Carlos Moedas recebeu o Ministro das Infraestruturas e da Habitação com um “olá, Pedro”, para simbolizar o bom relacionamento entre os dois. Presidente da Câmara e ministro estiveram esta segunda-feira de manhã na entrega de 128 casas com rendas acessíveis, numa cerimónia em que o autarca quis dar “um abraço público” a Pedro Nuno Santos, que considera ser um dos intérpretes da forma como vê o “futuro para a política: trabalhar para as pessoas”, independentemente dos partidos.

O encontro entre os dois surgiu num momento político particularmente difícil para o ministro, depois do folhetim que criou e protagonizou em torno do novo aeroporto de Lisboa. Moedas, de quem se diz poder passar por ele o futuro do PSD, não quis deixar de dar um sinal de conforto a Pedro Nuno, de quem se diz poder ser o futuro do PS.

De resto, ainda a propósito desse episódio, a verdade é que Carlos Moedas e Pedro Nuno Santos conversaram informalmente sobre o novo aeroporto de Lisboa durante uma cerimónia relacionada com a Habitação em Lisboa, tal como confirmou Moedas na entrevista que concedeu ao Observador durante o Congresso do PSD — a decisão do socialista (revogada por António Costa menos de 24 horas depois) tornar-se-ia num embaraço para o Governo.

Desta vez, que tivessem sido visíveis, não existiram encontros à margem da cerimónia, nem conversas sobre o novo aeroporto, dossiê que deixou Pedro Nuno Santos numa situação política mais do que frágil. Na visita a um dos apartamentos que foi entregue a uma família, a arquiteta do projeto ainda referiu as necessidades de isolar as casas devido ao ruído, levando Carlos Moedas a dizer: “Pois, os aviões“. O ministro socialista não entrou na conversa de circunstância.

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No breve discurso que o ministro das Infraestruturas e da Habitação fez poucos minutos depois houve apenas uma referência aos “especialistas sobre tudo: sobre a pandemia, sobre a guerra, sobre o aeroporto“, bengala que serviu para deixar uma crítica aos “especialistas sobre PRR que dizem que só serve para engordar o Estado”. “Não é. É para isto”, assegurou Pedro Nuno Santos.

O ministro referia-se às casas com rendas acessíveis agora entregues, financiadas a 100% pelo Plano de Recuperação e Resiliência, que Carlos Moedas defendeu que “só existem por causa da Europa”. O social-democrata aproveitou o momento para pedir às famílias que vão usufruir das novas casas que expliquem isso às crianças, sensibilizando-as para a importância do projeto europeu.

O sentido de comunidade e o apoio nas desocupações

A autarquia de Lisboa conduziu há algumas semanas um processo de desocupações de casas de habitação social, o que levou a várias queixas dos habitantes e por vezes à intervenção das forças de segurança. Carlos Moedas salientou que “as desocupações contaram com o total apoio do ministro”, reforçando que “é essencial que as casas ocupadas ilegalmente possam ser entregues às famílias que estão há vários anos à espera”.

Pedro Nuno Santos — que assistia na primeira fila, ao lado da secretária de Estado da Habitação, Marina Gonçalves, que também foi muito elogiada pelo autarca –, tinha falado minutos antes no “sentido de comunidade“.

O ministro elogiou o “anterior executivo e o atual, por ter dado continuidade aos projetos”, ilustrando dessa forma que, só “com todos a colaborar”, é que é possível ir melhorando a vida de algumas famílias, deixando uma palavra “para os muitos milhares que continuam ainda sem uma casa com condições”.

Carlos Moedas deixou também um cumprimento ao antecessor, Fernando Medina, poucos minutos antes de elogiar Pedro Nuno Santos e chamar ao palco os governantes e os membros do executivo para a entrega das 128 chaves, com os novos proprietários a serem chamados pelo nome, um a um.