Viver a 15 minutos de Lisboa para quem usa o transporte fluvial no Seixal tem sido nos últimos tempos quase uma miragem face aos constrangimentos sentidos, um sentimento comum aos passageiros que usam o barco para ir trabalhar.

Entre os dias 8 e 12 e 16 e 19 deste mês, os trabalhadores da Transtejo estão em greve parcial em cada turno de serviço, o que tem levado à supressão de carreiras em períodos de maior movimento.

Neste dia, segundo dia de greve da segunda semana de luta, eram poucos os utentes que esperavam pelo anunciado primeiro barco da manhã, às 11h00, para ir trabalhar para Lisboa.

O barco partiu quase cheio, mas de turistas que cada vez mais optam por se alojar no Seixal, concelho do distrito de Setúbal que fica à beira rio com vista para Lisboa. Turistas que, alheios aos problemas vividos, seguem com um ar tranquilo de quem tem todo o tempo do mundo.

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Já os tradicionais utentes do transporte, conhecedores da frequente intermitência do serviço por problemas técnicos, agora acrescida da greve parcial nas horas de ponta que decorre até sexta-feira, optaram por outros meios de transporte para chegar ao destino.

Paula, auxiliar num hospital em Lisboa e que vive numa zona habitacional muito próxima da estação fluvial, opta sempre pelo barco quando o horário de trabalho assim o permite.

Em declarações à agência Lusa explicou que, por vezes, é quase como uma lotaria.

“Tento sempre ir de barco até porque a viagem é mais agradável. Quando regresso faço o mesmo, mas por vezes acabo por ser obrigada a voltar para trás e a apanhar o comboio e aí já demoro pelo menos uma hora a chegar a casa”, contou.

A fraca procura dos utentes habituais prende-se não só com a atual situação, mas também com o facto de agosto ser um mês de férias, explicou à Lusa um dos funcionários da estação.

Mas, acrescentou, há “cada vez mais turistas a fazer a travessia”.

O mesmo foi confirmado pela funcionária de um pequeno café junto à estação, que assegurou que nas últimas semanas, com a redução do número de travessias, a faturação também diminuiu.

“Vejo muitos turistas, isso sim. O Seixal tem um potencial imenso”, afirmou, lamentando os constrangimentos sucessivos que afetam diariamente quem trabalha em Lisboa.

Elisa, antiga residente no Seixal que há 15 anos vive na Madeira, ficou surpreendida com o estado das coisas.

“Não fazia ideia que isto estava assim. As minhas filhas vão agora para a faculdade este ano e, por isso, vim ao continente. Imagino que no próximo ano letivo, se calhar, vão optar por usar o comboio da ponte“, referiu, manifestando tristeza pela situação.

A ligação entre as duas margens tem sofrido também constrangimentos noutras estações fluviais: Cacilhas, Montijo e Trafaria.

Entre este dia e sexta-feira, a travessia fluvial que liga Cacilhas (Almada), Seixal e Montijo à cidade de Lisboa só é possível a partir das 11h00 devido à greve parcial dos trabalhadores da Transtejo, que afeta as horas de ponta.

Por norma, as ligações fluviais entre as duas margens iniciam-se as 06h10 no caso do Seixal, às 05h20 em Cacilhas, às 06h00 no Montijo e às 06h42 no caso da Trafaria.

Segundo a Federação dos Sindicatos de Transportes e Comunicações (Fectrans), os trabalhadores estão a realizar greves parciais em cada turno de serviço, “pelo facto de a administração/Governo não ter iniciado um efetivo processo de negociação, de modo a discutir as reivindicações sindicais, das quais, além da valorização salarial, consta a melhoria do serviço público”.

Devido à greve, que se realiza durante os dias de semana desde o dia 8 de agosto, todas as carreiras ao início do serviço e ainda em horas de ponta durante a tarde foram suprimidas, estando as estações encerradas durante esse período por razões de segurança, segundo a empresa.

De acordo com a estrutura sindical, “a resolução dos problemas nesta e noutras empresas públicas é uma opção política entre fazer os investimentos necessários para valorizar os trabalhadores e fixá-los, ou optar por responder às exigências dos grupos económico-financeiros, à custa dos trabalhadores e do serviço público”.

A Fectrans considera que “só há um conflito laboral porque a administração/Governo opta pelo silêncio e por ignorar os protestos de trabalhadores e utentes”.

A empresa, por seu turno, divulgou na sua página da Internet informações sobre as perturbações de serviço de 16 a 19 de agosto.

Nos avisos, a transportadora dá a indicação das carreiras cuja realização está prevista para cada uma das ligações entre as duas margens, ou seja, entre Lisboa e Cacilhas, Seixal, Montijo e Trafaria.

A Transtejo adianta que, a realização, ou não, de carreiras está dependente da adesão à greve.

A Transtejo é responsável pela ligação do Seixal, Montijo, Cacilhas e Trafaria/Porto Brandão a Lisboa, enquanto a Soflusa faz a travessia entre o Barreiro e o Terreiro do Paço, em Lisboa, sendo esta a única ligação sem constrangimentos previstos.