O nome de Michael Johnson, dono de quatro ouros olímpicos e campeão mundial em oito ocasiões, pairou ao longo de todos os Mundiais de atletismo que terminaram este domingo em Eugene, nos Estados Unidos — mesmo que já tenham passado 22 anos desde os Jogos de Sydney, quando o norte-americano se despediu das pistas. 

Primeiro, Michael Johnson foi recordado pelos motivos expectáveis. Noah Lyles, agora bicampeão mundial, venceu a final dos 200 metros sem grande concorrência e tornou-se o terceiro atleta mais rápido de sempre na distância, superando o recorde nacional que pertencia precisamente a Johnson e ficando apenas atrás de Usain Bolt e de Yohan Blake. Depois, Michael Johnson tornou-se protagonista pelos motivos mais inusitados.

Na competição feminina dos 100 metros barreiras, Tobi Amusan fez história ao quebrar o recorde pessoal nas eliminatórias e pulverizar a melhor marca mundial logo nas meias-finais. Ao percorrer a distância em 12.12 segundos, a nigeriana de 25 anos cortou em oito centésimos o registo absoluto que pertencia à norte-americana Kendra Harrison desde 2016. E Michael Johnson — assim como praticamente toda a gente ligada à velocidade que acompanhou os Mundiais de atletismo — estranhou não só a facilidade com que Amusan quebrou o recorde como também a variedade de registos superados pelas outras atletas que participaram na prova.

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“Não acredito que os tempos dos 100 metros barreiras estejam corretos. Um recorde do mundo batido por oito centésimos. 12 recordes pessoais, cinco recordes nacionais. A Cindy Sember, que foi recorde pessoal e nacional, disse depois da prova que até pensou que estava a correr lento. Todas as atletas pareceram chocadas”, escreveu o norte-americano, que é também comentador para a BBC, no Twitter. As ondas de choque, contudo, foram praticamente imediatas.

Os grandes duelos foram corridas de uma só figura: Noah Lyles bate registo de Michael Johnson, Shericka Jackson faz segunda marca de sempre

Michael Johnson foi rapidamente acusado de racismo em relação a Tobi Amusan, sendo forçado a explicar-se poucas horas depois do comentário original. “Como comentador, o meu trabalho é comentar. Ao questionar os tempos de 28 atletas, e não de uma atleta, ao questionar se o sistema de cronometragem teve algum problema, fui atacado e acusado de racismo e de questionar o talento de uma atleta que respeito e que até já achava que iria ganhar. Inaceitável. Sigo em frente”, acrescentou o norte-americano de 54 anos.

De referir que, já na final dos 100 metros barreiras — que Tobi Amusan venceu, sagrando-se campeã mundial sem grande oposição –, a nigeriana voltou a melhorar o registo alcançado na meia-final, percorrendo a distância nuns impressionantes 12.06. Contudo, a marca não é válida nem poderá ser considerada para novo recorde mundial, já que o vento favorável que se fazia sentir no Hayward Field era superior ao limite legal definido pela World Athletics.