A Assembleia Nacional da Venezuela acusou os EUA de pretenderem “apropriar-se” de um avião venezuelano retido na Argentina e condicionou a retoma do diálogo com a oposição à devolução da aeronave.

O que estão a fazer viola de forma absoluta todas as regulamentações internacionais em matéria aeronáutica e viola os direitos humanos dos venezuelanos na Argentina (…) o que está a acontecer é um vulgar sequestro de um avião e um vulgar sequestro de venezuelanos e de quatro cidadãos iranianos”, disse terça-feira o presidente do parlamento.

Jorge Rodríguez falava durante uma sessão do parlamento, no qual o chavismo detém a maioria, em que sublinhou que a posição venezuelana é “muito simples e clara”.

“Tal como dissemos com o diplomata venezuelano sequestrado, Alex Saab [detido em Cabo Verde e extraditado em outubro de 2021 para os EUA}, vamos dizer duas coisas: queremos que nos devolvam o avião e os nossos irmãos sequestrados“, frisou.

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Segundo Jorge Rodríguez, a Venezuela irá apelar a todos “os espaços internacionais” para conseguir que o avião seja devolvido e os “irmãos” regressem ao país.

Horas antes, durante uma marcha na capital, Caracas, o presidente do parlamento referiu-se à retenção da aeronave como “a pior agressão” dos últimos 150 anos para com o povo venezuelano e um país do continente americano.

“Não podem vir com nenhum argumento pseudo-jurídico, com invenções e notificações falsas”, disse o presidente do parlamento.

Segundo Jorge Rodríguez, o Presidente da Venezuela tinha “instruído esgotar as vias diplomáticas e jurídicas” para tratar deste assunto, “mas nesse momento já está claro que não há via jurídica” e que “o sistema de justiça argentino está ajoelhado aos desígnios” dos EUA.

Em 4 de agosto, o Presidente Nicolás Maduro acusou a Argentina de ter pretensões de “roubar um avião gigantesco, moderno, de carga,” que é “legalmente propriedade da Venezuela, por ordem de um tribunal imperial do estado da Florida, nos EUA”.

Maduro fazia alusão a um avião Boeing 747 Dreamliner, propriedade da empresa iraniana Mahan Air, que atualmente pertence à Emtrasur, subsidiária do Consórcio Venezuelano de Indústrias Aeronáuticas e Serviços Aéreos (Conviasa), que se encontra retido em Buenos Aires, Argentina, por ser alvo de sanções dos EUA.

“A Venezuela ergue o seu protesto e pede ao povo argentino todo o seu apoio para recuperar o avião que pertence a uma empresa venezuelana e que pretendem roubar, depois de ter sido sequestrado durante dois meses, (…) tal como tentam roubar o nosso ouro em Londres, a companhia Citgo”, disse.

No final de julho, o Tribunal Comercial de Londres decidiu a favor do líder da oposição, Juan Guaidó, no caso do controlo do ouro venezuelano depositado no Banco de Inglaterra.

Em 2018, um tribunal dos Estados Unidos autorizou o confisco de ativos da Citgo Petroleum Corp, a filial norte-americana da Petróleos da Venezuela, para “honrar uma dívida” do governo da Venezuela.

Segundo Maduro, o avião retido na Argentina era usado para levar ajuda humanitária aos países das Caraíbas e de África.

“[É] o avião em que trazemos medicamentos da China, Rússia, Índia e que desempenhou um papel fundamental no apoio humanitário da Venezuela“, explicou.

Em 17 de outubro de 2021, o governo venezuelano suspendeu as negociações com a oposição, que decorriam desde agosto de 2021 no México, com a mediação da Noruega.

A suspensão ocorreu um dia após a extradição, de Cabo Verde para os Estados Unidos, do empresário colombiano Alex Saab, considerado um testa-de-ferro de Maduro.

O governo venezuelano nomeou Saab um dos representantes nas negociações e condicionou a retoma do diálogo com a oposição à sua libertação.