Ajustados os últimos detalhes, entre os mais de 120 pavilhões que por estes dias foram montados nos jardins do Palácio de Cristal, a Feira do Livro do Porto está de regresso, este ano centrada na poesia e com uma homenagem à obra de Ana Luísa Amaral. Entre editores, livreiros e alfarrabistas, as expectativas para as vendas nesta edição são positivas, numa feira que muitos consideram já ir além do conceito: “É um festival literário”.

“Nos últimos dois anos esta feira foi o nosso balão de oxigénio. Foi ela que nos permitiu ultrapassar o restante ano mais facilmente. E é também um momento muito esperado por todo o público. Para além de todos os eventos, temos livros com descontos, algo que numa altura de tanta inflação e de tanta incerteza económica é sempre bom de aproveitar”, conta ao Observador Francisco Reis, da Livraria Poetria, que mais recentemente mudou de casa.

A única livraria especializada em poesia e teatro do país é presença assídua na Feira do Livro e tem vindo a assistir à evolução do próprio evento na cidade. Francisco Reis destaca a diferença “a nível de ofertas e de temáticas” e diz estar expectante quanto às vendas este ano: “Na altura da pandemia as nossas expectativas eram muito baixas e ficamos agradavelmente surpreendidos. Queremos crer que as pessoas vão aproveitar esta oportunidade para poderem adquirir livros a preços que normalmente não conseguem ter”, destaca.

Na Livraria Snob — que há nove anos escolheu a Feira do Livro do Porto pela “liberdade e independência” do evento — as expectativas também são positivas e espera-se conseguir atingir resultados semelhantes aos de 2021, o melhor ano da livraria em termos de vendas. “Foi a primeira grande reabertura. As pessoas tinham vontade de sair, de se reencontrarem, de mergulhar nos livros, foi muito bom. O objetivo é aproximarmo-nos do ano passado, já ficaria bastante contente”, refere Duarte Pereira, proprietário desta livraria e editora independente originária de Guimarães.

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Ainda assim, o livreiro admite que este ano alguns fatores como a inflação possam ter peso “e retrair um ou outro leitor” na hora da compra: “Este ano sente-se mais dificuldades, mais peso na carteira dos leitores devido à inflação e a uma série de coisas que têm vindo a acontecer”. Nesta edição do evento, e no meio dos cerca de dois mil títulos que tem na sua banca, a Snob traz também livros da Livraria Saudade, que distribui editoras brasileiras em Portugal.

A Feira do Livro do Porto termina dia 11 de setembro e conta com 84 expositores, 126 pavilhões, 22 concertos, 11 conversas, nove lições e 46 atividades infantojuvenis, quatro sessões de cinema e cinco sessões de palavra soprada, num programa que pode está disponível online.

O mote da “produção poética” e a homenagem a Ana Luísa Amaral

O mote é a “produção poética” e no centro de toda a programação da Feira do Livro do Porto 2022 está a homenagem à escritora e poeta Ana Luísa Amaral, que morreu a 6 de agosto deste ano, aos 66 anos. Nuno Faria, coordenador da programação, explica que com o desaparecimento da autora, foi necessário alterar, adaptar e reforçar alguns aspetos do programa — que foi trabalhado juntamente com a própria poeta.

Alteramos alguns pormenores e alargamos a plataforma de encontro em torno da Ana Luísa Amaral — que já era bastante ampla, com uma série de especialistas, de cúmplices, de companheiros de estrada nas várias áreas em que tinha uma participação pública ativa. Enquanto professora, enquanto poeta, enquanto ativista dos direitos da mulher ou da causa queer, enquanto radialista. É uma plataforma que alargamos, mas o programa que desenhamos com a Ana Luísa mantém-se íntegro, ainda que sem a sua presença”, explica Nuno Faria.

Este fim de semana estão agendadas várias conversas com especialistas, uma homenagem e a projeção do documentário “Entre dois rios e outras coisas”, dedicado à escritora. Antes, às 11h30 deste sábado, Maria Irene Ramalho, que foi professora e mentora de Ana Luísa Amaral, vai dar uma lição a partir de dois livros da autora: “O Olhar Diagonal das Coisas” e o volume de ensaios “Arder a Palavra e Outros Incêndios”.

Para esta sexta-feira, dia de arranque da Feira do Livro do Porto, o destaque vai para o poeta e ensaísta Manuel Gusmão, que vai ter uma exposição na Biblioteca Municipal Almeida Garrett, inaugurada as 17h, e também um programa de lições que se inicia às 21h com Helena Carvalhão Buescu.

Nuno Faria destaca também o programa infanto-juvenil disponível, o regresso dos concertos de bolso espalhados por vários locais — o primeiro acontece esta sexta-feira às 19h no Terreiro do Roseiral — e também as atividades de cinema, realizadas com o apoio do Cineclube do Porto.

Este ano, refere o responsável, a expectativa é que a Feira do Livro volte também a ter a liberdade de movimento que a pandemia impediu nos últimos dois anos. “As pessoas estarão muito mais à vontade, muito mais confortáveis, libertas para percorrer os jardins do Palácio sem nenhuma limitação e as expectativas são muito elevadas, porque se já na altura das condicionantes ditadas pela pandemia a feira foi um sucesso de público e de vendas, mais nós achamos que este ano também o vai ser”, sublinha.