O primeiro-ministro espanhol disse esta terça-feira que vai continuar a insistir no reforço das ligações para transporte de energia entre a Península Ibérica e o resto da Europa, depois da negativa de França a um novo gasoduto nos Pirenéus.

Pedro Sánchez disse, durante um debate no Senado espanhol, que vai “continuar a impulsionar” as interconexões energéticas “entre a Península Ibérica e o resto do continente”.

“Porque aqui não estamos a falar de uma questão bilateral entre a Península Ibérica e França, estamos a falar de como reforçar as alternativas de fornecimento energético ao conjunto da União Europeia (UE) e de como podemos pôr à disposição da UE os 30% de [capacidades] de regaseificação [da UE] que estão no nosso país e toda a aposta que está a fazer o Governo de Portugal e o Governo de Espanha na energia do futuro, que são as energias renováveis e o hidrogénio verde”, afirmou.

O Presidente francês, Emmanuel Macron, considerou na segunda-feira desnecessárias mais interconexões para transporte de gás entre a Península Ibérica e França, ao contrário do que têm defendido Portugal, Espanha e países como a Alemanha.

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Macron argumentou com questões ambientais e considerou que, por outro lado, um projeto destes não daria a resposta imediata necessária à atual crise energética e à ameaça russa de cortar o fornecimento de gás à UE.

Já hoje, um porta-voz da Comissão Europeia evitou apoiar abertamente a construção do novo gasoduto dos Pirenéus, dizendo que o futuro do projeto depende das discussões entre os países “envolvidos“.

“Neste momento, não posso dar uma posição sobre um projeto específico. É necessário que os Estados-membros e o promotor do projeto avancem sobre a viabilidade do projeto e será nesse momento que podemos assumir uma posição”, afirmou, numa conferência de imprensa em Bruxelas, o porta-voz para a Energia da Comissão Europeia, Tim McPhie, citado pela agência de notícias EFE.

Numa reação a estas declarações, a ministra espanhola com a pasta da Energia, Teresa Ribera, disse aos jornalistas que o projeto do novo gasoduto dos Pirenéus foi considerado infraestrutura prioritária pela Comissão Europeia no documento “REPowerEU” adotado antes do verão no contexto da crise energética que vive a Europa e da necessidade de diminuir a dependência do gás russo.

No entanto, o gasoduto não está na lista de Projetos de Interesse Comunitário (PIC), “que se atualiza em tempos diferentes” dos do debate que decorre neste momento, disse Teresa Ribera, para explicar as declarações do porta-voz para a Energia da Comissão Europeia.

Teresa Ribera disse também que espera que o assunto seja debatido na reunião de ministros da Energia da UE prevista para a próxima sexta-feira.

O primeiro-ministro espanhol reiterou na semana passada que Portugal e Espanha pedem há anos que se acelerem as ligações para transporte de energia entre a Península Ibérica e o resto da Europa e que se o projeto do gasoduto dos Pirenéus “não se desenvolver ao ritmo adequado“, por obstáculos colocados por França, a própria UE definiu “outra possibilidade”, que é a de uma ligação com Itália.

A Península Ibérica, por falta de ligações para transporte de energia ao resto da Europa, funciona como uma “ilha energética” e tanto Portugal como Espanha fizeram investimentos nesta área que criaram infraestruturas que agora poderiam ser usadas para fornecer outros países europeus.

No debate de hoje no Senado, Sánchez reiterou que Espanha não tem em causa o fornecimento de gás durante o inverno, atendendo à pouca dependência da Rússia, que está a cortar o abastecimento à Europa por causa das sanções aplicadas a Moscovo na sequência da guerra na Ucrânia.

Sánchez sublinhou que, porém, Espanha já adotou, no início de agosto, medidas de poupança e eficiência no consumo de energia, respondendo ao acordo europeu nesse sentido, e que vai adotar um novo pacote dentro de algumas semanas.

O governante garantiu que não serão “medidas dramáticas“, rejeitando “apagões” ou “racionamento nas botijas de gás”, mas antes “uma série de recomendações”, que não diminuirão “a qualidade de vida” dos espanhóis, ao mesmo tempo que os ajudarão “a poupar” na fatura da luz e do gás.

As medidas já em vigor desde agosto, que passam por limites na temperatura do ar condicionado em espaços públicos, restaurantes e comércios e por montras apagadas a partir das 22h00, já diminuíram o consumo de energia em 4,6%, segundo o primeiro-ministro espanhol.

Para Sánchez, todas estas medidas já deviam até ter sido adotadas há muito tempo, atendendo às alterações climáticas.

Em resposta a desafios da oposição de direita, nomeadamente, o Partido Popular, Sánchez recusou prolongar a vida das centrais nucleares espanholas e reafirmou a intenção de manter o calendário que levará a inativação de todos os reatores em funcionamento no país.