Devagar, devagarinho, a ir compondo o cenário dentro do que é possível. A chegada do técnico Jorge Jesus ao Fenerbahçe, naquela que é a sua terceira experiência no estrangeiro depois de Arábia Saudita (Al Hilal) e Brasil (Flamengo), criou grandes expetativas no histórico clube turco que procura voltar a ser campeão mas trouxe consigo uma viragem de ciclo com várias mexidas no plantel entre entradas e saídas. E foi isso que voltou a acontecer entre os dois primeiros jogos oficiais da temporada, a contar para a segunda pré-eliminatória de acesso à fase de grupos da Liga dos Campeões, frente aos ucranianos do Dínamo Kiev.

Agora é oficial: Jesus tem terceira experiência fora de Portugal, assina pelo Fenerbahçe até 2023 e recebe sete milhões de euros

Kim Min-jae, jovem central sul-coreano que no ano passado chegou a ser associado ao FC Porto, foi mesmo vendido ao Nápoles por quase 20 milhões de euros, abrindo espaço para a procura de mais reforços em muitos casos com associações ao técnico no passado ou com passagens por Portugal. Chegaram assim William Arão e Gustavo Henrique, que estavam no Flamengo; Bruma, internacional formado no Sporting que foi emprestado PSV; Lincoln, médio contratado ao Santa Clara; ou João Pedro Galvão, avançado que passou pelo Estoril e estava há vários anos no Cagliari. Ainda nas saídas, e além do internacional asiático, também os mais experientes Luiz Gustavo (Al Nassr) e Mesut Özil (Basaksehir) deixaram o clube. Tudo em poucas semanas, com o respetivo impacto nos processos adquiridos e por adquirir da equipa em jogo.

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“Empatámos contra um adversário difícil e que tem mais experiência nesta prova do que o Fenerbahçe mas fizemos um bom jogo. Estivemos muito bem organizados defensivamente, não me lembro de o adversário ter criado uma oportunidade clara de golo. Nós tivemos duas ou três, mas não conseguimos marcar, faltou-nos qualidade ofensiva”, tinha comentado o técnico português após o nulo na primeira mão que foi disputada na cidade polaca de Lodz devido à guerra na Ucrânia. “Nestas cinco ou seis semanas temos estado a melhorar várias vertentes. O sorteio ditou que o Fenerbahçe jogasse com uma equipa que está habitualmente na fase de grupos da Champions, não estamos a jogar com uma equipa qualquer. Vamos ter algumas dificuldades defensivamente e espero que possamos corresponder da melhor maneira”, referiu agora a propósito da segunda mão e dos muitos golos sofridos pela equipa na última temporada.

“O Lucescu, quando acabou o encontro, disse que no segundo jogo já conhecia muito melhor o Fenerbahçe. É natural, penso que no primeiro jogo surpreendemos o adversário. Não estava à espera de encontrar uma equipa tão bem organizada defensivamente. Tenho estratégias como qualquer treinador tem para os jogos, mas o jogo em si, durante o jogo, é que nos vai dar essas ideias para aquilo que possamos fazer”, acrescentou a propósito do homólogo, também ele um treinador experiente e com vários títulos ganhos.

Poucos dias depois de cumprir o 68.º aniversário, o que provocou uma situação insólita de vários atletas darem os parabéns ao treinador e o jovem Arda Guler, sem saber bem o que fazer, beijar a mão direita do seu timoneiro, Jesus tinha um dos desafios mais importantes da temporada tendo em vista a possibilidade de qualificação para a Liga dos Campeões, prova onde chegou aos oitavos da última época (saiu depois do Benfica no final de dezembro) num grupo onde estavam Bayern, Barcelona e… Dínamo Kiev. No entanto, e ao contrário do que aconteceu, foi Lucescu agora que levou a melhor, num encontro onde aconteceu quase tudo ao português de bolas no poste a penáltis falhados, passando por uma expulsão.

O primeiro tempo teve quase sentido único, com o Fenerbahçe a assumir por completo o domínio do jogo a ser a única equipa com remates (mais do que no primeiro jogo todo na Polónia) à baliza dos ucranianos, sempre com Enner Valencia e Joshua King a serem as principais unidades no ataque dos turcos. Contudo, nem mesmo de bola parada esse domínio conseguiu ser materializado, com İrfan Kahveci a surpreender num livre direto que todos pensavam que iria ser para Diego Rossi mas a acertar no poste (20′). No minuto seguinte, King apareceu isolado após um dos poucos erros da defesa contrária mas atirou ao lado (21′). O intervalo chegava de novo com um nulo mas num encontro com características distintas.

Se os 45 minutos iniciais foram do Fenerbahçe, o arranque da segunda parte adensou ainda mais esse cenário, com a equipa da casa a carregar ainda mais no ataque até İsmail Yüksek ver o segundo amarelo e deixar a equipa reduzida a dez (53′). Aquilo que parecia um cenário ideal para chegar ao golo mudou de forma radical e pior ficou quatro minutos depois, com Vitaliy Buyalskiy a concluir sozinho na área uma grande jogada pela direita de Kedziora naquele que foi o único remate enquadrado do Dínamo Kiev (57′). A perder e com menos um, Jesus foi arriscando tudo com mexidas a partir do banco como o português Miguel Crespo mas nem de penálti a equipa marcou, com Enner Valencia a desperdiçar um castigo máximo em mais uma grande intervenção do guarda-redes Bushchan (70′), o MVP… até então.

A partida parecia estar decidida mas, numa fase em que Bruma conseguiu dar outra dinâmica ao ataque da formação turca, o guarda-redes ucraniano teve um erro tremendo na sequência de um canto marcado na direita por Lincoln, saindo da baliza sem tocar na bola e permitindo que Attila Szalai fizesse o empate de cabeça ao segundo poste (89′). Garmash, num remate que até saiu mal mas por pouco não deu assistência, ainda podia ter desfeito o empate ainda no tempo regulamentar mas o encontro seguiu mesmo para o prolongamento, com os ucranianos a terem desta vez maior iniciativa ofensiva com Altay Bayindir a ter algumas intervenções que foram segurando o empate até seis minutos do final, quando Karavaev surgiu de forma oportuna ao segundo poste para rematar forte para o 2-1 que deu a vitória ao Dínamo Kiev.