A administração da Transportes Metropolitanos de Lisboa (TML) admitiu hoje a existência de vários constrangimentos no serviço da Carris Metropolitana na Península de Setúbal, justificando-os com o incumprimento dos operadores e com a falta de motoristas.

Os novos autocarros amarelos da Carris Metropolitana começaram a operar em 01 de junho nos concelhos de Setúbal, Alcochete, Moita, Montijo e Palmela (área 4) e em 01 de julho nos de Almada, Seixal e Sesimbra (área 3), todos eles no distrito de Setúbal.

No entanto, desde as primeiras semanas de operação na Península de Setúbal, e até ao momento, foram reportadas várias queixas de passageiros, nomeadamente insuficiência de autocarros, atrasos e falta de sinalização nas paragens.

Segundo o Sindicato dos Motoristas e Outros Trabalhadores, houve também problemas operacionais, com profissionais sem indicações sobre os trajetos a realizar.

Numa entrevista à agência Lusa, o administrador da TML, Rui Lopo, reconheceu e lamentou os problemas verificados na operação da Carris Metropolitana nesses municípios, assegurando que “tudo está a ser feito para que os operadores os solucionem”.

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“O nosso balanço não é positivo. Há impacto para as pessoas daquilo que são os incumprimentos dos operadores. Todas as empresas sabiam quantos quilómetros tinham de percorrer e não cumpriram. Tinham de se ter preparado. Tinham a obrigação de entrar com os recursos humanos todos, de entrar com os autocarros todos, de entrar com os recursos tecnológicos todos e nunca disseram que não entravam”, criticou.

No entendimento do administrador da TML, a raiz dos problemas na operação da Carris Metropolitana é a “falta de motoristas”, situação “complicada de resolver em pouco tempo”.

“O maior problema de todos é a ausência de mão-de-obra, que impede a capacidade de resolver os problemas. Se tivéssemos os motoristas necessários não tínhamos os problemas que temos e conseguiríamos resolver os outros. Os outros decorrem do processo que se iniciou em 2017 com a definição das redes”, apontou.

No entanto, Rui Lopo assegurou que está a ser feito um trabalho junto dos operadores para “corrigir linhas e percursos e responder melhor às necessidades dos utentes”.

“Em Almada, por exemplo, estão a fazer-se várias correções para que, no início do início do novo ano escolar, se possa responder melhor. O serviço ficará mais adequado. Isso está a ser visto e revisto por nós”, sublinhou.

No entanto, e apesar de reconhecer o incumprimento dos operadores e de dar razão à insatisfação dos utentes, Rui Lopo ressalvou também que a dimensão da operação “é complexa” e lembrou que se verificou “uma grande alteração” no serviço que era anteriormente prestado.

“A bacia de população que servimos é de quase um milhão de pessoas. São coisas gigantes. Temos de ter noção disso. O que nós temos nos transportes na Área Metropolitana, até aqui, é um raciocínio de especialista. Na margem Sul não havia horários. As pessoas já se esqueceram como era lá atrás. Não tínhamos horários, nem fiscalização”, argumentou.

Ainda a este propósito, o administrador da TML falou do caso concreto da empresa Alsa Todi, que serve os concelhos de Alcochete, Barreiro, Moita, Montijo, Palmela e Setúbal, para relembrar que a operadora teve de enfrentar “diferendos laborais” que “prejudicaram a operação”.

“A Alsa estava, do ponto de vista técnico, em condições para iniciar a operação. É uma empresa com grande capacidade, comprou autocarros praticamente novos. Do ponto de vista do processo, não havia nada que dissesse que a Alsa Todi viria a ter problemas. Teve problemas laborais que contaminaram todo o processo, não tenho dúvidas” sublinhou.

Questionado pela Lusa sobre o início da operação da Carris Metropolitana nas áreas 1 (Amadora, Cascais, Lisboa, Oeiras e Sintra e 2 (Loures, Odivelas, Mafra e Vila Franca de Xira), prevista para o início de 2023, Rui Lopo disse que, até ao momento, “estão reunidas as condições” para que isso aconteça.

“No início do ano, aparentemente, há condições para prestar o serviço, mas nós só conseguimos dizer isso com toda a certeza no final do mês de outubro. Esse será o ponto de não retorno, pois é aí que o operador nos confirma a sua disponibilidade”, explicou.

O início da operação da Carris Metropolitana nos concelhos da margem norte do Tejo, no distrito de Lisboa (áreas 1 e 2), foi adiado para 01 de janeiro de 2023 por não estarem “garantidas as condições consideradas essenciais”.

Também numa entrevista à Lusa, o primeiro-secretário da Área Metropolitana de Lisboa (AML), Carlos Humberto, afirmou hoje que espera uma “melhoria significativa do serviço da Carris Metropolitana na Península de Setúbal já em setembro”, não excluindo a possibilidade de rescisão do contrato.

“O objetivo da AML não é multar, nem avançar para a rescisão de contratos, mas garantir uma melhoria global do serviço da Carris Metropolitana, que, acreditamos, poderá começar a verificar-se ainda no mês de setembro. Mas não deixaremos de agir, jurídica e legalmente, em relação às empresas que não estão a cumprir, porque as situações de incumprimento têm consequências graves para muitos utentes dos transportes públicos”, advertiu Carlos Humberto.

No início do passado mês de agosto, a Câmara Municipal de Setúbal e as juntas de freguesia do concelho criticaram as sucessivas falhas da Carris Metropolitana e apelaram a uma rápida normalização do serviço, face aos protestos dos munícipes setubalenses – que se mantêm, principalmente nas redes sociais -, devido ao incumprimento de horários e supressão de carreiras, muitas vezes sem aviso prévio.

Em Almada, o `Movimento Fartos´, uma organização cívica que luta por uma melhoria dos transportes públicos, também faz um balanço extremamente negativo do serviço prestado pela Carris Metropolitana nos primeiros dois meses de atividade e lamenta a ausência de resposta por parte dos operadores e da AML.

O serviço da Carris Metropolitana é assegurado na Península de Setúbal pelos operadores Alsa Todi (Alcochete, Barreiro, Moita, Montijo, Palmela e Setúbal) e TST (Almada, Seixal e Sesimbra).

A Carris Metropolitana é a marca comum sob a qual vão funcionar as operações de transporte público rodoviário na AML, gerindo as redes municipais de 15 dos 18 municípios (Barreiro, Cascais e Lisboa mantêm as operações locais) e a totalidade da operação intermunicipal dos 18 concelhos.

Para tal foi criada a empresa Transportes Metropolitanos de Lisboa, detida a 100% pela entidade intermunicipal.

A área 1 inclui Amadora, Cascais, Lisboa, Oeiras e Sintra; a área 2 Loures, Mafra, Odivelas e Vila Franca de Xira; a área 3 Almada, Seixal e Sesimbra; e a área 4 Alcochete, Barreiro, Moita, Montijo, Palmela e Setúbal.