O Museu do Aljube Resistência e Liberdade anunciou esta quarta-feira a disponibilização online de parte do seu espólio, em MuseudoAljube.pt.

Nesta primeira fase são disponibilizados “os documentos de três fundos”: Oliveira Pio, Lino Bicari e da Biblioteca-Museu República e Resistência.

O Fundo de Oliveira Pio, antigo agente da PSP, é composto por comunicados, deliberações, declarações, informação e outros documentos sobre o assassinato do general Humberto Delgado, em 1965, em Espanha, ao qual se junta correspondência, documentação da oposição ao regime imposto pelo golpe militar de 28 de maio de 1926, em Portugal como na ex-colónias, assim como documentação de organizações e atividades políticas durante o período em que esteve exilado, e ainda recortes de imprensa e publicações.

Oliveira Pio (1927-1972) combateu o movimento da Monarquia do Norte, foi comissário da Polícia de Segurança Pública (PSP), em Lisboa, e viveu em África entre 1923 e 1925. Pio tinha servido o Exército português em Moçambique, durante a I Grande Guerra (1914-1918).

Em 1931, foi preso em Portugal e deportado para o campo de concentração de Oecússi, em Timor, do qual fugiu, tendo-se instalado em Madrid, voltando a ser preso em 1933, em Portugal, quando se preparava para participar em mais uma tentativa de golpe. Voltou a fugir, desta feita, da cadeia do Tribunal da Relação no Porto.

em Espanha participou com o grupo “Os Budas”, na compra de armas para usar no derrube da ditadura portuguesa, mas estas acabaram por ser apreendidas a bordo do navio Turquesa. Voltou a ser detido em 1934. Oliveira Pio juntamente com outros exilados em Espanha, participou no “Plano Lusitânia” para derrubar Oliveira Salazar, a partir Espanha.

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Em 1936, alistou-se nas forças republicanas, no âmbito da Guerra Civil Espanhola (1936-1939).

Até à sua morte, no Rio de Janeiro, manteve contactos com o republicano Emídio Guerreiro (1899-2005), um dos fundadores da Liga de Unidade e Ação Revoluvionária (LUAR), em 1967, e vários outros oposicionistas portugueses no exílio, e também com os espanhóis exilados no Brasil e com o governo republicano espanhol, no exílio no México.

O Fundo de Lino Bicari inclui intervenções, correspondência, documentos de sua autoria e imprensa, abordando questões como as lutas anticolonialistas e os Movimentos Independentistas e o Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC).

Nascido em 1935, em Borgo Val Di Taro, na Itália, cursou teologia no seu país natal e, mais tarde, língua portuguesa e administração. Em 1967, chegou à Guiné-Bissau, como missionário e assumiu o cargo de diretor do Internato da Missão Católica em Bafatá. Tomou contacto com a realidade local e inscreveu-se no PAIGC.

Regressou a Itália e chegou a conhecer Amílcar Cabral, líder da revolta contra a administração portuguesa na Guiné-Bissau, tendo regressado à então colónia portuguesa em 1973 e, já em rutura com o Governo português, iniciou uma estrita colaboração com o PAIGC na denominada “zona libertada”, na região do Boé, como diretor do Hospital Regional.

Após a independência da Guiné-Bissau, em 1974, Bicari desempenhou algumas missões políticas e cargos no âmbito da Saúde e Educação na República da Guiné-Bissau.

Bicari foi um dos raros estrangeiros a quem foi reconhecido, pelas autoridades guineenses, o estatuto de “Combatente da Liberdade da Pátria”. Em 1990 radicou-se em Portugal.

O Museu do Aljube Resistência e Liberdade, numa primeira fase, em 2015, e numa segunda, em 2019, recebeu parte do arquivo da Biblioteca-Museu República e Resistência (BMRR), constituído por diversos “espólios, coleções e materiais”.

O Fundo Biblioteca-Museu República e Resistência (BMRR) deu entrada no Museu do Aljube em 2015 e, numa segunda fase, em 2019, sendo constituído por boletins Informativos/da Esquerda política, comissões anti-eleitorais, documentação da Comissão Democrática Eleitoral (CDE), assim como da Comissão Nacional de Socorro aos Presos Políticos, com comunicados e correspondência.

Este fundo conta também com os dados da Comissão de Informação Anti-Fascista dos Portugueses Livres de Marrocos, com documentos da extrema-esquerda, e de estudantes sobre o exílio e exilados políticos, com fotografias e imprensa, elementos da Frente Portuguesa de Libertação Nacional (FPLN), da Junta de Ação Patriótica dos Portugueses da Argélia, da luta anti-colonial, do Movimento Associativo dos Estudantes do Ensino Secundário de Lisboa, do movimento sindical, da organização Mulheres na Resistência, Oposição Democrática, incluíndo panfletos, e de partidos de Esquerda, assim como dos Tribunais Plenários da ditadura, anterior ao 25 de Abril de 1974.