Os efeitos do contexto económico mais desfavorável e também os desafios trazidos à área dos jogos pelo aumento de regras no mercado chinês estão a pesar nas contas da Tencent, levando a empresa até a fazer uma estreia. Criada em 1998, até aqui a tecnológica chinesa nunca tinha visto as receitas recuar.

No segundo trimestre, a empresa registou uma quebra homóloga de 3% nas receitas, para 134,03 mil milhões de yuans, o equivalente a 19,4 mil milhões de euros. Este valor ficou aquém das estimativas feitas pelos analistas da Refinitiv, que apontavam para valores de 134,6 mil milhões de yuans (19,5 mil milhões de euros).

Também o lucro da companhia ficou abaixo dos números de há um ano: a empresa registou um resultado líquido de 28,1 mil milhões de yuans, cerca de 4,1 mil milhões de euros, uma queda homóloga de 17%.

Ma Huateng, “chairman” e CEO da Tencent, aponta que a empresa já pôs em prática algumas medidas para conseguir atravessar um período que está a trazer “condições difíceis para as receitas”. “No segundo trimestre já saímos de alguns negócios que não eram essenciais, reduzimos os nossos gastos com marketing e cortámos nas despesas operacionais”, diz em comunicado.

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Daqui para a frente, Huateng frisa que a empresa se vai focar “na melhoria da eficiência do negócio e no lançamento de novas iniciativas para criação de receitas”. Nesta vertente, partilha que isto poderá também passar pela inclusão de publicidade nas contas do Tencent Video, o serviço de streaming de vídeo da empresa, que é um dos mais populares no mercado chinês. Ao mesmo tempo, Huateng sublinha que a empresa quer continuar a alavancar inovação através de investimentos em investigação e desenvolvimento.

Apesar do contexto económico mais desafiante, que está também a afetar outras empresas do setor da tecnologia, o CEO da Tencent partilha que a empresa poderá estar bem posicionada “para um crescimento de receitas à medida que a economia da China se expande”. Na lógica deste CEO, a empresa “gera aproximadamente metade das receitas a partir dos negócios de fintech e serviços empresariais, assim como de publicidade online”, que poderão beneficiar da evolução da economia.

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No segundo trimestre, foi visível o impacto da quebra das receitas da publicidade online. Esta área gerou receitas de 18,6 mil milhões de yuans, cerca de 2,7 mil milhões de euros – uma quebra de 18% em termos homólogos. O recuo das receitas desta área está ligado à “notável fraqueza dos serviços de internet, educação e setores financeiros, especialmente em abril e maio”, justifica a Tencent. As receitas de publicidade media tiveram um tombo ainda mais expressivo, de 25%, para 2,5 mil milhões de yuan, cerca de 360 milhões de euros, “devido às menores receitas de publicidade no serviço Tencent Video e Tencent News”.

Na área dos jogos, que gera cerca de um um terço das receitas, a empresa refere que está também a viver o “período de digestão pós-pandémico”, que também se vive na indústria a nível internacional, com os jogadores a passarem menos tempo em casa. A Tencent tem investimentos feitos em alguns dos maiores estúdios de videojogos do mundo, sendo também responsável por jogos como PlayerUnknown Battlegrounds (PUBG). No mercado internacional, a empresa reportou uma quebra de receitas de 1%, para 10,7 mil milhões de yuan, cerca de 1,55 mil milhões de euros, com quebras de receitas nos jogos “PUBG Mobile” e também em “Brawl Stars”.

A quebra nas receitas do mercado doméstico também foi de 1%, para 31,8 mil milhões de yuan. Na China, os principais decréscimos de receita têm sido registados em títulos como “Honor of Kings”, “Moonlight Blade Mobile” ou ainda em League of Legends. A empresa refere que esta quebra dos jogos no mercado chinês está não só ligada às regras específicas deste mercado, com diretrizes para limitar o acesso de menores a jogos, mas também a um período com menos lançamentos de títulos chamativos e a um maior controlo dos gastos por parte dos consumidores.

A Tencent tem ainda uma forte presença na área das redes sociais, já que é dona do WeChat. O número de utilizadores desta plataforma aumentou 3,8% em termos homólogos, para 1,3 mil milhões de utilizadores.

Número de trabalhadores recua pela primeira vez em oito anos

A Tencent, uma das empresas mais relevantes do mercado chinês, apresentou a primeira quebra do número de trabalhadores em quase dez anos, nota a Bloomberg. Em junho deste ano, a empresa tinha 110.715 empregados, menos 4,7% face aos números do trimestre anterior.

A Bloomberg nota que este é o primeiro recuo do número de trabalhadores a nível trimestral desde 2014, ano em que a empresa fez a primeira redução do total de trabalhadores.

Ainda assim, na comparação homóloga, a companhia viu o número de trabalhadores aumentar, já que há um ano tinha 94.182 empregados.

A empresa recorda nesta apresentação de contas que “o número de trabalhadores empregados pelo grupo pode variar dependendo das necessidades” da empresa.

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