O nome de Michael Johnson, dono de quatro ouros olímpicos e campeão mundial em oito ocasiões, pairou ao longo de todos os Mundiais de atletismo que terminaram este domingo em Eugene, nos Estados Unidos — mesmo que já tenham passado 22 anos desde os Jogos de Sydney, quando o norte-americano se despediu das pistas.
Primeiro, Michael Johnson foi recordado pelos motivos expectáveis. Noah Lyles, agora bicampeão mundial, venceu a final dos 200 metros sem grande concorrência e tornou-se o terceiro atleta mais rápido de sempre na distância, superando o recorde nacional que pertencia precisamente a Johnson e ficando apenas atrás de Usain Bolt e de Yohan Blake. Depois, Michael Johnson tornou-se protagonista pelos motivos mais inusitados.
I don’t believe 100h times are correct. World record broken by .08! 12 PBs set. 5 National records set. And Cindy Sember quote after her PB/NR “I throughly I was running slow!” All athletes looked shocked.
— Michael Johnson (@MJGold) July 25, 2022
Na competição feminina dos 100 metros barreiras, Tobi Amusan fez história ao quebrar o recorde pessoal nas eliminatórias e pulverizar a melhor marca mundial logo nas meias-finais. Ao percorrer a distância em 12.12 segundos, a nigeriana de 25 anos cortou em oito centésimos o registo absoluto que pertencia à norte-americana Kendra Harrison desde 2016. E Michael Johnson — assim como praticamente toda a gente ligada à velocidade que acompanhou os Mundiais de atletismo — estranhou não só a facilidade com que Amusan quebrou o recorde como também a variedade de registos superados pelas outras atletas que participaram na prova.
“Não acredito que os tempos dos 100 metros barreiras estejam corretos. Um recorde do mundo batido por oito centésimos. 12 recordes pessoais, cinco recordes nacionais. A Cindy Sember, que foi recorde pessoal e nacional, disse depois da prova que até pensou que estava a correr lento. Todas as atletas pareceram chocadas”, escreveu o norte-americano, que é também comentador para a BBC, no Twitter. As ondas de choque, contudo, foram praticamente imediatas.
Michael Johnson foi rapidamente acusado de racismo em relação a Tobi Amusan, sendo forçado a explicar-se poucas horas depois do comentário original. “Como comentador, o meu trabalho é comentar. Ao questionar os tempos de 28 atletas, e não de uma atleta, ao questionar se o sistema de cronometragem teve algum problema, fui atacado e acusado de racismo e de questionar o talento de uma atleta que respeito e que até já achava que iria ganhar. Inaceitável. Sigo em frente”, acrescentou o norte-americano de 54 anos.
De referir que, já na final dos 100 metros barreiras — que Tobi Amusan venceu, sagrando-se campeã mundial sem grande oposição –, a nigeriana voltou a melhorar o registo alcançado na meia-final, percorrendo a distância nuns impressionantes 12.06. Contudo, a marca não é válida nem poderá ser considerada para novo recorde mundial, já que o vento favorável que se fazia sentir no Hayward Field era superior ao limite legal definido pela World Athletics.
WORLD RECORD ????
TOBI AMUSAN ???????? DESTROYS THE WORLD 100M HURDLES RECORD IN 1⃣2⃣.1⃣2⃣ (+0.9 m/s) IN THE SEMIS!#WorldAthleticsChamps pic.twitter.com/wbcFj0OOou
— World Athletics (@WorldAthletics) July 25, 2022