“O ano começou como começou e tudo isso afetou-me muito. Em termos mentais e emocionais, não estava bem. Não foi fácil fechar esse episódio, gerou uma grande turbulência em mim. Mas só precisava de tempo para poder despejar de mim a tormenta (…) Não me vacinei e também não planeio vacinar-me. Pedir uma extensão também não creio que seja uma opção. Agora estou de férias. Jogue ou não, preciso pelo menos de um par de semanas para mim porque este período foi particularmente cansativo.”

“Não me vacinei e também não planeio vacinar-me”: Djokovic fez história em Wimbledon mas desconhece próximos capítulos no US Open

Novak Djokovic tinha acabado de ganhar Wimbledon pela sétima vez na carreira, conquistara o 21.º Grand Slam da carreira neste caso depois de um ano sem qualquer triunfo e voltava a sorrir como há muito não se via. A relação com os adeptos até podia não ser a mesma mas a maioria conseguia fazer e bem a separação entre o que se passa dentro e fora dos courts, como ficou bem expresso no momento de receber o troféu e quando foi à varanda saudar milhares de pessoas que estavam no recinto britânico. Ainda assim, acabado de fechar um capítulo de redenção pessoal e desportiva, outro problema começava a levantar-se.

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Devido às regras que ainda vigoram nos EUA, nomeadamente em Nova Iorque, o facto de continuar a não estar vacinado podia levar a que voltasse a falhar um Grand Slam por motivos não físicos (até 2022, em 70 Majors realizados, só tinha estado ausente no US Open de 2017 e por lesão no ombro). E, a menos de três semanas do último grande torneio da época, a realidade alarga-se a outras competições onde, pela mesma razão, não poderá inscrever-se também em Montreal (Canadá) e em Cincinnati (EUA), duas das provas de maior reputação que antecedem o Grand Slam norte-americano que arranca a 29 de agosto. No entanto, são muitas as vozes que pedem a presença do sérvio. Cada vez mais. E já se tornou tema nacional.

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“O presidente Biden proíbe Djokovic de jogar o US Open mas permite que milhões de imigrantes ilegais não vacinados do México cruzem a fronteira. Eu faço apenas uma pergunta: que diferença faz mais um não vacinado?”, questionou Drew Springer, senador do Texas, que vai pedir mais esclarecimentos à Casa Branca sobre o assunto. “Deixem o Novak Djokovic jogar o US Open! O torneio desvaloriza quando expulsa um dos melhores jogadores do mundo”, referiu Richard Grenell, diplomata e ex-diretor interino da CIA. No entanto, e mais uma vez, o US Open confirmou esta quarta-feira que o sérvio não poderá mesmo jogar.

Em paralelo, continua disponível online a petição dirigida à Associação Americana de Ténis para que possa ser encontrada uma solução junto das autoridades que permita o antigo número 1 mundial participar no US Open, prova que já venceu em 2011, 2015 e 2018. O objetivo é chegar aos 15.000 assinantes, sendo que o valor atual ultrapassa os 12.000. “Não há absolutamente nenhuma razão nesta fase da pandemia para não permitirem que Djokovic jogue o US Open. O Governo e a Associação Americana de Ténis têm de trabalhar em conjunto para fazerem com que jogue. Se os norte-americanos não vacinados podem jogar, Djokovic, uma das lendas do jogo, também deve ser autorizado”, defende o texto que será enviado.

As tentativas existem, a esperança não é muita e o próprio treinador de Djokovic, o croata e antigo jogador Goran Ivanisevic, considera que “é mais provável ser convidado para o torneio de Umag do que Djokovic jogar o US Open”. “Os EUA são um país inflexível neste tipo de situações e proíbem a entrada de não vacinados. O torneio não coloca problemas mas a política do país é que manda. Respeito a decisão dele, não vai mudar mas foi muito mau ver pessoas dizerem que se tinha tornado o líder dos anti-vacinas. Não estava a influenciar absolutamente ninguém, simplesmente não se queria vacinar”, frisou.

Na semana passada, mais do que marcar ou não presença no último Grand Slam da época, Djokovic pediu sobretudo uma coisa em conferência de imprensa: respeito. “Sou tenista profissional e só quero estar onde possa jogar. Não estou interessado em guerras políticas, tenho as minhas convicções e só peço que todos tenham liberdade para escolherem aquilo que acham melhor. Respeitem-me e respeitem, pelo menos, a minha decisão. Se for permitido estarei em Nova Iorque, caso contrário não será o fim do mundo. Não foi agradável de viver aquela situação na Austrália. Muitas pessoas ainda julgam que entrei na Austrália sem permissão mas isso é falso e provei-o em tribunal. Nunca irei a um país que não me queira e para o qual não tenha permissão para entrar mas espero poder regressar em janeiro. Adoro a Austrália e quero voltar, é o torneio em que tenho melhores resultados. Espero poder estar presente”, destacou.