O governador do Banco de Portugal (BdP), Mário Centeno, apontou esta sexta-feira, em Cascais, que os primeiros sinais de um aumento na inflação começaram em 2021, com razões claras, e alertou para os riscos de contágio.

“Tivemos os primeiros sinais de inflação já durante 2021 e a partir daí aumentou muito rapidamente. As razões foram muito claras […], como as dificuldades de recuperação da pandemia de Covid-19”, afirmou Mário Centeno, que falava na sessão “Inflation is Rising: What’s Next?”, no âmbito das Conferências do Estoril, na Nova School Business & Economics (SBE), em Carcavelos, Cascais.

O antigo ministro das Finanças sublinhou que não foi possível ter sucesso no que concerne a atingir uma taxa máxima de 2%, notando que até à Covid-19 esta tinha um valor baixo.

Contudo, assinalou que, houve um grande sucesso na resposta à pandemia de covid-19, com as políticas dirigidas a mitigar o respetivo impacto.

A economia “é um mundo muito complexo, uma rede complexa com milhões de conexões e vértices. A certo ponto, percebemos que algo não está a correr bem, mas não fomos capazes de fazê-la recuperar. É fácil desligá-la, mas difícil colocá-la, novamente no lugar”, acrescentou.

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Nesta sessão, Centeno lembrou que, quando se trata de um choque que, à partida, é temporário, os agentes económicos antecipam uma recuperação.

Porém, quando o choque deveria ser temporário e acaba por não ser, “os efeitos de contágio começam a ocorrer”.

O governador do BdP referiu também que o problema, durante uma crise, não é a própria, mas a forma como é feita a preparação para a enfrentar.

Neste sentido, Mário Centeno assinalou que, “felizmente”, os portugueses “preparam-se melhor para enfrentar as crises”.

Centeno quis ainda deixar uma visão “otimista” ao assinalar a recuperação económica em Portugal, com destaque para o crescimento do consumo privado.

“Uma economia que está a passar por um momento muito mau, não demonstra já este tipo de sinais”, disse.

Ainda assim, pediu “precaução”, vincando que o nível dos preços constitui um indicador fundamental no que concerne à tomada de decisões.

Na quinta-feira, Centeno já tinha defendido que não se devem implementar medidas pró-cíclicas para responder ao impacto da inflação.

“Aquilo que eu volto a apelar é para que não se promovam políticas pró-cíclicas que depois possam vir a ter que ser corrigidas com outras políticas”, disse Mário Centeno em declarações aos jornalistas à margem das conferências do Estoril.

Questionado, na altura, sobre o impacto da inflação, quando o Governo se prepara para aprovar na próxima segunda-feira o pacote de medidas de apoio ao rendimento das famílias, o responsável do supervisor bancário disse: “não devemos ser exuberantes quando a economia cresce, quando o desemprego está em mínimos históricos, quando os salários crescem mais do que cresceram nos últimos anos, quando a economia está em recuperação”.