Foi um jogo, apenas um jogo, mas com essa curiosidade de se perceber se seria poderia transformar-se em mais do que um jogo. O verdadeiro “atropelo” do PSG frente ao Nantes na Supertaça funcionou como uma espécie de prolongamento da mudança de paradigma que o campeão francês tem manifestado no mercado, olhando para jovens valores que possam chegar ao topo do futebol em vez de jogadores do topo de futebol que algumas vezes mais não faziam do que tapar a ascensão de jovens valores. Da parte tática ao modelo de jogo, Christophe Galtier promoveu uma (r)evolução que caiu no goto pela qualidade demonstrada.

As constelações servem para deixar as estrelas brilhar. PSG conquista Supertaça com golos de Messi, Neymar e Ramos

Esse trabalho começou logo na pré-temporada e em alguns pontos naquilo que muitas vezes passa ao lado mas pode ser tão ou mais importante do que aquilo que se faz em campo. Exemplos: a obrigatoriedade de chegar à cidade desportiva de Camp des Loges entre as 8h30 e as 8h45 com bilhete de regresso a casa em caso de atraso, pequeno almoço em conjunto e com telefones proibidos, promoção das ligações entre todos os jogadores para evitar grupos, tentativa do técnico falar apenas francês no balneário, algo assumido pelo próprio numa entrevista esta semana ao Le Parisien explicando que, em alguns pontos e para evitar algum tipo de confusão, pode pedir depois tradução para ajudar na compreensão da mensagem.

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Nos primeiros tempos, tudo foi bem aceite. Mais: Neymar, tantas vezes acusado de não ter as melhores rotinas para um profissional, chegou uma semana mais cedo para melhorar a forma e tornou-se um dos primeiros a chegar para o pequeno almoço. Depois, essa mesma ligação ficou bem patente em campo: uma boa solidez defensiva com uma linha a três entre Sergio Ramos, Marquinhos e Kimpembé; laterais que são mais alas tendo em conta as características de Hakimi e Nuno Mendes; uma sintonia bem conseguida ao meio entre Verratti e Vitinha; um ataque que recuperou a alegria, tendo Neymar como figura, Messi a jogar mais na sua posição e Pablo Sarabia a ajudar muito sem bola. Correu tão bem que assim ficou.

Na estreia na Ligue 1, depois dos inícios a ganhar de Lyon (2-1, Ajaccio) e Mónaco (2-1, Estrasburgo), a equipa foi a mesma que venceu em Israel a Supertaça de França mas tendo o Clermont Foot como rival. E se na Supertaça Neymar tinha feito dois golos e uma assistência, agora fez mais um golo e duas assistências apenas na primeira parte de mais uma vitória arrasadora do campeão francês, fechando ainda com mais um passe para golo na metade final do encontro. Com ou mais ruído à volta, fosse pela alegada má relação com Kylian Mbappé, fosse pela falta de ligação a Messi, o número 10 está apostado em esquecer a pior época feita em 2021/22 na antecâmara também do Mundial do Qatar, entre novembro e dezembro. E desta vez com uma sentida homenagem a Jô Soares, escrita na ligadura do braço: “Beijo pró gordo”.

E se Neymar foi a grande figura da Supertaça com dois golos (tanto que foi ele a distribuir as medalhas aos companheiros de equipa na cerimónia protocolar), a Ligue 1 começou também com o brasileiro em plano de destaque. Primeiro, após uma incursão de Hakimi pela direita com cruzamento atrasado, ficou perto do golo; logo a seguir, na sequência de um lançamento longo de Nuno Mendes para Sarabia com passe do espanhol e amortecimento de Messi, marcou mesmo o 1-0 com apenas nove minutos de jogo. As contas não ficariam por aí na meia hora inicial, com Hakimi a aproveitar uma transição rápida que passou pelos pés de Neymar e Messi para disparar na área uma bomba sem hipóteses que fez o 2-0 (26′).

A sintonia entre Messi e Neymar fazia lembrar os bons velhos tempos de Barcelona mas era o PSG como um todo que voltava a dar nas vistas, tendo Nuno Mendes sempre seguro a defender e a combinar bem com Neymar ou Sarabia e Vitinha a recuperar bolas atrás de bolas mesmo ficando condicionado cedo com um cartão amarelo por uma falta em zona perigosa. E se o campeão podia ter chegado ao intervalo com uma vantagem ainda maior tamanho foi o caudal ofensivo (e Vitinha foi um dos que ficou muito perto também de marcar), o terceiro golo acabaria mesmo por chegar num livre lateral marcado por Neymar e com um desvio de cabeça de Marquinhos (38′). Nuno Mendes e Messi estiveram perto de marcar a seguir.

A segunda parte teve menor intensidade e até interesse mas continuou a ser o PSG a dominar por completo o jogo e o guarda-redes Mory Diaw a ser a grande figura do Clermont a evitar uma goleada com números bem mais expressivos. Nuno Mendes, que procurava ainda o seu primeiro golo oficial pelo PSG, viu mais uma tentativa agora adiada até Messi conseguir encontrar espaço, passar o primeiro adversário, dar em Neymar e receber depois mais uma assistência do brasileiro para fazer o 4-0 (80′) antes do melhor golo da partida, com Messi a receber de Paredes de costas e a marcar num pontapé de bicicleta (86′).