Liz Cheney perdeu o seu lugar no Congresso dos Estados Unidos na terça-feira, 16 de agosto, depois de ter saído derrotada nas primárias no estado de Wyoming. A vice-presidente do comité responsável por investigar a invasão ao Capitólio, a 6 de janeiro de 2021, perdeu para Harriet Hageman. Contrariamente a Cheney, Hageman tem  apoiado a teoria sobre resultados fradulentos nas eleições presidenciais de 2021, defendida por Donald Trump desde que perdeu a presidência dos Estados Unidos para Joe Biden. Cheney teve 31% dos votos e Hageman perto de 65%, avança o jornal americano The Washington Post, que cita a AFP.

“Há dois anos, ganhei as primárias com 73% dos votos. Podia ter facilmente feito o mesmo outra vez. O caminho era claro, mas exigia que eu colaborasse com as mentiras do presidente Trump sobre as eleições de 2020”, disse Cheney no seu discurso, citada pelo The Guardian. “Teria exigido que eu permitisse os seus esforços contínuos para desfazer o nosso sistema democrático e atacar as fundações da nossa república. Esse era um caminho que eu não conseguia e não iria seguir.”

A derrota da filha de Dick Cheney, antigo vice-presidente de George W. Bush, que representou o estado do Wyoming na Câmara dos Representantes dos Estados Unidos durante uma década, não foi uma grande surpresa: prevista nas sondagens, é mais uma prova da base de apoio que Donald Trump mantém dentro daquele partido. Os republicanos que se opõem ao ex-presidente e às suas teses sobre eleições fraudulentas têm vindo a perder as primárias, como no caso dos estados do Ohio, Pensilvânia, Arizona ou Michigan.

“Não há lugar na Câmara [dos Representantes], no gabinete, nesta terra que seja mais importante do que os princípios que todos nós jurámos proteger. E eu percebi bem as consequências políticas de manter o meu dever”, disse, numa alusão às suas posições anti-Trump, que lhe tem valido várias ameaças de morte por apoiantes de Trump.

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“A nossa República conta com a boa vontade de todos os candidatos para aceitar honrosamente o resultado das eleições. E esta noite Harriet Hageman recebeu o maior número de votos nestas primárias. Ela ganhou. Liguei-lhe para conceder. Esta eleição primária acabou. Mas agora começa o verdadeiro trabalho.”

No final do seu discurso, Liz Cheney, que foi elogiada pelo partido Democrata e criticada pelos Republicanos pelas suas posições, reforçou a promessa de não deixar que Donald Trump volte a assumir o cargo anterior — o ex-presidente já falou na possibilidade de anunciar candidatura nas eleições de 2024. “[Vamos fazer] o que for preciso para garantir que Trump não se volta a aproximar da Sala Oval.

Na sequência da derrota, vários republicanos celebraram a saída de Liz Cheney. “Parabéns a Harriet Hageman pela sua vitória massiva no Wyoming contra Liz Cheney, o fantoche de Nancy Pelosi”, escreveu a congressista pelo Estado de Nova Iorque, Elise Stefani, número três na Câmara dos Representantes.

Horas depois da derrota, a republicana revelou que não põe de parta a hipótese de candidatar nas presidenciais de 2024. “É algo  em que estou a pensar e tomarei a decisão nos próximos meses”, disse em entrevista ao programa “Today”, da NBS.

Até lá, a presidente do comité de investigação dos eventos de 6 de janeiro vai estar a fazer “tudo o que for preciso” para manter Donald Trump fora da Casa Branca. “Acredito que Donald Trump continua a representar uma grande ameaça — um risco para a nossa república — e penso que derrotá-lo vai implicar uma frente unida de Republicanos, Democratas e independentes e é disso que planeio fazer parte.”