O balanço que o Governo (secundado pelo Presidente da República) faz sobre o combate aos incêndios é, até agora, positivo — mas o risco continua muito elevado. Por isso mesmo, o Executivo decidiu esta sexta-feira voltar a declarar o estado de alerta em Portugal continental, que significará a adoção de uma série de medidas para evitar que a situação se descontrole.

Depois de uma reunião com os responsáveis por várias pastas governativas (Defesa, Trabalho, da Saúde, Ambiente e da Agricultura), o ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro, voltou, como já tinha feito em julho, no maior pico de preocupação com os incêndios, a confirmar que é necessário ativar o estado de alerta, neste caso entre o próximo domingo e terça-feira (21, 22 e 23 de agosto), com reavaliação agendada para segunda-feira ao final do dia.

O que isto significa na prática só se saberá com mais pormenor quando o Governo publicar a declaração escrita do estado de alerta. Mas Carneiro adiantou que serão impostas “limitações especiais” quanto ao uso de fogo, máquinas, trabalhos agrícolas e acesso aos espaços florestais.

Haverá também um reforço do patrulhamento dissuasor, com mais 25 patrulhas das Forças Armadas colocadas por todo o país, a trabalhar já a partir desta sexta-feira; a autorização à Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil para contratar mais 100 equipas de bombeiros (500 operacionais) para “manter o vigor e a eficácia que tem existido até agora”; uma antecipação do pagamento às corporações de bombeiros que têm combatido incêndios rurais, no valor de um milhão de euros; e uma flexibilização do regime dos bombeiros voluntários, que nesta situação deixam de precisar de autorização da entidade patronal para poderem juntar-se ao combate aos fogos.

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Os cuidados extra justificam-se, explicou, graças à análise dos fatores de risco elevado que se colocarão em Portugal nos próximos dias, incluindo o novo pico de calor com temperaturas de mais de 40 graus (mesmo que não tão quentes como em julho, quando Portugal esteve em situação de alerta e de contingência); os ventos fortes; a situação de seca severa e extrema; a massa florestal “acumulada” com uso do fogo e razões acidentais a explicarem 64% dos incêndios; e um aumento do incendiarismo para o dobro: representa 26% dos casos. A isto soma-se o desgaste dos meios, humanos, materiais e logísticos, a que é preciso dar resposta, e as dificuldades na mobilização dos bombeiros voluntários, por estarem a trabalhar.

Mesmo assim, Carneiro recusou que as cautelas tenham a ver com qualquer balanço negativo da forma como tem corrido o combate aos incêndios, incluindo ao grande fogo da Serra da Estrela, até agora. E disse estar de consciência tranquila por saber que “todos têm dado o seu melhor” — com uma ressalva: a responsabilidade que terá de assumir se algo correr mal, frisou, será só a que tem a ver com a sua pasta, da Administração Interna; no que toca aos fogos, há muito a fazer para os evitar antes de a sua área ter de entrar em ação, sugeriu.

Marcelo dá cobertura à estratégia do Governo, mas mantém pressão: “Responsabilidade apura-se no fim”

Carneiro e o Governo contam, neste ponto, com a cobertura do Presidente da República — pelo menos para já. Ainda esta quinta-feira o ministro contava com a companhia de Marcelo, precisamente numa visita na sede da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil, e ouvia-o dizer que até agora a situação é muito menos grave do que em 2017, mas também que as responsabilidades políticas só serão apuradas no fim desta “guerra”. Foi, aliás, o próprio Marcelo que adiantou aos jornalistas que o Governo anunciaria medidas sobre incêndios esta sexta-feira.

Também Carneiro evitou estender-se nas declarações otimistas cedo demais: apesar de garantir que tem sido possível “salvaguardar vidas humanas e património edificado” graças a todos os meios que o Estado pôs ao dispor do combate aos fogos desde a primeira hora, reconheceu que “naturalmente há muito a fazer até ao fim deste período”. Mas, aproveitando a cobertura de Marcelo, puxou a si as declarações do Presidente: “Como foi reconhecido pelo Presidente da República, o balanço comparado com outras alturas e países é positivo”. No fim da “guerra” se verá se a conclusão é igual.