Análises feitas pelo robô norte-americano Perseverance a amostras de rochas vulcânicas que recolheu em Marte, onde pousou em 2021, indicam que foram alteradas por água líquida, segundo estudos esta quinta-feira publicados.

O veículo robótico pousou em 18 de fevereiro de 2021 na cratera Jezero, onde terá havido um lago e um delta (foz de um rio), no âmbito de uma missão conduzida pela agência espacial norte-americana NASA.

De zonas distintas do fundo da cratera, umas mais fundas do que outras, foram recolhidas e analisadas pelo robô amostras de rochas ígneas (formadas pela solidificação do magma) que posteriormente passaram por alterações por ação da água em estado líquido, de acordo com os autores dos estudos.

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Os estudos, feitos a partir de dados obtidos pelo robô, equipado com uma broca e instrumentos de laboratório, estão plasmados em quatro artigos publicados nas revistas científicas Science e Science Advances.

As amostras rochosas, guardadas em tubos no robô, serão posteriormente enviadas numa outra missão para a Terra, onde se espera que cheguem em 2033 para serem analisadas com mais detalhe.

Ambas as missões enquadram-se no propósito da procura de vida microbiana passada em Marte, atualmente um planeta inóspito. A água em estado líquido é uma condição essencial para a vida tal como se conhece.

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Segundo um dos autores de um dos estudos, David Shuster, geoquímico e professor na Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, a análise laboratorial das amostras na Terra vai permitir aos cientistas datá-las e aferir com maior rigor quando é que existiu o lago que atualmente é uma cratera e em que altura as “condições ambientais poderiam ter sido propícias à vida”.

Algumas questões ainda em aberto resumem-se a quando é que o clima em Marte foi favorável à formação de lagos e rios na sua superfície e quando é que mudou para as condições muito frias e secas atuais.

Antes da missão com o robô Perseverance (Perseverança), os geólogos pensavam que a cratera estava à superfície cheia de sedimentos ou de lava (material em fusão expelido pelos vulcões e de cuja solidificação, por arrefecimento, resultam rochas vulcânicas).

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No entanto, em dois locais, numa zona da cratera identificada pelo nome Séítah, as rochas parecem ter-se formado no subsolo e durante o arrefecimento lento de uma espessa camada de magma (massa de minerais em fusão). O que quer que cobrisse estas rochas ígneas terá erodido nos últimos 2,5 a 3,5 mil milhões de anos, de acordo com os cientistas.

As rochas de Séítah apresentam uma composição semelhante a alguns meteoritos marcianos, sendo feitas principalmente de olivina (grupo de minerais abundante na Terra que pode ter cor esverdeada e tem silicatos de magnésio e ferro).

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De uma outra zona da cratera, chamada Máaz, foram retiradas rochas ígneas que parecem ter-se formado por arrefecimento mais rápido e são mais ricas em piroxena (grupo de minerais que tem silicatos de magnésio, ferro e cálcio).

Segundo os autores dos estudos esta quinta-feira publicados, as rochas de Máaz podem ter feito parte da camada superior de um lago de magma que encheu a cratera e arrefeceu lentamente, uma vez que se sobrepõem à camada rochosa exposta na zona de Séítah.

Outra hipótese admitida é que as rochas ígneas de Máaz podem ser resultado de uma erupção vulcânica posterior.

De acordo com os estudos, tanto as rochas de Séítah como as de Máaz revelam alterações produzidas pelo efeito de água líquida, embora de modo diferente. As rochas de Máaz contêm bolsas de minerais que podem ter condensado a partir de salmoura (água saturada de sal) e as rochas de Séítah reagiram com água carbonatada (água com gás carbónico).