Uma grande parte de Inglaterra foi esta sexta-feira declarada em estado de seca, num ano marcado pela ausência de chuva que bateu um recorde de quase meio século.

Esta medida, que implica, ao nível local, ações que podem até envolver restrições no uso de água, é declarada pela primeira vez desde 2018 e inclui vastas zonas, incluindo Londres, o vale do Tamisa e uma grande parte do sul, do centro e do leste de Inglaterra.

Anunciada no final de uma reunião de emergência convocada pela Agência para o Ambiente, esta declaração surge em plena vaga de calor no Reino Unido, a segunda deste verão, num país pouco habituado às temperaturas elevadas.

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Segundo os cientistas, estes episódios vão multiplicar-se, tornar-se mais longos e intensificar-se devido aos efeitos do aquecimento global.

Um alerta laranja, de “calor extremo”, está em vigor desde quinta-feira e até ao desta sexta-feira na quase totalidade do sul de Inglaterra e numa parte do País de Gales, de acordo com o Met Office, o instituto de meteorologia britânico.

Apesar de o recorde absoluto de 40,3ºC, atingido a 20 de julho, não dever ser igualado, esperam-se para esta sexta-feira temperaturas de até 35ºC, e mesmo de 36ºC durante o fim de semana.

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“O fornecimento de água está assegurado”, indicaram o Ministério e a Agência para o Ambiente num comunicado, precisando que as autoridades estão a instar as companhias das águas a “prosseguir o seu planeamento preventivo destinado a proteger os abastecimentos essenciais em caso de um outono seco”.

Apelamos a todos para gerirem a quantidade de água que utilizam neste período excecionalmente seco”, declarou o diretor-executivo da Agência para o Ambiente, Harvey Bradshaw.

O estado de seca esta sexta-feira declarado visa garantir que as empresas de fornecimento de água acionam os seus planos de contingência para lidar com a falta de água, nomeadamente com proibições de rega, lavagem de viaturas e enchimento de piscinas por particulares.

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Uma das operadoras da rede de distribuição de água, a Yorkshire Waters, anunciou uma medida semelhante a partir de 26 de agosto, juntando-se assim a várias outras companhias.

Em Kent, na costa sudeste do canal da Mancha, tais restrições entraram esta sexta-feira em vigor, e Londres deverá seguir-se nas próximas semanas.

Algumas empresas de distribuição são criticadas por não terem cumprido os seus objetivos em matéria de fugas de água.

Foram feitos progressos nos últimos anos, mas ainda há muito por fazer”, declarou o regulador do setor, Ofwat, exortando as companhias das águas a “reduzir as fugas”, “melhorar o seu desempenho ambiental e tornar-se financeiramente mais fortes”, embora apresentando aos consumidores “faturas acessíveis”, e “ajudá-los a reduzir o seu consumo”.

O Reino Unido viveu o mês de julho mais seco já registado em algumas regiões e o primeiro semestre mais seco registado desde 1976, não tendo o inverno e a primavera trazido as quantidades de precipitação habituais.

A situação é de tal ordem que a nascente do rio Tamisa está seca e o rio que atravessa Londres só começa a correr cerca de oito quilómetros mais adiante — uma situação inédita.

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Os incêndios de mato multiplicam-se, e nos parques londrinos, assim como em grande parte do Reino Unido, o verde habitual dos relvados deu lugar ao amarelo-palha e ao solo poeirento.

Estamos mais preparados que nunca para os períodos de tempo quente, mas continuaremos a acompanhar de perto a situação, nomeadamente o impacto na agricultura e no ambiente, e tomaremos, se necessário, medidas adicionais”, assegurou o secretário de Estado encarregado da Água, Steve Double.

Na sua exploração agrícola de Suffolk, a cerca de 150 quilómetros de Londres, Andrew Blenkiron explicou, citado pela agência de notícias francesa AFP, que teve que regar “sem dúvidas mais do dobro das vezes” os campos de cultivo de batata, devido ao “incrível calor” e ao “vento extremamente seco”.

Muito fértil, desde que receba nutrientes e água suficientes, a terra só obteve em julho cerca de 10% da precipitação habitual e menos de 50% em três meses.

Em plena época da batata, o agricultor viu-se obrigado a deixar as beterrabas entregues a si mesmas, ao ponto de agora apresentarem um aspeto frágil e atrofiado, quando normalmente teriam o tamanho de bolas de andebol.