O marido da grávida que morreu depois de ser transferida do hospital de Santa Maria para o de São Francisco Xavier afirmou, esta segunda-feira, que o hospital não justificou a transferência com a falta de vagas.

Grávida morre após transferência de hospital por falta de vaga

Em declarações à CNN, Satgur Singh, que veio com a mulher para Portugal há 15 dias, pede respostas. O homem, de 35 anos, garante que a gravidez da esposa prosseguia normalmente e diz não compreender o quadro de hipertensão arterial declarado no relatório hospitalar. “Ela não estava a sofrer de qualquer problema, era uma grávida normal. Às vezes sentia dores de cabeça, mas nada de pressão arterial”, explicou.

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Antes de vir da Sérvia para Portugal, a mulher, grávida de 31 semanas, já estava a receber acompanhamento e os relatórios nunca indicaram quaisquer complicações no estado de saúde, apenas referiam que o bebé era pequeno, indicou Singh.

Estou mal porque estou a viver duas situações difíceis: a morte da minha mulher e a minha bebé internada.”

O casal foi atendido pela primeira vez num hospital português na madrugada de terça-feira quando, no hotel, a mulher começou a sentir-se mal. “Ela começou a vomitar e a sentir-se mal. Chamei uma ambulância, mas esta não chegava. Tentei ligar três vezes e fui de táxi”, adiantou. Segundo Singh, só foram informados sobre a transferência de hospital 12 horas depois de terem dado entrada em Santa Maria. A decisão foi entretanto justificada com uma falta de vagas no serviço de neonatologia, mas o viúvo diz que não foi avisado dessa explicação.

A mulher, de 34 anos, teve uma paragem cardiorrespiratória quando estava a ser transferida de ambulância do Hospital de Santa Maria para o de São Francisco Xavier, por não haver vagas na neonatologia na primeira unidade hospitalar para internar o bebé após o parto ser induzido.

A equipa multidisciplinar de obstetrícia e neonatologia de Santa Maria já veio prestar esclarecimentos sobre o caso. Luísa Pinto, diretora de obstetrícia, referiu que a mulher foi atendida no hospital e ficou a ser vigiada durante várias horas. Devido à falta de vagas no serviço de neonatologia, a equipa decidiu fazer a transferência. No entanto, a responsável garante que nada indicava que pudesse haver complicações durante o transporte e que foram “tomadas todas as medidas” necessárias. “Não era de todo expectável a paragem cardiorespiratória” durante a deslocação, garantiu a médica, que acrescenta que “a mãe não carecia de internamento em cuidados intensivos no momento em que foi transferida”.

“Não era de todo expectável a paragem cardiorespiratória.” As explicações do Santa Maria sobre grávida que morreu após transporte

O caso já levou à abertura de três processos, nomeadamente um inquérito pelo Ministério Público (MP) um processo administrativo determinado pela Entidade Reguladora da Saúde (ERS) e uma inspeção instaurada pela Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS). O MP determinou também a realização de uma autópsia médico-legal à grávida, segundo informação confirmada pela Procuradoria-Geral da República ao Observador.

Ministério Público, IGAS e ERS abrem investigações à morte de grávida após transferência de hospital por falta de vaga