Os algoritmos das redes sociais decidem o que os utilizadores veem e a ordem pela qual têm acesso a determinados conteúdos. A China pretende que as pessoas compreendam o que determina o que encontram numa página da internet e porque é que algumas publicações são escolhidas para aparecer em vez de outras.

Pela primeira vez, tecnológicas chinesas como a ByteDance, dona do TikTok, ou a Alibaba partilharam detalhes sobre os seus algoritmos com o regulador chinês, a Administração do Ciberespaço da China (CAC, na sigla em inglês). Assim foi publicada uma lista que contém as descrições de 30 algoritmos — incluindo seis da Alibaba, um da ByteDance, dois da Tencent e três do Baidu — e que será atualizada regularmente para tentar conter o abuso de dados, noticia esta terça-feira a BBC.

Através da lista partilhada online e analisada pela imprensa internacional é possível perceber que o site de compras Taobao — propriedade da Alibaba — “recomenda produtos ou serviços aos utilizadores através da sua pegada digital” e dos dados do histórico de pesquisa. Os algoritmos determinam não só o conteúdo a que cada pessoa tem acesso, mas também servem para orientar decisões no comércio online. Por exemplo, a Alibaba seleciona os conteúdos a que alguém tem acesso tendo também em conta as compras que essa pessoa fez ou o volume de vendas de cada produto.

Por outro lado, a ByteDance mede o interesse das pessoas que utilizam a Douyin (versão chinesa do TikTok) através de um algoritmo que tem em conta os cliques dos utilizadores, a duração dos vídeos que assistem, o que é que comentam, em que conteúdos colocam “gosto” e outros dados do histórico de utilização dessa rede social.

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O WeChat, uma das redes sociais mais populares na China e propriedade da Tencent, recomenda conteúdos e informações com base no histórico de navegação do utilizador — porque o algoritmo vê as interações dessa pessoa e consegue gerar publicações para lhe recomendar.

Nesta primeira lista publicada esta sexta-feira não é aprofundado o código de cada algoritmo e também não fica claro até que ponto as tecnológicas revelaram o seu software. Ainda assim, sabe-se que cada empresa recebeu um número de registo para que o regulador consiga exercer um maior controlo.

À BBC, Kendra Schaefer, chefe de pesquisa de políticas de tecnologia da Trivium China, disse que “não parece que os próprios algoritmos tenham sido submetidos” e que os dados parecem ser de “nível de superfície”. Isto porque a lista disponível online contém apenas descrições curtas de como os algoritmos funcionam e acerca da forma como as empresas os aplicam.

Não conheço nenhum outro país no mundo onde possas ver uma lista de todos os pedaços de código que estão essencialmente a informar-te das decisões de compra que tomas, das decisões de visualização de conteúdo que tens”, acrescentou Kendra Schaefer que considera “notável” a partilha da lista.

Porém, Zhai Wei, diretor executivo de um centro de investigação sobre concorrência na Universidade de Ciência Política e Direito da China Oriental, afirmou à Bloomberg que as informações fornecidas são “muito mais detalhadas” do que aquelas que foram publicadas online.

Isto envolve alguns segredos comerciais, que não podem ser divulgados ao público”, acrescentou.

Mesmo assim, Zhai Wei vincou, em declarações à Bloomberg, que o regulador chinês, por enquanto, “exige apenas informações básicas das empresas”, mas que poderá procurar “mais detalhes” para investigar “alegações de violações de dados”.

É devido à justificação de que os algoritmos são segredos comerciais que outras gigantes tecnológicas, nomeadamente a Google e a Facebook, têm conseguido resistir às pressões de que são alvo para partilharem a forma como selecionam o conteúdo a que os utilizadores têm acesso.

Segundo o El Español, a China tem um histórico de controlo da internet, regulando ou censurando o que é publicado nas redes sociais. No passado mês de março, o regulador chinês adotou novas regras e estabeleceu que as empresas têm de fornecer à Administração do Ciberespaço da China informações que não são públicas sobre os dados que recolhem e sobre a segurança dos algoritmos que utilizam.

O regulador chinês defendeu que o novo regulamento, que entrou em vigor em março, originou esta partilha de detalhes dos algoritmos por parte das empresas, que devem “promover energia positiva” e permitir que os utilizadores recusem as recomendações personalizadas que os seus serviços geram, refere o South China Morning Post.