Afinal, a testosterona não é responsável apenas por comportamentos agressivos e impulsos sexuais em machos. Um novo estudo com esquilos-da-mongólia comprova que a hormona sexual masculina também promove comportamentos pró-sociais, sem motivação sexual. Aliás, níveis mais elevados de testosterona transformaram os roedores em “super companheiros”, mais protetores e carinhosos para com as fêmeas.

As conclusões da experiência, que já foram revistas pela comunidade científica, foram publicadas numa revista dedicada às ciências biológicas. E são assinadas pela psicóloga Aubrey Kelly e pelo neurocientista Richmond Thompson, que além de serem colegas na Universidade Emory (Estados Unidos) são também um casal. “A ideia para nasceu de uma conversa entre nós com um copo de vinho”, admitiu Aubrey Kelly.

No laboratório, a psicóloga e o neurocientista fizeram duas experiências. Numa delas, fizeram de cupido: juntaram um macho e uma fêmea de esquilo-da-mongólia, ela acabou por engravidar e ele, que costuma ser agressivo durante a época de acasalamento, desenvolveu os típicos comportamentos carinhosos que os machos exibem durante a gestação das companheiras.

Foi nesse momento que os cientistas injetaram o roedor macho com uma dose extra de testosterona, esperando que a hormona tornasse o animal mais agressivo e menos atencioso com a fêmea. Mas aconteceu precisamente o contrário: “Ficámos surpreendidos porque o esquilo-da-mongólia macho tornou-se ainda mais fofinho e pró-social com a sua parceira”. Tornou-se num “super companheiro”, descreveu Aubrey Kelly.

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Isso também pode estar relacionado com uma outra hormona: a oxitocina, muitas vezes apelidada de “hormona do amor”. Segundo os cientistas, os indivíduos do sexo masculino que receberam injeções de testosterona exibiram mais atividade de oxitocina no cérebro quando interagiram com as parceiras do que os roedores que não receberam qualquer injeção.

Os nossos resultados sugerem que uma das razões para esta sobreposição é para [as hormonas] trabalharem juntos para promover o comportamento pró-social”, conjeturou Aubrey Kelly: “É como um painel de botões complicado, em que um parâmetro pode precisar de subir um pouco enquanto outro desce”.

Numa outra experiência, retirou-se a fêmea da equação ao fim de uma semana e cada um dos machos que havia recebido uma injeção de testosterona ficou sozinho numa jaula. Julgava-se que, quando outro macho fosse colocado no interior da jaula, o roedor original ia caçar o novo visitante — ou, no mínimo, ignorá-lo.

Aubrey Kelly e Richmond Thompson enganaram-se outra vez porque os machos residentes que tinham sido previamente injetados com testosterona eram mais amigáveis ​​com o visitante. Foi preciso receberem uma segunda dose de testosterona para que os roedores exibissem o comportamento que os cientistas tinham previsto. “Foi como se eles acordassem de repente e percebessem que não deveriam ser amigáveis ​​naquele contexto”, explicou a psicóloga.

Para os cientistas, a ação da testosterona parece depender do contexto. Como a concentração desta hormona aconteceu quando os machos estavam com as fêmeas com quem tinham acasalado, os roedores passaram a agir de forma mais pró-social depois da injeção. Mas a nova dose de testosterona fê-los despertar para um novo contexto — aquele em que havia um invasor por perto — e o comportamento mudou.