Marques Mendes, no seu habitual comentário de domingo, considera “uma explicação absolutamente tardia” a do Patriarcado de Lisboa sobre a investigação do Observador que revelou que dois cardeais patriarcas — um deles o atual, D. Manuel Clemente — souberam de um caso de alegado abuso sexual de uma criança sem o denunciarem.

“A Igreja tarda em perceber que, nestas matérias, tem o dever de esclarecer, com verdade e prontidão”, nomeadamente nesta “situação inaceitável: um padre abusou sexualmente de uma criança, não foi investigado e fica impune porque não foi denunciado às autoridades”.

“Esta situação é grave”, mas Marques Mendes considera que a culpa é das regras da Igreja “erradas e injustas” até 2020. “Até há dois anos, um caso de abuso sexual não era denunciado às autoridades. Muito mal. Afinal, a lei é igual para todos, padres ou não padres. Ninguém está acima da lei. Ainda bem que o Papa Francisco teve a coragem de mudar as regras”.

Em relação aos patriarcas de Lisboa, D. José Policarpo (já falecido), em 1999, “ao tomar conhecimento do caso, devia tê-lo denunciado às autoridades judiciais e abrir um processo dentro da Igreja para afastar esse padre”. Era nesse momento e não em 2019 que a denúncia devia ter sido feita.

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Sobre D. Manuel Clemente, em 2019, “não se pode dizer que escondeu o caso. Se o cardeal o quisesse esconder, não teria tomado a iniciativa de falar com a vítima. E ele tomou por duas vezes essa iniciativa por sua iniciativa. Quem toma a iniciativa é alguém que não tem nada a esconder”. Mas além de ter recebido a vítima, D. Manuel Clemente devia “ter participado o assunto às autoridades. As regras nesse ano já estavam em mudança”. Em 2019, o caso já estaria prescrito. “E a vítima pedira o anonimato”.

Denúncia de abusos ocultada pelo patriarca. O que pode (ou podia) a justiça da Igreja Católica fazer?

Marques Mendes diz que D. Manuel Clemente devia ter dado todos os esclarecimentos que “demorou tempo demais”. A Igreja tem o “dever de responder com prontidão e verdade”. “Tudo isto é péssimo para a imagem da Igreja católica”.

Um caso resolvido no passado e os padrões que não correspondem aos de hoje. A carta aberta de D. Manuel Clemente nas entrelinhas