O Millennium BCP fechou o primeiro semestre com lucros de 74,5 milhões de euros, o que compara com os lucros de 12,3 milhões que tinha tido na primeira metade de 2021, uma subida de mais de 500% nos resultados que foi anunciada pelo BCP em conferência de imprensa esta quarta-feira. O resultado em Portugal aumentou 63% para 174,5 milhões, acrescenta o banco, que destaca o “fardo insuportável” que é ter pago 62,2 milhões de euros em contribuições especiais cobradas ao setor bancário, que são contabilizados habitualmente no primeiro semestre. A situação económica é “preocupante mas não é dramática”, afirma o presidente do banco.

A penalizar os resultados do grupo continuam os impactos associados aos créditos indexados a francos suíços, na unidade da Polónia, que subtraíram 200,9 milhões de euros aos lucros do BCP (no primeiro semestre de 2021 tinham sido 126,5 milhões em perdas e imparidades relacionadas com esse tema). Por outro lado, o banco aumentou a margem financeira em quase 29%, para 985,6 milhões, um indicador importante para os bancos já que reflete a diferença entre aquilo que os bancos pagam para se financiar (depósitos, BCE, emissões em mercado) e aquilo que cobra em juros pelos créditos que concede.

Mais uma vez, as perdas na Polónia pesam no resultado do grupo, ofuscando os resultados do banco em Portugal. O BCP destaca “o aumento significativo do resultado na atividade em Portugal, pese embora o seu impacto tenha sido em grande parte absorvido pela redução do resultado da atividade internacional”, reconhece o banco, que já no passado indicou que não tem uma resposta para quanto mais tempo e quanto mais dinheiro o problema dos francos suíços na Polónia vai custar. Além disso, estão em curso alterações regulatórias na Polónia que penalizam o capital da unidade polaca – apesar disso, Miguel Maya garante que não será necessário um aumento de capital.

O ambiente de negócios na Polónia não é favorável, isso não é novo, temos de lidar com isso, aqui em Portugal também tivemos isso – em Portugal temos uma carga inusitada [as contribuições especiais aplicadas ao setor, incluindo a contribuição para o Fundo de Resolução]”, atirou Miguel Maya. “Temos de atravessar esta tormenta”, afirmou o banqueiro, salientando que o banco da Polónia já conseguiu não ter um desempenho negativo excluindo as questões regulatórias e judiciais no país.

Os resultados em Portugal também beneficiaram da comparação, ao nível dos custos, com o gasto que o banco teve em 2021 – uma provisão de 81,4 milhões foi assumida, na altura, para avançar com o plano de redução de pessoal. Na atividade em Portugal, o BCP reduziu em 9,8% o número de colaboradores para 6.254, contra 6.937 no final do primeiro semestre de 2021.

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Situação económica é “preocupante mas não é dramática”

Apesar de dizer que “está na moda ser profeta da desgraça”, Miguel Maya recusa uma visão demasiado pessimista sobre as perspetivas económicas: a situação económica é “preocupante mas não é dramática”.

O “enquadramento mundial é desafiante e Portugal não é alheio ao que se passa no mundo” mas Miguel Maya garante não estar a “perspetivar uma situação de enormes dificuldades como na crise anterior”.

Não perspetivo nenhum aumento de NPL com base no aumento das taxas de juro, a não ser empresas que já não tinham adaptado o seu negócio ao pós-pandemia”, afirmou Miguel Maya, alertando para o aumento dos custos da energia porque, isso sim, poderá afetar empresas viáveis e “colocá-las fora do mercado”.

“Estamos a lidar com uma situação completamente diferente”, afirmou o presidente executivo do banco, admitindo algum “arrefecimento mas não uma crise seríssima na economia”. “A economia europeia ainda continua a crescer a bom ritmo e em Portugal o turismo continua a ser um motor muitíssimo importante”.

Também sobre o aumento dos juros, questionado pelo Observador sobre se o BCP antecipa que o próprio banco e o restante setor podem em breve refletir as taxas dos depósitos do BCE (que eram negativas em -0,5% e agora passaram para zero). Miguel Maya respondeu que as taxas ainda não estão em terreno positivo e que ainda estão, por isso, em níveis “anormais” – porém, o banco está em “reflexão” sobre esta matéria e ajustará a sua política comercial ao mercado, mas recusa divulgar publicamente a sua estratégia comercial.

Miguel Maya pediu, também, que se “aproveite a oportunidade” para corrigir o “fardo insuportável” que são as contribuições cobradas à banca. “Fala-se tanto sobre se as economias aguentam taxas de juro de 2%, o BCP quando pediu ajuda do Estado ficou a pagar taxas de juro de 10% – pedimos 3.000 milhões e no final, além de devolver os 3.000 milhões pagou mais 1.000 milhões em juros e comissões”, atirou o banqueiro.