O futebol é feito sobretudo de fases. Às vezes a mesma equipa, com o mesmo treinador, no mesmo contexto e com a mesma tática pode ser um rolo compressor com e sem bola para de seguida tornar-se o passadiço dos adversários, como tem mostrado recentemente o Liverpool. São fases, é mesmo assim. Também o Sp. Braga versão Carlos Carvalhal teve essas fases, com grandes jogos na Liga e na Europa que contrastavam com exibições talhadas ao insucesso por mais que tentasse inverter esse destino. Esta época, com Artur Jorge de regresso a um lugar que foi seu num breve como interino, os minhotos tiveram um arranque que mais parecia uma lei de Murphy invertida onde tudo o que podia correr bem, correu ainda melhor (até no mercado, por razões distintas). E era nesse momento que chegava a estreia na Liga Europa.

Depois de um início com empate frente ao Sporting que mostrou sobretudo a capacidade de resistência e resiliência de uma equipa que esteve três vezes em desvantagem e acabou com Adán a evitar a reviravolta nos descontos, o Sp. Braga teve três goleadas com o ponto comum de manter a sua baliza a zero e a marcar sempre no primeiro quarto de hora (Famalicão, 3-0; Marítimo, 5-0; Arouca, 6-0) e venceu no último fim de semana o dérbi frente ao V. Guimarães com um golo de Tormena aos 90+8′ já depois de Ricardo Horta ter falhado uma grande penalidade. Tão ou mais importante do que os resultados no plano interno, Artur Jorge construiu um grupo que respira confiança, que integrou da melhor forma os reforços e que tem prazer a jogar para a frente sabendo sempre o que fazer quando não tem bola precisa recuperar.

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“Vontade de ganhar o grupo da Liga Europa? Não altero nada [no discurso] porque acredito nos meus jogadores e na minha equipa. Temos a legitimidade de poder ambicionar que assim seja. Este é um grupo muito equilibrado, onde mais equipas poderão ter a ambição de lutar pelo primeiro lugar, somos uma delas. Passa por vencermos e sermos regulares. Maior carga competitiva? Temos preparado esse momento, é uma competição muito curta na margem de erro. Vai condicionar ao acumular jogos de Liga Europa e Campeonato mas preparámos o plantel para termos a consistência de valores individuais para que o coletivo não se sinta e possamos dar resposta agora, no domingo com o Rio Ave, na próxima quinta-feira na Liga Europa e depois com Vizela. Temos jogadores para isso”, destacara o técnico na antevisão.

Tudo o que foi pedido, a equipa cumpriu. Mais do que isso, cumpriu sem perder a qualidade de jogo em posse e sem bola, congelando todos os potenciais focos de perigo dos suecos e criando várias oportunidades que até podiam ter acabado o encontro mais cedo. Bruno Rodrigues, com uma estreia de sonho logo a marcar, foi uma das figuras a par de Fabiano, Al Musrati e Vitinha. No entanto, e mais uma vez, a dupla André e Ricardo Horta foi o fator diferenciador que coloca o futebol dos minhotos num outro patamar, com essa nuance de o internacional A, que acabou por ficar em Braga depois da longa novela com o Benfica, a mostrar o mesmo compromisso de sempre até a fazer cortes na sua área quando foi necessário, numa jogada em que acompanhou o lateral contrário e evitou que o adversário reentrasse na partida.

O Malmö, muito empurrado pelo apoio dos adeptos, até teve uma entrada interessante na partida mas o Sp. Braga não demorou a assumir o comando e a dominar por completo as incidências até ao intervalo. Fabiano (8′) e Ricardo Horta (13′) deixaram as primeiras ameaças à baliza de Diawara antes de Abel Ruíz marcar num lance em que Vitinha intercetou um passe longo de um defesa contrário mas o espanhol estava em posição irregular (18′). Com grande capacidade de ter bola e circular rápido, os minhotos quase que montavam um cerco junto à área contrária, tendo num desses lances acertado no poste por Vitinha, a desviar de cabeça um cruzamento na direita de Fabiano (22′). O golo parecia ser uma questão de tempo.

Após uma ameaça de Hadzikadunic, a rematar numa segunda bola a pingar na área ao lado da baliza de Matheus (27′), o estreante Bruno Rodrigues, a fazer os primeiros minutos da época e logo como titular, inaugurou o marcador na sequência de um canto batido por Ricardo Horta e com desvio ao primeiro poste de Paulo Oliveira e toque final do jovem central (30′). E, logo, depois, o mesmo Ricardo Horta combinou com o irmão André para uma finalização que proporcionou a defesa da noite a Diawara (32′). O Sp. Braga saía para o descanso na frente mas com futebol e oportunidades para somar mais golos.

O segundo tempo começou com Vitinha a marcar em mais um golo anulado por fora de jogo de Ruíz no primeiro remate de calcanhar antes da recarga do avançado (47′), naquele que podia ter sido um momento decisivo para o final do encontro. Não que a equipa da casa tivesse criado situações de perigo mas porque qualquer bola pelo ar ou esquema tático poderia alterar o que o jogo jogado não conseguia. No entanto, uma grande penalidade cometida sobre Sequeira e convertida por Ricardo Horta acabou de vez com as dúvidas (70′), carimbando um triunfo que reforça as aspirações minhotas ao primeiro lugar do grupo e aumenta para cinco o número de encontros consecutivos sem sofrer golos, num total de 457 minutos.