Numa tarde muito cheia, com quase 1500 pessoas em Quarteira, no Algarve, Luís Montenegro aproveitou a boleia para se atirar à jugular de António Costa. “Neste Governo dos despachos quem merece ser despachado é o PS. Não há ninguém no Governo que assuma a responsabilidade”, atirou o novo líder do PSD.
“Não estamos apressados. O nosso caminho é longo, que não será fácil. Vamos ter de ultrapassar muitas dificuldades. Estamos muito cientes disso. Mas nós viemos mesmo para ganhar as eleições e para sermos governo em Portugal. Não estamos aqui de plantão.”
Ao lado de Pedro Passos Coelho, o grande convidado-surpresa da tarde, o antigo líder parlamentar apontou o dedo diretamente a António Costa. “O país precisa muito de nós. Estamos com o velho Governo socialista que está a empobrecer Portugal. O problema da falta de transformação de Portugal está no PS.”
“O PS confunde o próprio partido com o Estado. O tempo é de nos preparamos para esta tarefa e dizermos qual é a nossa prioridade. A primeira é a Saúde. O PS não esconde o fanatismo ideológico na Saúde”, insistiu Montenegro.
O líder social-democrata voltou a acusar o Executivo socialista de estar a “ganhar” com a crise inflacionista e defendeu que aquilo que era “moral” era devolver às famílias e às empresas o excedente que o Estado está a conseguir.
Numa referência indireta a Rui Rio, nunca nomeado, Luís Montenegro não esqueceu aqueles que, no PSD, defendiam que o mais importante era libertar o PS da ‘geringonça’. “Sei que até no PSD havia quem pensasse que o importante era tirar o PS das mãos do Bloco de Esquerda e do PCP. Mas o importante é tirarmos o Governo do PS.”
Falando em concreto sobre a questão da Endesa, Montenegro não popou críticas ao Governo socialista. “António Costa fez um despacho que é uma vergonha do ponto de vista institucional e do ponto de vista democrático. É o cúmulo do ridículo.”
Sobre o novo aeroporto, que mereceu uma troca de argumentos particular com Pedro Nuno Santos, Montenegro voltou a acusar o Governo de falta de governação. “Nós não temos uma oposição de casos. Temos é um Governo de casos. Há o caso do aeroporto. Parece mentira, mas aconteceu: o ministro escreve no Diário da República e apareceu o primeiro-ministro a dizer que não sabia nada.”
O líder social-democrata falou ainda da contratação de Sérgio Figueiredo, antigo diretor da TVI, por parte de Fernando Medina. “Estamos há quase uma semana para saber o que é que o Governo pensa disto. O único membro do Governo que falou sobre isto foi o primeiro-ministro para dizer que não era nada com ele. É quase anedótico. É gravíssimo.”
Passos Coelho: “Montenegro vai estar à altura das exigências que o PSD vai enfrentar”
A grande surpresa da tarde foi a presença de Pedro Passos Coelho. O antigo primeiro-ministro fez questão de marcar presença na rentrée do PSD ao lado de Luís Montenegro (jantaram na mesma mesa) para manifestar o apoio ao atual líder do PSD.
De resto, Montenegro não lhe poupou elogios. “É uma pessoa muito especial que se chama Pedro Passos Coelho. É uma alegria e uma emoção ter-te aqui. Tive e tenho muita honra e muito orgulho ter estado contigo. Foste um grande primeiro-ministro, digam o que disserem.”
Antes do discurso de Montenegro, logo à chegada, Passos explicou ao que vinha. “O PSD tem uma nova liderança, tem pela frente a possibilidade de liderar a oposição e, em simultâneo, preparar uma alternativa de Governo que o país vai precisar seguramente. Portugal vai precisar, não tenho dúvida nenhuma, de um Governo diferente daquele que temos e na altura própria os portugueses irão pronunciar-se sobre isso”, afirmou o antigo primeiro-ministro.
“Desejo-lhe a maior sorte do mundo, porque também é preciso ter um bocadinho de sorte nestas coisas. Mas sei que ele fará também pela sorte. Preparará uma solução de Governo e poderá pô-la em prática na altura certa”, sendo que “essa altura será quando o país precisar”, rematou Passsos Coelho.