A Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA) espera ter dentro de duas semanas informações do “estudo pioneiro” que decorre no Corvo, nos Açores, sobre o impacto da poluição luminosa em aves marinhas, foi esta quinta-feira revelado.

Em declarações à Lusa, Tânia Pipa, da SPEA, explicou que a mais pequena ilha dos Açores está a ser alvo de um “estudo pioneiro”, que consiste num apagão da iluminação pública dia sim, dia não, para avaliar “se a poluição luminosa afeta as visitas dos cagarros aos ninhos, no período em que alimentam as crias”.

O apagão iniciou-se a 01 de agosto e termina esta sexta-feira. No dia 24 de agosto esperamos ter informação sobre a experiência”, acrescentou.

Desde o início do mês, o Corvo tem estado a apagar a iluminação pública dia sim, dia não, entre as 22h00 locais (23h00 de Lisboa) e a 01h30.

A iniciativa é da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA) e da Câmara Municipal do Corvo, com o apoio do Parque Natural daquela ilha e pretende avaliar o efeito da poluição luminosa nos cagarros adultos.

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O objetivo é “proteger as aves marinhas, o grupo de aves mais ameaçado do mundo, sensibilizar para a problemática da poluição luminosa, aumentar o conhecimento desta ameaça e contribuir para a minimizar na população nidificante da mais emblemática ave marinha da Macaronésia”, sublinha a SPEA, em comunicado.

Nesta altura do ano, o casal de cagarros visita regularmente o ninho durante a noite para alimentar a cria.

Segundo a SPEA, a informação atual aponta que os adultos têm “tendência a afastar-se de zonas iluminadas (ainda que cerca de uma dezena seja desorientada pelas luzes anualmente), contrariamente aos juvenis que, ao abandonar o ninho em outubro-novembro, têm tendência a ser atraídos pela luz, desorientando-se nas vilas e cidades, muitas vezes com consequências desastrosas”.

A confirmar-se que os adultos tendem a afastar-se de zonas iluminadas, isso pode significar que, em colónias de nidificação com muita poluição luminosa, os adultos poderão ter de tomar uma rota maior para irem ao ninho alimentar a cria, pondo em perigo a próxima geração da espécie”, alerta a SPEA na nota.

Para o estudo que está a decorrer, técnicos da SPEA e a investigadora Elizabeth Atchoi (Universidade dos Açores) equiparam 42 cagarros adultos com emissores que permitem monitorizar o comportamento das aves quando visitam a colónia em noites com e sem apagão.

Os emissores foram colocados nas aves “na colónia mais próxima e mais afetada pela poluição luminosa na ilha do Corvo, que tem vindo a ser estudada desde 2017″, explica a SPEA.

A informação recolhida “é essencial para a implementação de medidas que possam minimizar esses efeitos, tendo em conta que esta é uma ameaça prioritária para as aves marinhas na Macaronésia”, lê-se no comunicado.

O estudo insere-se no projeto Interreg EElabs que visa avaliar os efeitos da poluição luminosa na população de aves marinhas e nas noites naturais.

Para isso, tem sido recolhida informação do “primeiro e único laboratório de poluição luminosa dos Açores, instalado na ilha do Corvo“, em sinergia com o trabalho da investigadora Elizabeth Atchoi”, que estuda a poluição luminosa e as aves marinhas no arquipélago açoriano, sublinha a SPEA.