O escritor Roberto Saviano, ameaçado de morte por documentar a máfia italiana em livros como “Gomorra”, reagiu este domingo ao ataque que Salman Rushdie sofreu na passada sexta-feira e elogiou o autor por não ter escolta no momento em que foi esfaqueado em Nova Iorque: é “um homem que experimenta a vida, não um mártir”, apontou ele num artigo publicado no El País.

O meu primeiro pensamento, ao saber que ele havia sido esfaqueado, não foi como o de muitos outros amigos, que condenavam a escolha de Salman de não ter escolta”, admitiu Saviano, que costuma estar acompanhado por guarda-costas: “Pensei, pelo contrário, na sua coragem de viver a vida plenamente”.

O jornalista napolitano recordou um aviso que o autor de “Versículos Satânicos” lhe deu quando ambos foram convidados pela Academia Nobel de Estocolmo a contar como é viver sob ameaça de morte, em 2009: “Vão-te culpar por não estares morto”. Saviano interpretou a mensagem como um conselho para que não viva como se já tivesse morrido.

Dois dias depois de o escritor ter sido atacado por Hadi Matar, presumivelmente à conta de uma fátua muçulmana extremista que pede a morte do escritor, Roberto Saviano comentou que “as punhaladas que cortaram a carne de Salman Rushdie atingiram um homem livre”.

“Ele decidiu lutar contra o fanatismo islâmico, não com proclamações ou calúnias, mas escolhendo viver um amor fanático pela vida e pela liberdade“, considerou o italiano. Apesar de ter vivido anos “com a obsessão pela morte”, Salman Rushdie decidiu “voltar à vida” porque “estavam a tirar-lhe o que mais conta para um escritor: a sua visão do mundo, a linguagem com a qual contá-la e inventá-la”.

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