Deixou as sementes do grande Parma que apareceu na década de 90, foi bicampeão europeu e mundial pelo AC Milan numa das melhores equipas da história do futebol, não assumiu mais nenhum projeto desportivo. Um pouco à semelhança do que se passou com o argentino Jorge Valdano em Espanha, Arrigo Sacchi ficou como uma espécie de reserva moral fora dos relvados, um pensador que está acima dos resultados também pela forma que teve de ver o jogo estando à frente no tempo. Por isso, quando fala, todos ouvem. E a maneira como abordou o papel da Roma nesta Serie A, em entrevista à Gazzetta dello Sport, acionou os alarmes na concorrência: o conjunto de José Mourinho tem capacidade para andar lá por cima na tabela.

O futebol não foi assim tão Speciale mas Mourinho está de volta: Roma começa Serie A a ganhar fora

“Paolo Dybala pode ajudar a Roma a dar um salto de qualidade. AC Milan, Inter e Juventus vão lutar pelo scudetto mas cuidado com Mou. E a Fiorentina está a crescer. A vitória na Liga Conferência na temporada passada foi uma faísca importante. Sigo a Roma com atenção, Mourinho deu entusiasmo. É muito bom a gerir emoções, as suas e as dos seus jogadores”, comentou o antigo técnico. “A Roma será a surpresa, o Dybala é o elemento que faltava. Digo isto porque acredito que Mourinho é um grande treinador: está preparado, taticamente é difícil superá-lo, é um comunicador fenomenal e também é muito bom como motivador. Será capaz de fazer da Roma um grupo unido a correr na mesma direção. Com Dybala a imaginação e a imprevisibilidade estão garantidas, desde que a equipa tenha uma manobra harmoniosa. Deve ser uma orquestra. Mas é preciso cuidado, é uma cidade que pode ser facilmente exaltada e deprimida. Encontrar o equilíbrio, mesmo em campo, será a sua principal tarefa”, acrescentou Sacchi.

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Os elogios a tudo o que o técnico português conseguiu dar ao clube e à equipa não param, com os adeptos romanos a mostrarem um entusiasmo como há muito não se via – e o troféu ganho na última época foi também importante para isso. No entanto, e depois da vitória fora com a Salernitana, Mourinho sofreu uma importante e pesada contrariedade, com a fratura da tíbia que vai deixar de fora Wijnaldum nos próximos meses. E a lesão do antigo médio de Liverpool e PSG foi aproveitada pelo treinador para fazer uma reflexão sobre os tempos que correm e sobre o outro lado do futebol que tem vindo a ganhar impacto.

“Às vezes o futebol pode ser mau. Em apenas duas semanas, o Gini [Wijnaldum] tornou-se um de nós pelas suas qualidades humanas (já conhecíamos as suas qualidades futebolísticas). Infelizmente, num acidente muito azarado, sofreu uma lesão má que o vai impedir de jogar por um longo período. Mas não é só o futebol que às vezes pode ser mau, as pessoas também podem… Aquelas pessoas que lançaram os rumores que um miúdo top como o Felix [Afena-Gyan] seria responsável pelo que aconteceu são mesmo escumalha. Vamos estar todos juntos esta noite: jogamos pela Roma, pelo Wijnaldum e pelo Felix”, escreveu José Mourinho na sua página oficial do Instagram, dando o mote para o jogo com a Cremonese.

“Não olho para a Cremonese como uma equipa que subiu da Segunda mas sim como uma equipa que é muito bem organizada e que tem um treinador que merece muitos elogios. Eles sabem como disputar um jogo e como limitar os pontos fortes do adversário. Além disso, fizeram investimentos importantes no mercado de transferência. Calendário? Daqui a duas semanas vamos ter um jogo a cada dois, três dias. Foi um presente muito bom para nós, jogar com o Monza dois dias depois de defrontar a Juventus. Obrigado… É mais difícil de vencer em Itália, porque todas as equipas estão muito fortes e isso são más notícias para nós que queremos fazer melhor do que na temporada passada no Campeonato e também vencer a Liga Europa”, tinha referido na conferência de imprensa antes do jogo desta segunda-feira.

A primeira parte começou com uma Roma a todo o gás, a “engolir” o adversário empurrada por um Estádio Olímpico cheio com um ambiente eletrizante. Pellegrini, chegando ligeiramente atrasado ao segundo poste depois de um cruzamento de Abraham da direita, obrigou Radu à primeira defesa (3′), depois foi Dybala e Abraham a combinarem para mais um lance de perigo (8′), a seguir Zaniolo e Dybala com dois remates de meia distância consecutivos para defesa de Radu (18′). A Cremonese conseguiu depois equilibrar o jogo, com mais posse assente na superioridade a meio-campo que os romanos não tinham capacidade para disfarçar, mas a grande nota até ao intervalo seria mesmo a lesão potencialmente grave de Zaniolo, a cair em cima do ombro e a ficar de imediato a pedir assistência, dando lugar a El Shaarawy.

O jogo estava complicado para a Roma, sobretudo pelo “buraco” no setor intermédio com os médios Cristante e Pellegrini muitas vezes contra três e quatro adversários nessa zona entre uma defesa distante e avançados que não desciam o suficiente. E mais complicado poderia ter ficado logo a abrir, com Mancini a facilitar após pontapé longo do guarda-redes romeno e Dessers a acertar na trave da baliza de Rui Patrício (47′). O sinal estava dado, os sinais de preocupação vindos das bancadas eram cada vez maiores, mas a bola parada voltou a fazer a diferença, com Smalling a aparecer ao segundo poste para desviar de cabeça um canto da esquerda de Pellegrini (65′). Matic entrou pouco depois para tentar segurar a vantagem mínima e os romanos conseguiriam manter o 1-0 antes do encontro grande frente à Juventus apesar de um último susto em cima do minuto 90 com um remate de Pickel que tocou ainda no poste. Se é verdade que a Roma continua a não encantar, a equipa ganhou um nível competitivo que vai garantindo vitórias.