Costuma olhar para o rótulo dos alimentos que tem em casa? Se a sua resposta é “sim”, com certeza já se deparou, na lista de ingredientes, com aditivos alimentares. Estes estão presentes em muitos dos alimentos que incluímos na nossa dieta diária e podem ter diversos objetivos, desde aumentar o período de vida útil do produto, a melhorar a sua textura, conferir cor ou sabor.

Os aditivos alimentares, podem ser referidos no rótulo de mais do que uma forma: além da sua função, devem ser indicados pela classe funcional e nome específico do aditivo alimentar (por exemplo, “corante – curcumina”) ou pelo número E (por exemplo, “corante: E 100). E porquê utilizar estes números para designar o aditivo? Para simplificar. Por vezes, são substâncias que têm nomes químicos complexos. Enquanto consumidores, quando nos deparamos com ingredientes que nos são desconhecidos ou denominados por números, é natural que questionemos se são seguros para a nossa saúde ou até se esse alimento será uma boa escolha. Mas, se os comemos, temos de os conhecer. Por isso mesmo, está na hora de desmistificar os aditivos alimentares e perceber se há riscos associados ao seu consumo.

O que são, afinal, aditivos alimentares?

Em primeiro lugar, importa esclarecer o que são estas substâncias. Existem 26 classes funcionais de aditivos alimentares e mais de 300 tipos diferentes aprovados e considerados seguros pela União Europeia. Estes podem ser utilizados com diferentes objetivos durante a preparação dos alimentos: adoçar, preservar/conservar, dar cor ou sabor, entre outros. A legislação da União Europeia tem a sua própria definição de aditivos alimentares: “qualquer substância não consumida habitualmente como género alimentício em si mesma e habitualmente não utilizada como ingrediente característico na alimentação, com ou sem valor nutritivo, e cuja adição intencional aos géneros alimentícios, com um objectivo tecnológico, na fase de fabrico, transformação, preparação, tratamento, embalagem, transporte ou armazenagem, tenha por efeito, ou possa legitimamente considerar-se como tendo por efeito, que ela própria ou os seus derivados se tornem directa ou indirectamente um componente desses géneros alimentícios”, lê-se no site da Comissão Europeia.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Ou seja, os aditivos são adicionados aos alimentos para melhorar determinadas características. Acima de tudo, o consumidor deve ficar a ganhar com o uso de aditivos alimentares. Isto porque, segundo a legislação que vigora na União Europeia, os aditivos devem apresentar vantagens para quem os consome, como a preservação nutricional dos alimentos ou melhoria das suas características organoléticas (cor, aroma, sabor, textura), sem que corra o risco de indução em erro em relação ao alimento.

Tipos de aditivos alimentares

Os vários aditivos alimentares podem ser agrupados em 26 classes funcionais, sendo que um único aditivo pode ter várias funções e, por isso, ser incluído em mais do que uma das categorias abaixo listadas:

1. Edulcorantes (ou adoçantes)
2. Corantes
3. Conservantes
4. Antioxidantes
5. Reguladores de acidez
6. Espumantes
7. Levedantes químicos
8. Sais de fusão
9. Agentes de transporte
10. Agentes de revestimento
11. Agentes de tratamento da farinha
12. Acidificantes
13. Intensificadores de sabor
14. Agentes de volume
15. Estabilizadores
16. Gelificantes
17. Humidificantes
18. Antiespumas
19. Sequestrantes
20. Amidos modificados
21. Gases de embalagem
22. Antiaglomerantes
23. Emulsionantes
24. Agentes de endurecimento
25. Propulsores
26. Espessantes

Infografia: Joan Figuerôa

Os aditivos alimentares são seguros?

Os aditivos alimentares não são todos iguais. Enquanto alguns já foram associados a efeitos adversos para a nossa saúde — devendo, por isso, ser evitados —, outros são seguros e podem ser ingeridos com um risco mínimo.

É importante ter em consideração que todos os aditivos utilizados nos nossos alimentos são sujeitos a uma rigorosa avaliação de risco efetuada na União Europeia, pela Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos (EFSA) precisando de cumprir vários requisitos, para que o seu uso seja autorizado, com vista à salvaguarda da saúde do consumidor. Em alguns deles é, por exemplo, necessário demonstrar que a sua utilização nos produtos em que esta é permitida (isto é, que se justifica), que é segura nas quantidades utilizadas e que não induz o consumidor em erro. Além disso, é também regulamentado em que alimentos específicos podem ser utilizados determinados aditivos alimentares, as condições de utilização e os teores máximos de utilização. Nem todos os aditivos alimentares podem ser utilizados em qualquer género alimentício.

Nessas avaliações, é alvo de análise a:

– interação dos aditivos com os alimentos aos quais são adicionados;
– forma como os aditivos alimentares podem ou não afetar o nosso corpo, quando ingeridos;|
– quantidade que pode ser consumida de forma segura todos os dias na nossa dieta.

Os mais de 300 aditivos que foram aprovados e declarados como seguros pela União Europeia (UE), estão listados no Anexo II e III do Regulamento (CE) nº1333/2008 do Parlamento Europeu e do Conselho de 16 de dezembro.

A lista de aditivos, e das próprias classes funcionais, permitidos está constantemente a ser atualizada, tendo em conta novos dados científicos ou avanços tecnológicos. À medida que vão sendo feitas reavaliações de segurança dos aditivos alimentares pela EFSA, é possível que algumas destas substâncias sejam removidas da lista de aditivos autorizados pela UE ou até que os teores máximos sejam alterados/reduzidos.

De salientar que, apesar da identificação dos potenciais efeitos adversos de alguns aditivos, eles são considerados seguros se consumidos dentro dos valores legalmente estabelecidos.

Alguns compostos naturais são usados como aditivos

Os aditivos alimentares não são apenas substâncias artificiais. Alguns deles formam-se naturalmente em alimentos ao mesmo tempo que a sua adição a outros alimentos enquanto aditivo alimentar é permitida. Por exemplo, a maçã contém uma série de substâncias naturalmente presentes, mas que podem igualmente ser usadas em alimentos como aditivos:

–       Riboflavinas (E 101);
–       Carotenos (E 160a);
–       Antocianinas (E 163);
–       Ácido acético (E 260);
–       Ácido ascórbico ou vitamina C (E 300);
–       Ácido cítrico (E 330);
–       Ácido tartárico (E 334);
–       Ácido succínico (E 363);
–       Ácido glutâmico (E 620);
–       L-cisteína (E 920).

Natural é sempre bom?

A resposta a esta questão é muito simples: não, natural nem sempre é melhor ou mais seguro para a nossa saúde. Por exemplo, existem algumas substâncias que se formam naturalmente nos alimentos e que podem ser prejudiciais. É o caso, por exemplo, dos glicoalcalóides ou solanina que são toxinas naturais presentes em concentrações mais elevadas nas cascas dos tubérculos. Também as lectinas, proteínas naturalmente presentes nas leguminosas, podem tornar-se tóxicas se ingeridas em excesso.

Alguns alimentos contêm mais aditivos do que outros

Ler os rótulos dos alimentos é a melhor forma de saber que aditivos alimentares estão presentes na sua composição. Contudo, fique também a saber que quanto mais transformado é um produto alimentar, maior a quantidade de aditivos alimentares autorizados e usados. Seguindo esta lógica, alimentos como hortofrutícolas frescos, leite e carne fresca poderão ter apenas alguns aditivos, enquanto nas bebidas aromatizadas e produtos de confeitaria são autorizados muitos aditivos. Por isso, da próxima vez que for às compras, já sabe: quanto menos processado e mais fresco, melhor.

Escolhas alimentares informadas

Saber aquilo que comemos é muito importante para que consigamos fazer boas escolhas na nossa alimentação. Por ter consciência dessa importância, pelo 2.º ano consecutivo a ASAE e EFSA voltam a lançar a campanha #EUChooseSafeFood.

Os aditivos alimentares são um dos temas abordados, mas pode também ficar a saber mais como diferenciar os prazos de validade e o que significam na prática e as regras de higiene alimentar que devemos adotar nas nossas casas. Porque uma alimentação saudável não pode deixar a segurança de fora.

Fontes:
https://www.dgav.pt/alimentos/conteudo/generos-alimenticios/garantir-a-seguranca-dos-alimentos/aditivos-enzimas-e-aromas/aditivos-alimentares/
https://ec.europa.eu/commission/presscorner/detail/pt/MEMO_11_783
https://www.asae.gov.pt/seguranca-alimentar/aditivos-alimentares/aditivos-alimentares-mais-relevantes.aspx
https://www.apn.org.pt/images/noticias/2022/E-book_seguranca-dos-alimentos.pdf
https://campaigns.efsa.europa.eu/EUChooseSafeFood/#/topic/pt/additives