Estava na dúvida sobre o que poderia estar a valer, saiu da qualificação com uma marca acima do que na teoria poderia pensar. A par de Auriol Dongmo, que conquistou a medalha de prata na final do lançamento do peso, Liliana Cá foi um dos grandes destaques nacionais no primeiro dia dos Europeus de atletismo, ganhando a sua série de apuramento com qualificação direta para a prova decisiva e terminando o dia com o segundo melhor registo apenas atrás da croata Sandra Perkovic. No entanto, não queria ficar por aqui.

Mais uma final com uma boa surpresa: Liliana Cá bate registo pessoal do ano e faz melhor marca da qualificação no disco

“Não deixei para o fim. Estava ainda a tentar acordar. Acordei às sete da manhã, não consegui dormir à tarde e custou um pouco a acordar. Depois de acordar, lá saiu. Estava à espera de uma boa marca, não de 65,21. Na última semana, treinámos bastante e estávamos a treinar mesmo no fundo do poço porque quando viemos dos EUA custou-me bastante a recuperar e continuei a treinar mesmo com aquele cansaço. Estava exausta, portanto não estava à espera de fazer 65 [metros] mas estava à espera de uma boa marca. Agora, é chegar às medalhas. No primeiro Europeu em que participei, estava a lutar por ir à final. Agora, estou a lutar por uma medalha”, comentou o apuramento para a competição decisiva.

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Os números e os atuais momentos de forma davam asas a essa esperança. Entre as 12 finalistas, a atleta da Associação Desportiva Novas Luzes era a que tinha a sexta melhor marca pessoal mas, olhando apenas para o ano de 2022, chegava com uma das três melhores marcas – aqueles 65,21 que fez no apuramento. Mais: nos Jogos Olímpicos, onde acabou em quinto, foi a terceira melhor europeia e nos Mundiais, que terminou em sexto, foi também a quarta europeia. A luta estava mesmo em aberto, sendo que, caso alcançasse o registo da véspera, Liliana Cá só tinha de esperar que alguma das adversárias não chegasse ao seu melhor para reforçar ainda mais essa aspiração depois da sétima posição alcançada em 2018.

Liliana Cá sexta no lançamento do disco nos Mundiais de atletismo

Depois de uma carreira intermitente, onde passou pelo Sporting e pelo Benfica (neste caso uma passagem mais curta) além dos ingleses do New Ham & Essex Beagles quando viveu longos anos em Inglaterra, Liliana Cá esteve cinco anos sem competir mas voltou a ser desafiada pelo seu treinador Luís Herédio. O resultado começou a ver-se nos Jogos de Tóquio, depois de já ter batido no final de fevereiro de 2021 o recorde de Teresa Machado, a grande referência que teve como atleta e que foi um das melhores atletas nacionais de sempre nas disciplinas técnicas. Seguiram-se os Mundiais. Vinham agora os Europeus. Tudo já com 35 anos e um espírito de resiliência como poucas como mostrou também na final olímpica que fez à chuva e que prosseguiu mesmo depois de ter escorregado e deslocado a rótula na queda.

Caiu, ligou o pé, a rótula saiu do sítio. Tentou mais sem êxito. Liliana Cá fez histórico quinto lugar mas chorou por não gostar de desistir

O primeiro lançamento até deixou a ilusão de ótica de ter escapado um pouco na parte final mas acabou por colocar Liliana Cá na segunda posição da final com 63,67, apenas atrás da neerlandesa Jorinde van Klinken (64,03) e à frente das três alemãs na prova decisiva: Claudine Vita (63,24), Shanice Craft (62,55) e Kristin Pudzen (62,44). E curiosamente seria a última a saltar para a frente da competição sendo a primeira a passar a fasquia dos 65 metros (65,05) antes da portuguesa fazer um ensaio a 61,70. Faltava apenas “aparecer” a croata Sandra Perkovic, que iniciara a final com um nulo mas que conseguiu 65,77 para saltar para a aguardada liderança da prova deixando nessa fase Liliana Cá na quarta posição. Já Irina Rodrigues fez o melhor ensaio na terceira tentativa com 56,23 mas ficou fora das oito primeiras (11.ª).

Pudenz não demoraria a responder à croata, passando de novo para a frente com 66,93. E essa não seria a única boa notícia para as germânicas na antecâmara dos últimos três ensaios depois de Claudine Vita passar para a terceira posição com 65,20, a melhor marca pessoal do ano. A segunda fase do concurso começou com mais risco por parte da oito finalistas, que levou a vários nulos entre eles o de Liliana Cá. Enquanto Perkovic recuperava de novo o primeiro lugar com um lançamento a 67,95 (Pudenz bateu o seu recorde pessoal mas ficou com 67,87 a apenas oito centímetros), a portuguesa fez um segundo nulo e adiou tudo para a sexta e última tentativa, onde fez o terceiro ensaio consecutivo nulo acabando em quinto. Na frente Perkovic conseguiu mesmo segurar a vitória, a sexta em Campeonatos da Europa.