A Câmara de Arouca e a Universidade de Coimbra comprometem-se na quarta-feira a editar o “Diplomatário do Mosteiro de Arouca”, que até 2030 tornará públicos documentos referentes a 620 anos de vivência nesse monumento do distrito de Aveiro.

Lançada faseadamente em 10 volumes a partir de 2023, a obra ficará disponível em papel e formato online, reunindo todos os documentos que, desde 883 até 1503, aludem ao imóvel e a diferentes aspetos da sua atividade na Idade Média.

O município e a universidade adiantam à Lusa que o Mosteiro de Arouca será assim, em Portugal, “o primeiro a ter toda a sua documentação publicada e disponível em livro e em edição eletrónica”, o que viabilizará a respetiva consulta a partir de qualquer ponto do mundo, “em regime de ciência aberta”.

A presidente da Câmara Municipal de Arouca, Margarida Belém, defende que o Diplomatário constituirá uma obra essencial para a memória do território e do seu ex-líbris, mas também reconhece ao projeto potencial de futuro. “Disponibilizará novos conhecimentos que, além do seu valor intrínseco, podem propiciar saberes aplicáveis nos planos do turismo e da preservação do património material e imaterial da região, trazendo merecidos benefícios económicos para o concelho”, justifica a autarca.

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A investigação e respetiva publicação serão conduzidas pelo Centro de História da Sociedade e da Cultura da Universidade de Coimbra, que, sob a coordenação científica de Helena Cruz Coelho e de Luís Miguel Rêpas, já vem analisando não apenas os arquivos do Mosteiro de Arouca, mas também materiais depositados em diversas outras instituições.

São milhares de documentos, em Latim e em Português, conservados em arquivos nacionais e estrangeiros”, realça o historiador José Pedro Paiva, da mesma equipa universitária.

Dessa forma, o Diplomatário compilará “todos os textos que servem de base à história de Arouca, dos arouquenses e do seu mosteiro, e que se revestem, igualmente, da maior importância para, por exemplo, se conhecer melhor a história de muitas prestigiadas famílias portuguesas”.

Essa perspetiva específica deve-se ao registo de que grande parte da nobreza nacional fez as suas mulheres professorarem no Mosteiro de Arouca, que, segundo o historiador, era apontado pelo rei D. Duarte como “o princçipall destes rregnos”.

A Direção Regional de Cultura do Norte confirma que, embora o Mosteiro de Arouca tenha chegado a acolher monges, foi “exclusivamente feminino” a partir de 1154, consolidando a sua reputação religiosa e formadora no século XIII, depois de nele ter ingressado D. Mafalda, filha de D. Sancho I — ainda hoje sepultada no imóvel.

José Pedro Paiva acrescenta que, na Idade Média, a relevância do Mosteiro de Arouca “só era comparável à do Mosteiro de Santa Cruz e do Mosteiro de Alcobaça” — apontando como prova disso o facto de que, até Afonso III, foi em Arouca que “todos os reis portugueses se fizeram sepultar”.