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Como é que um grupo de mercenários experientes, conhecidos como o “exército privado” de Vlamidir Putin, sofre um ataque tão grave, numa localização supostamente secreta, que provoca mais de 100 vítimas mortais (segundo as forças ucranianas)? A explicação pode ser tão simples como improvável: graças a um par de fotografias tiradas (e publicadas) com pouco cuidado.

Há quem considere a história bizarra e admita que foi encenada, mas a tese corre também na Rússia depois de a Ucrânia ter anunciado, esta segunda-feira, que conseguiu atingir uma base do  grupo Wagner — um grupo paramilitar que não tem existência formal, mas que já foi reconhecido por Putin — em Popasna, Lugansk (uma das autoproclamadas repúblicas populares na Ucrânia apoiadas pela Rússia). O ataque terá resultado na morte de uma centena de combatentes, e segundo rumores não confirmados, entre as quais estaria o líder do movimento, Yegveny Prigozhin.

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Segundo conta o Daily Telegraph, a explicação para a localização deste local secreto poderá estar na publicação, até ver inocente (e entusiástica), de fotografias do local onde estavam instalados por um jornalista da televisão estatal russa. Dias antes, o jornalista pró-Kremlin tinha publicado nas suas redes sociais (e é visível nalgumas publicações que replicam essas fotografias) imagens que revelavam a localização da base onde estava o grupo Wagner.

Numa delas, como apontam utilizadores do Twitter, até é possível aproximar a imagem de forma a ver a placa que indica a rua onde estão. Noutras aparece o oligarca russo Yegveny Prigozhin, dado como próximo de Putin e líder do grupo, que fontes ucranianas diziam ter morrido na sequência do ataque — entretanto, a Nexta, canal da Bielorrússia, publicou fotografias onde aparece supostamente no cenário de destroços pós-ataque.

O jornalista que publicou as fotos escreveu também nas redes sociais sobre o contacto que teve com estes operacionais: “Cheguei a Popasna. Fui à base dos Wagner. Receberam-me como família e contaram-me algumas histórias engraçadas”.

Mas a publicação da história terá tido como efeito coletaral a revelação da localização, o que aconteceu apenas uns dias antes de a Ucrânia ter conseguido arrasar o local recorrendo ao sistema de Himars — um sistema de lançamento de rockets de alta precisão enviado pelos Estados Unidos.

A Ucrânia confirmou o ataque esta segunda-feira e o governador exilado da região de Lugansk, Serhiy Gaiday, afirmou mesmo que “as notícias vão claramente ser boas, com o número de baixas a rondas as cem”. O ataque tem provocado ondas de choque também na Rússia. Um canal russo de Telegram, citado pelo Telegraph, disse na segunda-feira que os militares russos estão a “desenterrar” as vítimas mortais em Popasna, na legenda de uma fotografia que mostrava os destroços.

No Telegram, alguns canais pró-Rússia queixaram-se da aparente facilidade com que uma localização secreta foi assim revelada e destruída.

Outros investigadores — nomeadamente o investigador independente Ruslan Leviev — consideraram a história tão bizarra que colocaram a hipótese de se tratar, na verdade, de um esquema da própria Rússia, classificando as fotografias publicadas inicialmente pelo jornalista como demasiado “encenadas” para serem genuínas. “Parecia que os russos estavam a fazer um convite para um ataque àquele local”, alertou, citado pelo mesmo jornal britânico.