O governo de Buenos Aires proibiu a utilização de linguagem neutra nas escolas da capital argentina. A decisão foi anunciada pelo presidente do governo da cidade, o político de centro-direita Horacio Larreta, em junho, originando uma onda de contestação entre os grupos que lutam pela igualdade de género na Argentina.

O objetivo, explicou o governo na altura, é “simplificar a forma como as crianças aprendem, instruindo os professores a respeitarem as regras do espanhol, porque as crianças devem aprender a língua tal como ela é”, citou a BBC, justificando que a introdução de palavras neutras cria problemas na compreensão de textos e da leitura.

A proibição diz respeito à comunicação nas aulas, mas também das escolas com os encarregados de educação e outros documentos oficiais. No dia em que a nova regra entrou em vigor, foram disponibilizados guias sobre como ser inclusivo usando a gramática tradicional espanhola, sem ser necessário “distorcer a língua ou adicionar complexidade” à sua “compreensão e fluência”. Estes sugerem a utilização de expressões como “los/as estudiantes” (“os/as estudantes”) ou “personas” (“pessoas”).

Os professores que não cumprirem a regra serão alvo de um “processo administrativo disciplinar”. Os alunos são livres de continuarem a usar termos neutros entre si, salientou o governo.

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A ministra da Educação de Buenos Aires, Soledad Acuña, explicou numa entrevista que o objetivo não é banir a linguagem inclusiva, porque “a linguagem não é mais ou menos inclusiva”. “Depende de como é usada”, disse, citada pelo The New York Times.

A medida foi criticada por vários grupos de direitos LGBTIQ+, linguistas e professores, e também por membros do governo central, nomeadamente pelo ministro da Educação, Jaime Perczyk, que comparou a decisão de Buenos Aires com as proibições impostas pela ditadura em Espanha contra os canhotos.

“Achavam que estavam a corrigir alguma coisa, mas é algo muito mais profundo”, disse, acrescentando que os estudantes a linguagem neutra para lutarem contra as atitudes sexistas que prevalecem na sociedade argentina. Outros defensores da linguagem neutra defenderam que não há evidências de que a sua utilização se reflita nos resultados escolares, refere a BBC.

O governo de Buenos Aires não é o primeiro a tentar impedir a utilização de expressões neutras. Propostas semelhantes foram apresentadas em países como o Peru, em alguns estados do México e em pelo menos 34 municípios e estados brasileiros. Em dezembro, o governo do Uruguai tomou uma medida semelhante, ao emitir uma circular informando que, no que diz respeito à educação pública, a linguagem “deve obedecer às regras da língua espanhola”, esclarecendo, no entanto, que as instruções dizem apenas respeito aos funcionários das escolas e não à forma como os alunos comunicam entre si.