“Sempre fui um admirador da sua postura franca, mesmo não concordando com todo o seu posicionamento político”. É assim que começa a carta aberta que Jamil Chade, correspondente na Europa da plataforma brasileira UOL, dirigiu a Marcelo Rebelo de Sousa.

A carta publicada este domingo é escrita face ao que o jornalista considera ser a “fragilidade da democracia brasileira” e surge devido à presença do Presidente da Repúblicas nas comemorações do bicententário da independência do Brasil. Marcelo Rebelo de Sousa foi convidado por Jair Bolsonaro e estará presente nas cerimónias marcadas para o próximo dia 7 de setembro no Palácio Presidencial.

Jamil Chade deixa um alerta ao chefe de Estado português: “Como o senhor deve já saber, a sua presença será amplamente manipulada. Não haverá uma comemoração da nossa independência. Mas um sequestro da data pela extrema direita para justificar mais um triste capítulo da nossa história”.

“Uma data como a de 2022 deveria ser a ocasião para que façamos, de forma conjunta, um exame de consciência, uma busca por reconhecimentos mútuos de fracassos e êxitos. E, acima de tudo, para que tenhamos a coragem de traçar caminhos para levar ‘novos mundos ao mundo’, como vocês diriam”, salienta ainda.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

A transladação do temporária do coração de D. Pedro para o Brasil também é abordada por Jamil Chade: “Ouvi dizer que a FAB [Força Aérea Brasileira] vai trazer ao Brasil o coração de D.Pedro que está preservado em vossas terras e não entrou em combustão nos incêndios que devastaram nosso acervo do passado —e nosso sonho de futuro”.

Executivo do Porto unânime em transladar o coração de D. Pedro para o Brasil

A terminar a carta, o cronista pede a Marcelo Rebelo de Sousa para que “aproveite e apronte uma boa piada com o governo brasileiro”, escrevendo que sabe que “o bom humor” é outra característica do Presidente da República.

Quanto à presença de Marcelo no Brasil, Jamil Chade apela para que seja tomada uma decisão: “É decisão soberana do senhor pisar ou não as terras brasileiras neste momento”. “Uma ausência seria tão presente quanto uma viagem cruzando o mar do destino que nos une. Uma presença responsável seria tão épica quanto abrir um novo capítulo neste destino que busca um porto seguro para a democracia”, lê-se ainda na carta aberta.