Claro que tudo pode ser resumido à questão da eficácia, já que o Sporting poderia ter marcado vários golos na primeira parte e o Desp. Chaves capitalizou as duas que teve na segunda. Claro que tudo pode ser resumido à questão da frieza do futebol, já que o Sporting foi traído pela transição rápida quando não conseguiu fazer golos de forma apoiada. Claro que podem existir mil questões para explicar a derrota do Sporting com o Desp. Chaves. No fundo, só uma importa: o Sporting foi menos consistente, menos capaz e menos equipa do que o Desp. Chaves. 

Rúben, quem é que te guardou a sorte a sete Chaves? (a crónica do Sporting-Desp. Chaves)

Os leões somaram a segunda derrota consecutiva, depois do pesado desaire no Dragão, e têm apenas quatro pontos conquistados em quatro jornadas, estando a cinco pontos de FC Porto e Benfica — cinco pontos que depressa podem ser oito se os dragões vencerem o Rio Ave este domingo e se os encarnados vencerem o P. Ferreira na terça-feira. Com os dois golos sofridos este sábado e os seis sofridos entre Sp. Braga e FC Porto, o Sporting já concedeu 40% dos golos que sofreu em toda a temporada 2020/21, a época em que foi campeão nacional.

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Há sete meses que a equipa de Rúben Amorim não sofria dois golos frente a uma equipa que não fosse Benfica, FC Porto e Sp. Braga — na altura, em janeiro de 2022, foi contra o Santa Clara — e há cinco anos que o Sporting não sofria duas derrotas seguidas no Campeonato, desde os desaires contra Belenenses e Feirense em 2016/17. Além disso, esta foi a primeira vez na história que o Desp. Chaves venceu em casa de um dos “três grandes”, engrossando um arranque de temporada leonino que já não era tão negativo desde… 2001/02, o ano em que os leões foram campeões com László Bölöni.

Na zona de entrevistas rápidas, Rúben Amorim não escondeu o desagrado com a exibição da equipa, essencialmente na segunda parte. “Na primeira parte podíamos ter o jogo resolvido. Criámos oportunidades e o Desp. Chaves não chegou à nossa baliza. Na segunda parte, fez um golo de livre e depois voltámos a sofrer. Depois disso, não tivemos capacidade nem cabeça fria para reagir. Os cruzamentos não saíram bem. Tentámos ao máximo alargar o campo, subir o Coates para aproveitar os cruzamentos, mas não tivemos qualidade nesse aspeto. Uma equipa fez golos e a outra não, um bocadinho à semelhança do que aconteceu na jornada passada [contra o FC Porto]. É um momento difícil e agora temos de pensar no próximo jogo”, disse o treinador leonino, comentando depois as fragilidades defensivas dos leões.

“Não permitimos muitas oportunidades… Mas temos sofrido muitos golos. Obviamente que é algo a trabalhar mas temos de voltar a vencer, porque trabalhar sobre vitórias é melhor. Esta equipa já viveu momentos muito bons no Sporting. Está na altura de passar por momentos difíceis e focar no que podemos, que é melhorar os cruzamentos, as transições, as bolas paradas e os remates à baliza, para fazer golos e vencer”, acrescentou Amorim, que foi também questionado sobre o facto de Coates ter sido a referência ofensiva a partir do segundo golo do Desp. Chaves, já que não existia outra alternativa de raiz.

“Falamos sempre do mesmo. Quando acontecem derrotas, vão sempre existir lacunas em tudo o que é sítio no plantel. Já falámos no planeamento, a minha ideia não muda com vitórias ou derrotas. O Coates resolveu muitos jogos na primeira época. É o melhor jogador de cabeça, o Paulinho está lesionado e não está cá. Mas não estivemos bem nos cruzamentos, não rematámos… O Desp. Chaves fez dois golos em dois remates e isso deixou-nos intranquilos. Mas faz parte do futebol”, terminou o treinador leonino.

Já na conferência de imprensa, Rúben Amorim falou pela primeira vez, de forma mais aberta, sobre as críticas que Slimani lhe fez na chegada ao Brest, garantindo que o técnico não queria que o argelino fizesse boas exibições para proteger Paulinho e não tirar a titularidade ao português. “O Slimani está muito preocupado com a imagem que passa, no que as outras pessoas pensam. Não está preocupado com a situação em si. Esperou pelo timing certo para, nesta fase, fazer as suas queixas. Vejo tudo de outra forma. A mim, basta saber o que aconteceu e que ele o saiba. Isso é o mais importante para mim. O que os adeptos pensam… Por mim, quero que o Slimani continue a ser o herói que é para eles. De mim, não terá nenhuma crítica nesse aspeto. O staff e os jogadores sabem o que se passou. Não vou ser eu a responder ao Slimani, porque disse-lhe tudo na cara. Ele teve oportunidades para me dizer as coisas na cara e nem abriu a boca. Dormi de consciência tranquila, não terá uma resposta da minha parte. Quando voltar a Lisboa, terá o meu gabinete aberto. Não é aqui que vou responder”, defendeu o treinador do Sporting.

Por fim, Rúben Amorim afastou as questões sobre a possibilidade de ter o lugar em risco. “O que está em causa é uma época. É perigoso quando se mete todas as fichas numa época e depois não corre bem, é perigoso para os clubes. Aqui, no Sporting, está a acontecer um pouco ao contrário. Estamos a salvaguardar o futuro do clube. Um clube não é bom, mau ou vai abaixo por uma época desportiva. O lugar do treinador é que está sempre em risco num clube desta dimensão. Não mudo a minha opinião: até podemos ter 10 derrotas nos próximos 10 jogos, o Sporting está a fazer o caminho que deve fazer”, terminou.