Carlos Moedas rejeita a ideia de que tenha prometido fazer uma estátua ao general Vasco Gonçalves em Lisboa. Em declarações ao Observador, à margem de uma visita a uma loja da Carris com Luís Montenegro, o Presidente da Câmara de Lisboa garante que ouviu “uma pessoa na reunião de câmara” desta quarta-feira e que se limitou a manifestar disponibilidade para “marcar uma reunião com essa pessoa”.

[Pode ouvir as declarações de Carlos Moedas à Rádio Observador no Noticiário das 13h (a partir dos 2:32)]

Carlos Moedas não quer fazer uma estátua a Vasco Gonçalves

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Na véspera, uma troca de impressões com o presidente da Associação Conquistas da Revolução, Manuel Begonha, na reunião pública da Câmara foi interpretada como a assunção de que Moedas faria ou uma estátua ou um busto em homenagem a Vasco Gonçalves, o que motivou rapidamente reação epidérmica em alguns setores ligados à direita, incluindo no CDS, parceiro de coligação do PSD, e a Iniciativa Liberal.

Quando o presidente da Associação Conquistas da Revolução decidiu apresentar a proposta para a criação um monumento de homenagem ao general Vasco Gonçalves, Moedas não fora tão claro quanto às reais intenções da Câmara. Perante a interpelação de Manuel Begonha, o presidente da Câmara de Lisboa prometeu trabalho conjunto em conjunto com a Associação e encontrar uma solução para concretizar a ideia.

“Em relação, concretamente, à construção de um monumento, penso que trabalharemos convosco um bocadinho mais na definição desse monumento, se seria uma estátua ou se seria um busto”, afirmou Carlos Moedas, depois de ter deixado claro que era “uma honra e um gosto continuar a homenagear o senhor general Vasco Gonçalves”.

Ora, ao Observador, Moedas faz questão de negar ter qualquer decisão tomada sobre o tema. “Nunca fiz nenhuma promessa sobre nenhuma estátua até porque não posso fazer promessas sobre esse tema”, concretizou o autarca.

Moedas assegura que autarquia tem vontade de homenagear vários intervenientes nesse período histórico do país e revela que quer ter no município “um evento muito específico para valorizar aquilo que foi o primeiro dia da nossa liberdade democrática [nascida] depois do 25 de Novembro“. De resto, o social-democrata diz “respeitar ambos os lados” e insiste que tudo fará para mostrar aos lisboetas que valoriza as “várias partes da história, nomeadamente o 25 de Abril e o 25 de Novembro”.

CDS e Inicitiva Liberal atiram-se a Moedas

Ainda antes do esclarecimento de Carlos Moedas aos microfones do Observador, o CDS e a Iniciativa Liberal já tinham emitido comunicados. O CDS diz que jamais aceitaria fazer parte de uma homenagem a Vasco Gonçalves. Pela mão da líder municipal na Assembleia Municipal de Lisboa e porta-voz da direção do CDS, Isabel Galriça Neto, o texto era lapidar: “O CDS votará contra todas as propostas, de qualquer origem partidária ou oriundas da sociedade civil, neste sentido”.

“Enquanto partido, o CDS esteve sempre na linha da frente do combate político a tudo aquilo que Vasco Gonçalves significou. Vasco Gonçalves simboliza o pior do PREC, na deriva tentada pela extrema-esquerda para implantação de um regime totalitário em Portugal, apenas não concretizado graças à vitória das forças democráticas em 25 de Novembro de 1975. Vasco Gonçalves foi obreiro das nacionalizações, da reforma agrária, das ocupações e de perseguições arbitrárias a pessoas que tinha como opositores”, podia ler-se no comunicado.

Mesmo elogiando Carlos Moedas e o “excelente trabalho” que o autarca está a fazer na capital, os democratas-cristãos deixavam claro que “do contrato de coligação com o PSD para a autarquia de Lisboa, não faz parte qualquer homenagem, monumento ou evocação da figura de Vasco Gonçalves”. Estará desfeito o equívoco.

“Lisboa é do povo, não é de Moscovo”, diz a Iniciativa Liberal que “condena veementemente intenção de criar um monumento a Vasco Gonçalves”. Diz o grupo municipal da Iniciativa Liberal que “a atuação de Vasco Gonçalves, enquanto primeiro-ministro, belisca a democracia ganha no 25 de Abril e reforçada no 25 de Novembro.

Considerando que “qualquer homenagem é uma afronta às vítimas do PREC e do Copcon”, a Iniciativa Liberal lembra que “Vasco Gonçalves é responsável pelo descalabro da reforma agrária imposta, nacionalizações e processos caóticos de descolonizações”

“Uma homenagem por parte do Executivo de Carlos Moedas a Vasco Gonçalves, é uma homenagem a uma personagem iliberal que tentou coletivizar o País, preferindo uma ditadura de esquerda a uma democracia”, considera o grupo municipal da Iniciativa Liberal no comunicado.

“Continuar a homenagear alguém que quis uma ditadura de esquerda em Portugal seria um erro gravíssimo por parte do executivo camarário. Vasco Gonçalves não merece uma estatueta que seja”, diz Miguel Ferreira da Silva, líder de bancada da IL na Assembleia Municipal de Lisboa.