arena. Em “Delicade Dance”, o vocalista deixou, mais uma vez, o resto da banda em palco, voltando no final do tema para uma das grandes baladas dos Scorpions: “Send Me An Angel”. Outro grande tema dos alemães, “Wind of Change”, também do álbum Crazy World, foi dedicado ao povo ucraniano. À semelhança do que aconteceu nos outros concertos da digressão, Meine mudou a letra da canção, originalmente um símbolo da mudança política na Rússia após o fim da União Soviética, para incluir o nome da Ucrânia:

“Now listen to my heart
It says Ukrania
Waiting for the wind
To change.”

O público abraçou a mudança e cantou os novos versos com Meine, enquanto, no ecrã gigante, um muro encimado por arame farpado era destruído por um bando de pombas brancas — a guerra a ser vencida pela vontade da paz. No final da canção, aproximando-se da plateia, o vocalista agarrou numa bandeira da Ucrânia que um fã segurava e colocou-a sobre os ombros, juntamente com uma bandeira de Portugal, numa poderosa mensagem de paz e harmonia. Quebrando com a emotividade de “Wind of Change”, os Scorpions partiram para “Tease Me Please Me”, puro glam rock tirado de Crazy World. Seguiu-se uma nova saída de palco. Desta vez, apenas Mikkey Dee, antigo baterista dos Motörhead, que acompanha os alemães há vários anos, ficou para trás. Dee teve o seu momento “estrela”, com um solo de bateria em parte acompanhado Mąciwoda, antes do barulho de sirenes que antecipou “Blackout”.

ANDRÉ DIAS NOBRE / OBSERVADOR

Outro grande tema rock dos Scorpions, “Black City Nights”, fechou o concerto, numa altura em que Meine parecia bastante cansado. Tinha passado uma hora e quinze minutos desde que o grupo tinha subido ao palco. Depois dos habituais apelos, a banda voltou para um encore de duas músicas, “Still Loving You” (uma das melhores baladas de todos os tempos?”) e “Rocking You Like a Hurricane”. Ao todo, os Scorpions tocaram hora e meia em Lisboa. Foi um concerto curto para um grupo do seu estatuto (sobretudo tendo em conta que os alemães não se fizeram acompanhar por outra banda e que a atuação aconteceu em nome próprio), mas que seguiu o alinhamento tocado noutras cidades europeias. Será que a idade começou finalmente a pesar?

É provável que o concerto desta segunda-feira tenha sabido a pouco à maioria dos fãs, mas há uma coisa da qual os Scorpions não podem ser acusados: de se terem esquecido como é que isto se faz. Os anos não trazem mais energia, mas são fonte de sabedoria, e os concertos dos Scorpions são quase imaculados (houve alguns problemas com o som, mas não graves o suficientes para estragar o espetáculo). Do palco ao cenário, passando pela forma como os músicos se posicionam e interagem com o público — nada é ao acaso. Ver a banda ao vivo, é assistir a uma lição de bom e velho rock, que faz todos os rock believers, fãs aguerridos ou simplesmente apreciadores da música dos alemães, terem esperança no futuro: o rock (ainda) não morreu.

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