Na noite de segunda-feira, Donald Trump confirmou que o FBI fez buscas no seu resort em Mar-a-Lago, em Palm Beach, na Florida, uma investigação que o ex-presidente dos EUA usou para acusar os “democratas da esquerda radical” de o impedirem de concorrer às presidenciais de 2024.

Segundo o The New York Times, duas pessoas ligadas à investigação indicaram que as buscas visam caixas que Trump levou consigo após deixar a Casa Banca, com documentos confidenciais que deveriam estar no arquivo nacional. Mas, ao mesmo tempo, o magnata também é alvo de uma investigação à alegada tentativa de interferência nas eleições de 2020 e ao assalto ao Capitólio, em janeiro de 2021.

São, portanto, vários os processos que Trump enfrenta nos tribunais e as investigações de que é alvo. A Reuters fez o levantamento de alguns.

FBI fez buscas no resort de Palm Beach de Donald Trump. Antigo presidente dos EUA diz que o querem impedir de concorrer às eleições de 2024

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Arquivos nacionais em falta

Quando saiu da Casa Branca, Donald Trump levou consigo várias caixas com documentos referentes à sua presidência, que deveriam ter sido arquivados — de forma a que pudessem ser usados para, se necessário, responsabilizar o presidente pelas suas ações. Aliás, a lei dita que remover tais registos pode constituir um crime.

Em fevereiro, o Arquivo Nacional dos EUA e a Administração dos Arquivos e Registos Nacionais (NARA) notificaram o Congresso sobre os documentos em falta e foram recuperadas 15 caixas da casa da Florida de Trump, algumas das quais continham material classificado.

Na altura, a comissão de supervisão da Câmara dos Representantes disse estar a alargar a investigação ao empresário, que já tinha confirmado a devolução de alguns arquivos num processo que apelidou como “usual e rotineiro”. Ou seja, desvalorizou a importância do caso.

O ataque ao Capitólio

Trump tem ainda sido investigado pela comissão criada de propósito para analisar o ataque ao Capitólio, em janeiro de 2021. Aqui, o ex-presidente é investigado por, alegadamente, ter tentado pressionar o então vice-presidente, Mike Pence, a rejeitar a certificação de Joe Biden ou a adiar a contagem de votos pelo Congresso, assim como por incitar à invasão do Capitólio.

Durante as semanas anteriores ao ataque, o magnata por diversas vezes levantou suspeitas de fraude na contagem dos votos. E já acusou a comissão de conduzir uma investigação fraudulenta.

A comissão não pode condenar Trump — essa responsabilidade é do Departamento da Justiça. Mas pode remeter acusações criminais ao procurador-geral. Se o fizer, o principal desafio dos procuradores será provar que o ex-presidente agiu com intenção corrupta.

Fraude

Na mesma comissão do ataque ao capitólio, os democratas alegam que Trump angariou cerca de 250 milhões de dólares a apoiantes para fazer alegações fraudulentas em tribunal de que tinha vencido as eleições. Esse dinheiro terá sido desviado para outros fins. Neste caso, Trump pode ser acusado de fraude bancária, por ter obtido dinheiro com base em “pretensões falsas”.

Interferência nas eleições na Geórgia

Ainda no dossiê das eleições, Trump é investigado por, alegadamente, ter influenciado os resultados eleitorais no estado da Geórgia, em 2020. A investigação centra-se numa chamada telefónica de Trump a Brad Raffensperger, secretário de Estado da Geórgia, em 2 de janeiro de 2021.

O então presidente dos EUA pediu que Raffensperger “encontrasse” os mais de 11 mil votos necessários para ser declarado vencedor, segundo uma gravação obtida pelo The Washington Post. Só aqui pode ter violado pelo menos três leis eleitorais da Geórgia.

O procurador principal do condado de Fulton, na Geórgia, Fani Willis, já lançou uma investigação a eventuais crimes eleitorais estatais, puníveis com multas ou prisão. Mas também aqui é preciso que se prove que Trump sabia que as suas ações eram fraudulentas.

Inquéritos em Nova Iorque

O magnata está ainda a ser alvo de investigações ligadas à empresa imobiliária do universo Trump, a Trump Organiation. Mais concretamente, se deturpou o valor das suas propriedades para obter empréstimos bancários favoráveis e pagar menos impostos.

Trump poderá ter inflacionado o valor dos imóveis para conseguir empréstimos ou desvalorizado esses mesmos valores para pedir isenções fiscais. Sempre negou ter cometido crimes.

O caso de difamação de E Jean Carroll

A ex-colaboradora da revista Elle, E Jean Carroll, processou Trump por difamação em 2019, depois de o então presidente ter negado a acusação de violação. Carroll acusou Trump de a ter violado nos anos 90, numa loja de Nova Iorque, mas negou as alegações. Mais: acusou Carroll de mentir para conseguir vender exemplares do seu livro.

“Ela não é o meu tipo”, respondeu Trump,  em 2019, quando questionado sobre as alegações de abusos. “Nunca aconteceu, ok?”, atirou ainda.

A defesa de Trump argumenta que o ex-presidente está protegido por uma lei federal que funciona como uma espécie de escudo para os funcionários do governo, que ficam, assim, imunes a acusações de difamação. O caso está atualmente em águas de bacalhau.