A rede espanhola de Cidades que Caminham, que na sexta-feira criará, no Porto, uma rede ibérica juntamente com o Instituto de Cidades e Vilas com Mobilidade (ICVM), defendeu esta quarta-feira que “fazer cidades mais caminháveis não é um capricho”.

Fazer cidades mais caminháveis não é um capricho. O que está em causa é a saúde das pessoas”, disse à Lusa Ana Montalbán, secretária técnica da rede espanhola de Cidades que Caminham, em antecipação ao congresso homónimo que decorre na quinta e na sexta-feira, na Fundação Manuel António da Mota, no Porto.

Segundo a responsável, que falou à Lusa por telefone, “uma cidade que caminha é uma cidade onde caminhar é agradável, porque tem um meio ambiente saudável, porque ao haver menos carros e mais árvores a qualidade atmosférica é melhor e induz a caminhar”.

Questionada acerca dos vários benefícios ambientais de uma cidade “verde”, Ana Montalbán lamentou que muitas vezes, em Espanha, em intervenções no espaço público “a árvore é um grande acessório que se coloca no final se sobrar dinheiro ou espaço, e não é uma ferramenta principal de projeto urbano, e deveria ser”.

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A arborização “é um dos pontos mais frouxos e débeis que ainda faltam no urbanismo e no desenho urbano das cidades”, considerou.

A libertação de espaço público do uso do carro é para as pessoas mas também deve ser para a arborização, para as árvores de grande porte”, advogou.

Já os parques urbanos “são fundamentais, porque constituem essas grandes ilhas verdes dentro das cidades” onde é possível “isolar-se”, mas também é importante “como se relaciona com o resto da cidade”.

“Na rede, recomendamos sempre que os parques sejam abertos. Muitas vezes temos nas cidades grandes parques, fantásticos, mas estão limitados a um ou dois acessos”, observou.

De acordo com Ana Montalbán, tal circunstância “impede, por exemplo, que não se utilize como zona de passagem”, o que “seria muito mais agradável”, permitindo também que estivessem “bem conectados para fornecer biodiversidade para dentro da cidade, às ruas e avenidas que se ligam com eles”.

Deve conectar-se com as ruas e avenidas adjacentes ao parque, e continuar a conectar-se até ao exterior da cidade, onde se pode encontrar com campos e bosques”, apontou a responsável da Rede das Cidades que Caminham.

A existência de espaços verdes contribui também para melhorias na saúde pública e individual, observando Ana Montalbán que o ato de caminhar melhora “a saúde física e mental”.

“Combate o sedentarismo, a obesidade, estimula o sistema cardiovascular, fortalece ossos e músculos, e portanto luta contra doenças, previne doenças respiratórias”, disse à Lusa.

Além disso, caminhar “combate e previne doenças do tipo mental” e “é antidepressivo”, tendo tido um papel importante, por exemplo, durante a pandemia de Covid-19.

“Do que vejo em muitas das cidades que percorro como coordenadora da rede, posso dizer, com muita pena, que aprendemos muito pouco com o período que vivemos em pandemia”, lamentou Ana Montalbán.

Segundo a responsável, durante a pandemia “havia imensas expectativas de que poderia ser uma alavanca para mudar coisas”, mas “de uma maneira genérica, tirando algumas exceções pontuais, não houve uma mudança generalizada”.

Ana Montalbán referia-se ao corte de “muitas ruas ao trânsito de forma provisória”, bem como ao “desejo de sair à rua”.

Aquelas iniciativas ficaram como exemplos isolados, e não aprendemos tanto como deveríamos ter aprendido”, observou a responsável da rede espanhola.

A estrutura conta, atualmente, com 75 municípios associados e duas deputações (entidades públicas que dão apoio aos municípios de uma província em Espanha).

Com a formalização da criação da rede ibérica, na sexta-feira, em conjunto com o ICVM, Ana Montalbán tem “como expectativa e como objetivo poder pôr em comum muitos dos recursos que se estão a formar nas duas redes”.

“Há uma quantidade de coisas que produzimos, por exemplo campanhas, informação, que será, provavelmente, uma das linhas de trabalho mais importantes desta aliança e difusão da nossa filosofia, que são comuns para Espanha e para Portugal”, detalhou.