O designer japonês Issey Miyake morreu na sexta-feira, 5 de agosto, com 84 anos, vítima de cancro no fígado, anunciou a agência de notícias japonesa Kyodo.
O criador fundou o seu estúdio de design na década de 70 — e dez anos depois, a casa Miyake Design Studio já era uma referência no universo da moda. Foi um dos primeiros criadores japoneses a apresentarem o seu trabalho em Paris, tendo sido um dos grandes responsáveis por colocar a moda japonesa no mapa mundial.
Miyake deixa um enorme legado. Na vanguarda dos avanços tecnológicos e conhecido pelas propostas práticas e inovadoras, destacava-se também no seu trabalho a utilização dos métodos artesanais, com técnicas influenciadas pelo universo das artes plásticas. No final da década de 80, criou uma nova forma de plissar os tecidos, envolvendo-os entre camadas de papel e colocando-os numa prensa térmica. Testado por bailarinos e confirmada a liberdade de movimento, nasce assim a icónica linha Pleats Please, sendo nela visível o seu trabalho com tecidos plissados, uma das suas maiores marcas.
Em 1998, lançou a emblemática A-POC (A Piece of Cloth), uma linha que traduzia a procura do criador por soluções de design que respondessem também aos hábitos de vida do quotidiano. A capacidade de criar algo que funcionasse “na vida real”, que servisse as tarefas do dia-a-dia, era para o designer fundamental.
Conhecido também por ter criado a camisola de gola alta preta, utilizada por Steve Jobs, fundador da Apple, de quem era amigo, Issey Miyake lançou ainda uma série de conhecidos perfumes, tendo-se estreado neste campo com o icónico L’Eau d’Issey.
Em comunicado, o seu estúdio lembra a irreverência, curiosidade e o trabalho artesanal do criador: “Nunca abraçando tendências, o espírito dinâmico de Miyake foi impulsionado por uma curiosidade implacável e desejo de transmitir alegria por meio do design. Sempre um pioneiro, Miyake abraçou o artesanato tradicional, mas também olhou para a próxima solução: a mais nova tecnologia impulsionada pela investigação e desenvolvimento”, pode ler-se na nota, partilhada pela Harper’s Baazar.
“Ele nunca se afastou de amor, do processo de fazer as coisas. Ele continuou a trabalhar com as suas equipas, criando novos designs e supervisionando todas as coleções sob as várias marcas Issey Miyake. O seu espírito de alegria, empoderamento e beleza será continuado pelas próximas gerações”.
Miayke nasceu em abril de 1938, em Hiroshima. Tinha sete anos quando a bomba atómica atingiu esta cidade japonesa — estava na sala de aula. Durante muitos anos não quis falar sobre o acontecimento. Mais tarde, a propósito de um artigo publicado no americano The New York Times, explicou que não queria ser rotulado como o “designer que sobreviveu”. “Quando fecho os olhos, ainda vejo coisas que ninguém deveria experienciar”, escreveu. Perdeu a mãe, três anos depois da tragédia, vítima da radiação.
Começou por querer ser dançarino ou atleta, mas encantou-se por este outro universo depois de começar a ler as revistas de moda da irmã. Estudou design gráfico numa universidade de arte de Tóquio, tendo-se especializado em design de moda em Paris, onde trabalhou com Guy Laroche e Hubert de Givenchy. Depois de passar por Nova Iorque, regressa a Tóquio e nasce o Miyake Design Studio.
Em 1997 reformou-se do design de moda, ainda que todas as criações da casa Miyake Design Studio fossem supervisionadas por ele.