O Papa Francisco recebeu este sábado em audiência o embaixador ucraniano na Santa Sé, Andrii Yurash, numa altura em que o Vaticano estuda uma possível viagem do pontífice a Kiev para pedir o fim da guerra causada pela invasão russa.

O Vaticano limitou-se a confirmar o encontro com o diplomata, numa curta declaração, sem adiantar pormenores sobre o que foi discutido, como costuma fazer neste tipo de encontro diplomático.

O secretário para as Relações com os Estados, Richard Gallagher, que funciona como ministro dos Negócios Estrangeiros do Vaticano, explicou recentemente que esta reunião tinha como objetivo discutir a possibilidade de Francisco visitar Kiev.

O pontífice argentino tem mostrado preocupação com a situação na Ucrânia, invadida pela Rússia em 24 de fevereiro, e feito pedidos para que a paz seja negociada, oferecendo-se mesmo como mediador para acabar com o conflito.

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Durante a conferência de imprensa realizada no avião papal no regresso da viagem ao Canadá, em 30 de julho, Francisco reiterou o seu desejo de ir a Kiev, referindo que a diplomacia do Vaticano estava a fazer preparativos para perceber se é possível.

Na sexta-feira, o Papa recebeu o novo responsável pelos Negócios Estrangeiros do patriarcado de Moscovo, Metropolita Antonij di Volokolamsk, representante do patriarca Kirill, que sempre justificou e incentivou a invasão da Ucrânia.

Francisco e Kirill deram um passo em prol de um entendimento em 12 de fevereiro de 2016, abraçando-se em Havana, o primeiro gesto afetuoso entre líderes das duas igrejas em quase um milénio, desde o Grande Cisma do ano de 1054.

No entanto, os dois não esconderam as suas diferenças em relação à invasão da Ucrânia e, em março passado, numa conversa à distância, Francisco reprovou a guerra, afirmando que é sempre injusta.

“As guerras são sempre injustas porque quem paga por elas é o povo de Deus. Os nossos corações não podem deixar de chorar perante crianças e mulheres assassinadas e perante todas as vítimas da guerra. A guerra nunca é o caminho” certo, argumentou o papa na conversa com o patriarca, conhecido apoiante do Presidente da Rússia, Vladimir Putin.

Francisco, que tem lidado com alguns problemas num joelho que o obrigam muitas vezes a usar cadeira de rodas, confirmou uma viagem apostólica ao Cazaquistão entre 13 e 15 de setembro para participar do VIII Congresso Mundial dos Líderes de Religiões Mundiais e Tradicionais.

Os dois líderes religiosos podem estar presentes neste evento, segundo alguns meios de comunicação especializados, embora a possibilidade de um encontro ainda não tenha sido confirmada nem pelo Vaticano nem por Moscovo.

Na agenda oficial do pontífice no Cazaquistão, foi reservado um espaço, ao meio-dia do dia 14 de setembro, para “encontros privados com alguns líderes religiosos”, mas não foram dados detalhes.

A invasão da Rússia à Ucrânia e consequente guerra já causou a fuga de cerca de 17 milhões de pessoas das suas casas — mais de seis milhões de deslocados internos e mais de 10 milhões para os países vizinhos -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a II Guerra Mundial (1939-1945).

A invasão russa — justificada por Putin com a necessidade de “desnazificar” e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia – foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que está a responder com o envio de armamento para a Ucrânia e a imposição à Rússia de sanções que atingem praticamente todos os setores, da banca à energia e ao desporto.