Várias centenas de iraquianos manifestaram-se esta sexta-feira em Bagdade, poucos dias depois dos confrontos entre fações xiitas rivais que deixaram 30 mortos entre os apoiantes do líder religioso e político Moqtada Sadr.

Os manifestantes agitaram bandeiras iraquianas e exigiram, pacificamente, uma mudança fundamental no sistema político, de acordo com imagens transmitidas pelo canal de televisão estatal Iraqiya.

O Iraque ainda está sem governo e sem primeiro-ministro desde as eleições legislativas de outubro de 2021, nomeadamente porque os políticos xiitas não chegam a um acordo.

“O povo quer a queda do regime”, gritavam os manifestantes na Praça Nissour, em Bagdade, usando uma das frases da ‘Primavera Árabe’. A raiva dos manifestantes foi direcionada ao sistema político que, segundo os mesmos, paralisaram o Iraque, um país rico em petróleo mas assolado por uma crise socioeconómica.

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Alguns também gritaram frases contra o vizinho Irão, cuja “interferência” nos assuntos iraquianos é rejeitada pelos manifestantes.

Esses manifestantes dizem apoiar o vasto movimento social que eclodiu em outubro de 2019, quando milhares de iraquianos saíram às ruas para denunciar a “corrupção” da classe política e a interferência do Irão.

Esse movimento organiza esporadicamente manifestações em Bagdade. Estes protestos desta sexta-feira ocorrem num contexto de muita tensão.

No início desta semana, confrontos armados na Zona Verde de Bagdade entre partidários de Moqtada Sadr e membros do Hachd al-Chaabi, antigos paramilitares pró-Irão agora integrados às tropas regulares, causaram 30 mortes nas fileiras do pró-Sadr.

Os partidários do líder xiita invadiram o perímetro que abriga embaixadas e ministérios depois de Moqtada Sadr ter anunciado a sua “reforma permanente” da política.

Desde as últimas legislativas no Iraque, em outubro de 2021, o país ainda aguarda a nomeação de um novo chefe de Governo e a designação de um novo Presidente.

A Corrente Sadrista recusou, no fim de julho, uma candidatura ao cargo de primeiro-ministro apresentada pelo Quadro de Coordenação [pró-Irão].

De um lado, Moqtada Sadr quer dissolver o parlamento e realizar eleições legislativas antecipadas; do outro, as fações xiitas pró-Irão do Quadro de Coordenação querem impor as suas condições para esse hipotético escrutínio e exigem que haja previamente um Governo de transição.