No arranque do ano político, o governo espanhol organizou um encontro entre o primeiro-ministro, Pedro Sánchez, e 50 cidadãos dos cerca de 250.000 que, desde 2019, lhe enviaram cartas nas quais expressavam dúvidas, preocupações e críticas sobre o executivo ou participaram no programa “Moncloa Aberta“. O objetivo era perceber qual a perceção que têm sobre a atual legislatura, mas a iniciativa ficou marcada por alguma controvérsia.

No evento, que decorreu na segunda-feira, cinco pessoas do grupo de 50 foram selecionados para discursar perante o primeiro-ministro no Palácio da Moncloa, na sua residência oficial. “Temos de agir agora porque em alguns anos será demasiado tarde e não poderemos fazer nada”, disse Naiara, de 18 anos, numa intervenção marcada pelo tema das alterações climáticas. O seu rosto chamou a atenção dos média espanhóis, que lembram que já tinha estado presente num encontro com Pedro Sánchez.

Segundo o El Español, os dois já se tinham cruzado em junho no programa “Moncloa aberta”, uma visita guiada no qual os cidadãos podem aprender sobre o lugar onde se reúne o conselho de ministro e onde são recebidos os chefes de Estado de outros países. A “coincidência” também não escapou ao olhar dos internautas, que estranharam a repetição nas escolhas. “50 cidadãos escolhidos ao acaso. A sorte que esta tem, que sempre lhe toca”, escreveu uma jovem no Twitter.

O governo garante, porém, que as escolhas dos cidadãos não teve por base um perfil ideológico, tratando-se inclusivamente de um processo de seleção igualitário a nível territorial. No entanto, este não foi o único rosto conhecido. O jornal 20 minutos adianta que estavam camuflados membros do Partido Socialista catalão e madrileno, entre outros. Dizem ter estado presente Marta García, vice-presidente do município de Rubí, em Barcelona, e Cristóbal Avilés, chefe de gabinete da mesma câmara municipal e ex-assessor do segundo vice-presidente do Parlamento catalão.

As críticas não tardaram a chegar. “Atreva-se a falar com os cidadãos sem um casting prévio“, atirou o líder do Partido Popular, Alberto Núñez Feijóo ao primeiro-ministro, que se mostrou ofendido. “Disse que cinco pessoas que participaram ontem num evento no Palácio de Moncloa, cinco cidadãos, eram fantoches e disse que estavam ao serviço do governo. Peço que retira essas palavras”, disse Sánchez, citado pelo jornal espanhol. Entretanto, também o presidente da câmara de Madrid se manifestou, descrevendo o encontro como um evento de “ficção, com um elenco e telepromoção”.

Os temas abordados no evento também não escaparam às críticas. As alterações climáticas, a igualdade de género, a obesidade ou as pensões estiveram em cima da mesa, mas foi notada a ausência de áreas chave como o custo da eletricidade e o aumento dos preços dos alimentos.

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