Quase cinco anos depois das explosões que destruíram um prédio de Alfama, em Lisboa, e feriram cinco pessoas, os antigos moradores queixam-se que continuam sem respostas, atribuindo as responsabilidades do acidente às empresas Lisboagás e E-Redes (EDP Distribuição).

As explosões, seguidas de incêndio, ocorreram no dia 13 de agosto de 2017 no número 59A da Rua dos Remédios, no bairro de Alfama, na altura um edifício com duas lojas e quatro apartamentos, dois deles em regime de Alojamento Local.

Explosões num prédio em Alfama. Há seis feridos, dois em estado grave

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Na ocasião, a proteção civil da Câmara Municipal de Lisboa indicou que o acidente provocou ferimentos em cinco pessoas e afetou dois edifícios contíguos.

Numa altura em que estão prestes a cumprir-se cinco anos do acidente, os antigos moradores do imóvel, que ficou inabitável, queixam-se de falta de respostas e encontram-se com um processo em tribunal para reivindicar responsabilidades das empresas Lisboagás e E-Redes (antiga EDP Distribuição).

“Nesse dia sentimos durante todo o dia um forte cheiro a gás. Foi um fuga de gás natural no ramal do subsolo pertencente à Lisboagás. O gás que andava livre contactou diretamente num cabo da rede elétrica, propriedade da EDP-Distribuição. Foi isso que originou as explosões”, disse à agência Lusa Sofia Cordeiro, que habitava no segundo andar do imóvel.

Sofia Cordeiro contou que o cabo elétrico, que teve contacto com o gás natural, “teve sucessivas avarias nos meses anteriores, tendo sido alvo de intervenções por parte da EDP Distribuição, inclusive no próprio dia do incidente.

As causas e responsabilidade por estas explosões viriam a ser “apuradas através de uma peritagem, conduzida por uma entidade independente, o Instituto de Soldadura e Qualidade, escolhida por todas as partes envolvidas”.

“A peritagem apurou que a instalação de gás do edifício se encontrava em perfeitas condições e estanque, mesmo depois das explosões. A responsabilidade só pode ser da Lisboagás e da EDP Distribuição”, sublinhou.

No entanto, apesar de as conclusões da peritagem indicarem que “os danos verificados na forra de ferro fundido que servia de proteção à tubagem de distribuição de gás natural da Lisboagás” terem sido originados por um contacto com um “cabo energizado da EDP“, nenhuma das empresas “assumiu a responsabilidade pelos danos causados“.

“Nem a Lisboagás, nem a EDP Distribuição contactaram os lesados ou se disponibilizaram para assumir responsabilidades e reparar os avultados danos causados. Pelo contrário, mantiveram sempre uma atitude distante, raiando mesmo o desprezo pelas pessoas envolvidas e pelos danos que causaram”, criticou Sofia Cordeiro.

Na sequência deste incidente, os proprietários e moradores das frações do imóvel interpuseram uma ação em tribunal para serem ressarcidos “dos avultados prejuízos sofridos” que, segundo a antiga moradora, ascendem a mais de 1,9 milhões de euros.

As audiências de julgamento ainda não tiveram início.

“Ao longo destes cinco anos, os professores, técnicos e comerciantes que tinham a sua pequena habitação ou loja neste edifício continuaram a pagar os empréstimos que contraíram para a sua aquisição, passando a acumular estes custos com os da sua habitação atual, do processo judicial e da reconstrução do prédio, apenas parcialmente suportada pelas seguradoras”, aponta Sofia Cordeiro.

Contactada pela Lusa, fonte da E-Redes rejeitou “qualquer responsabilidade pelo sinistro“, mantendo-se, no entanto, “disponível para colaborar com a investigação das causas do incidente”.

“No que se refere à explosão do prédio no número 59A da Rua dos Remédios, em Alfama, Lisboa, ocorrida a 13 de Agosto de 2017, cuja ocorrência e respetivas consequências, naturalmente, lamentamos, apenas podemos reafirmar que rejeitamos qualquer responsabilidade pelo sinistro, tal como demonstrado em sede própria”, afirmou a empresa.

Por seu turno, a Lisboagás não quis comentar este incidente, alegando que o caso se encontra em tribunal.