Alexandra Andrews combina elementos que agarram o leitor, que vão desde um sentido de humor constante a uma personagem que atrai pela sua rispidez – e, depois de montado o cenário, a uma estrutura narrativa que se erige sem que se perceba bem para onde vai. Conquistada a ligação com as personagens, vem o impacto da surpresa.

No centro da narrativa temos Florence Darrow, que, aos 20 e poucos anos, quer ser escritora. Despedida do seu primeiro emprego, recebe uma proposta de trabalho quase impensável e acaba por se tornar assistente de Maud Dixon, pseudónimo de uma autora bestseller cuja verdadeira identidade ninguém conhece. Para isso, Florence tem de assinar contratos de confidencialidade e de se isolar fisicamente do mundo, indo viver para uma casa isolada no campo.

A partir daí, cria-se a personagem de Maud: pragmática, intensa, até irascível. Tem tanto de forte quanto de temível, e vemo-lo também por Florence, que vai fazendo tudo por agradar e imitar enquanto parece apenas irritar. Criada a relação, viajam as duas para Marrocos, onde Maud fará uma espécie de investigação para um romance.

A partir daqui, a acção ganha fôlego, já que o livro entra em ritmo de thriller. O leitor nunca tem mais informação do que as personagens, e por isso a surpresa que estas têm é a mesma de quem lê. Ocasionalmente, a acção parece avançar de forma demasiado rápida, criando algum desfasamento na experiência de leitura, e não permitindo um salto suave entre cenas. Tal advirá da opção da autora, que foi fazer do livro suporte para uma história que podia ser vista. Ou seja, a escrita parece desempenhar o papel de veicular a narrativa, não dando mais elementos do que um filme daria. Afinal, ao leitor cabe apenas ver as personagens em cena. Claro que as pretensões de Florence piscarão mais o olho a leitores do que a telespectadores, mas não passa disso. Mesmo as conversas entre Florence e Maud sobre literatura ficam muito aquém do que seriam as conversas de quem esventrasse um texto. Ainda assim, tudo passa ao lado porque neste romance só a acção tem espaço.

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Título: “Quem és tu, Maud Dixon?”
Autora: Alexandra Andrews
Tradução: Madalena Caramona
Editora: Editorial Presença

Páginas: 344

Essa parte está bem feita, já que a visão sobre um crime é uma e depois outra. Enquanto Florence tenta entender o que se passa à sua volta, o leitor faz o mesmo. Como acontece com Florence, também este vê alterar-se aquilo que julgava saber a priori. O leitor engana-se ao mesmo tempo que as personagens. A páginas tantas, as reviravoltas são tantas que o livro ganha um quê de telenovela mexicana, mas é isso que diverte e impulsiona o resto da leitura.

No final, a autora apresenta um desenlace satisfatório, tendo conseguido compôr todos os elementos que trouxe para a narrativa num todo orgânico, e isto se esquecermos um núcleo de personagens que aparece em Marrocos e desvia escusadamente a atenção da matéria do romance, que, neste ponto, era até o seu motor e a sua justificação. Nessa ocasião, e em virtude de a autora se ter focado em acção apenas, o romance acaba por perder por não ter dado mais densidade e estrutura às personagens. Sendo a acção rápida, também as personagens o são.

Quem és tu, Maud Dixon? cumpre o seu propósito de entreter e fá-lo divertindo. O título, que a priori atira para a questão da escrita com pseudónimo, acaba por ganhar novos contornos à medida que o romance se vai desfiando. No final, o leitor sente-se enganado e reconhece o mérito de quem o conseguiu manipular. Não sendo um romance que queira mudar o mundo ou mergulhar dentro de alguém, sempre cumpre a função a que se atirou.